terça-feira, 9 de outubro de 2012

Solidões Compartilhadas: Um poema a se pensar, de Jéssica Ribeiro dos Reis


Hoje tenho a felicidade de compartilhar pela primeira vez minhas solidões poéticas com a jovem teresopolitana Jéssica Ribeiro dos Reis, de 16 anos, aluna do 9.º ano da E. M. Alcino Francisco da Silva, local onde atualmente eu leciono.
Há uma felicidade tripla nessa solidão compartilhada. A primeira felicidade está no próprio conteúdo e rico ritmo do poema de Jéssica Ribeiro dos Reis. Como ‘aconteceu’ há tempos atrás com um eu lírico de Carlos Drummond diante do seu cotidiano (em “Poema que aconteceu”), a jovem poetisa, sempre preocupada com a musicalidade de seus poemas (nesse caso, ela me lembra mais os poetas simbolistas e místicos pós-anos 1922), nos traz um poema que se despe de preocupação com sentidos e/ou pretensões maiores e simplesmente traduz uma esperança oculta diante do cenário natural que a artista vê. Essa é a segunda felicidade que ela me traz: ler seu poema nos traz uma misteriosa esperança nesses tempos de incertezas. Poucos poetas conseguem me trazer isso sem parecerem superficiais, poucos poetas conseguem o feito deste poema que aconteceu a Jéssica Ribeiro dos Reis. E, assim, vem a terceira felicidade: ver a poetaluna amadurecendo, as solidões artísticas cada vez mais coletivas, o blog crescendo a cada compartilhamento.
Há tempos, Jéssica me pedia, já com muitos méritos, um espaço no blog, mas os que acompanham esse espaço virtual há tempos e me conhecem um pouco sabem o quanto tento ser criterioso nas escolhas (passível de erros, é claro, afinal haverá um critério subjetivo nisso, o que nos lembra que não há seleção perfeita na arte. Sei que sempre haverá algum narciso puritano que não vê qualidade na arte alheia aqui compartilhada, mas, nas solidões coletivas, o que impera absolutista é a busca do olhar coletivo, as mil formas e estilos que a solitária arte [que está para, em e é de todos nós, e que não para em poucos escolhidos, como alguns artistas evangelizam] pode, comunitariamente, oferecer aos olhos do mundo, caso o universo dispa-se de modelos autoritários de olhar as obras artísticas).
Leiamos, amigos leitores, o reflexivo poema de Jéssica Ribeiro dos Reis e deixemos essa misteriosa esperança entrar, levemente, a pensar...

Poema a pensar

A pensar eu estava, enquanto tomava um ar
Em uma pequena rampa
Observando um pássaro a voar.

Eu estava sentada e dizendo pra mim mesma:
- O que está acontecendo com essas pessoas
Que parecem não saberem amar umas as outras?

Às vezes fazemos coisas sem pensar,
Algumas boas, outras ruins,
Mas o que importa é consertar.

Agora vejo uma árvore linda,
Ela é alta e tem folhas verdinhas
Pois é! Alguns não sabem, mas é ela que nos dá vida.

Eu agora estou triste por dentro
Pois acabei de pensar que não sou nada,
Mas tenho esperança no que estou escrevendo.

Eu não sei, mas sinto que algo vai melhorar;
Será que vem daqui? Não sei. Pode ir e vir de qualquer lugar,
Apenas não sei ainda, só sei que estou a pensar...


Um comentário:

  1. " Eu agora estou triste por dentro
    Pois acabei de pensar que não sou nada,
    Mas tenho esperança no que estou escrevendo."

    Linda estrofe Jéssica!

    Também eu tenho fé nas escritas de vocês, pois se é escrita é porque de algum modo está engendrando uma ação que pode modificar algo. As vezes basta uma unica palavra para mudar o destino de alguém e eu acredito que se mudar o destino de um unico alguem pode esse alguem mudar o mundo. A arte é um dos instrumentos que mais podes facilitar essa aproximação, mesmo que a distancia. Ela transpoe barreiras que julgamos intransponível.

    Carlos, "não há seleção perfeita na arte. Sei que sempre haverá algum narciso puritano que não vê qualidade na arte alheia aqui compartilhada" - aos puritanos eu levanto o meu dedo do meio que sempre expressa algo que penso de academicismo exacerbado. Voce acredita que certa vez eu tive o desprazer de ler um comentário de uma senhora que afirmava que um homem não podia ser um intelectual só porque ele era jovem (uns 40 anos no máximo), como se a intelectualidade fosse algo adquirido pelo tempo e não pela capacidade da pessoa é mole? Quase tive um treco ao ler aquela baboseira.

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