Hoje compartilho solidões poéticas drummondianas com Juliana
Guida Maia. O poema dela que posto hoje é uma homenagem a um dos mais
fodásticos poetas brasileiros de todos os tempos: Carlos Drummond de Andrade. Em seu poema,
Juliana Guida Maia destaca as várias fases e faces do poeta: a primeira fase ‘gauche’,
o deslocado, em que o coração dele é maior que o mundo (“mais vasto é o meu
coração”); a segunda, mais comunista, na qual o poeta se volta não só a ele
como aos outros ao seu redor (“A morte do leiteiro”, etc), tanto que num poema,
ele desfaz o verso “mais vasto é o meu coração” e descreve que seu coração não
é maior que o mundo; a terceira fase, niilista, iniciada pelo livro “Claro
Enigma” (o próprio nome do livro já avisa: se o enigma é claro, ele é um nada)
e a seguinte, onde ele mescla todas as três fases anteriores, somadas a
resgates de memórias da infância e a celebração de toda forma de amor
(inclusive a erótica, segundo o poeta, “o amor natural”).
Em tempo: O poema de Juliana Guida Maia surge em ótimo
momento, pois amanhã, no Bar e Restaurante Costelão, no bairro Getúlio Vargas,
em Valença/RJ, ás 18:30h, realizaremos o “Sarau Solidões Coletivas In Bar:
Fazendeiros do Ar, Rosas do Povo e Claros Enigmas – Homenagem a Carlos Drummond
de Andrade”, celebrando os quase 110 anos de aniversário de nascimento desse
múltiplo e mais que completo fodástico poeta (Drummond nasceu em 31 de outubro
de 1902 e faleceu em 17 de agosto de 1987).
Viajemos pelos universos líricos de Drummond e de Juliana Guida Maia, amigos leitores!
Poema das QUATRO FASES
O homem que vê o mundo vê um muro
O homem constrói barreiras entre olhos e óculos
O homem ergue versos de pedras irônicas
O homem é um muro a esquerda o mundo.
(Pra que tanto mundo, meu Deus?)
O homem carrega os tijolos do mundo nas costas
O homem constrói versos para transpor pedras
O homem se enternece do mundo
O homem se enfurece pelo mundo.
(Como pesam as rosas deste mundo, meu Deus!)
O homem esvazia
mundos
O homem (des) constrói enigmas niilistas
O homem versifica as pedras destruídas do mundo
O homem é do tamanho da desesperança do mundo
(A qual mundo pertenço, meu Deus?)
O homem revisita os universos de seu mundo
O homem se (re) constrói versificando a criança
O homem pulsa em nuances mundanas
O homem é múltiplo como o mundo.
(Quantos mundos cabem no seu verso, Homem!)
bom demais
ResponderExcluirMARAVILHOSAMENTE SUBLIME
ResponderExcluirJu, que poema lindo. Não ressaltar os versos que mais gostei, como é de costume. Mas vou arriscar responder duas perguntas sob o meu ponto de vista egocentrico (claro, pois é de meu interesse rsrsr).
ResponderExcluirVoce pertence ao mundo poético que nos traz lirismo para nossas vidas. Quanto a quantos mundos cabem no seu verso, tantos quantos forem desvelados por outrem que descobre esse Homem. O código genético não se resume apenas à biologia, mas à cromossomos, ribossomos e todos os "ssomos" poéticos de Drummond. Nesse exato momento encontro mais uma filha LEGÍMA do HOMEM e nem precisará de teste de DNA, é claro o enigma.
Parabéns, Juliana! Sou amiga da Neide e vi esse blog através do post dela no FB. Gostei muito do seu poema, questionador, inspirado e inspirador. Lembrou-me o belíssimo poema de Drummond "Que coisa é homem", que é um dos meus prediletos. Solte seus versos num livro, eu o fiz recentemente e aconselho.
ResponderExcluirParabéns também aos administradores do blog por abrir esse espaço acolhedor.