sexta-feira, 3 de abril de 2015

Solidões Compartilhadas de Páscoa: A Expectativa Mortal de Lainha Loiola

Numa sexta-feira da paixão, não há nada mais apaixonante que ler um fodástico conto da fascinante escritoramiga Lainha Loiola, de Brasília/DF. Autora do blog “Uns Dias” (onde o amigo leitor pode encontrar o texto que compartilho hoje e outros no seguinte link: http://unsdiasporlainha.blogspot.com.br/), fotógrafa talentosa dona de um olhar lírico e sensualmente único (confira o @projetolaluna no instangram – eis o link para conferir as fotos no pc: https://instagram.com/projetolaluna - em breve trarei ao blog um poema meu inspirado nos ensaios fotográficos desse projeto de Lainha), Lainha nos traz um conto intimista-cotidiano sobre a sexta-feira da paixão, fugindo do lugar comum da temática religiosa (na verdade, o conto declaradamente se desvia desse viés: “Se morre em cruz todo dia.”).
Sei queres fugir do lugar comum e encontrares uma leitura fascinante, não deixes de ler o fodástico conto de Lainha Loiola, amigo leitor!  

Expectativa mortal


Era sexta-feira da paixão, mas não há nada de apaixonante. Nunca vi, paixão, é o mesmo que sofrer. Ele até pediu que aquele cálice se afastasse, mas não conseguiu. Só conseguiu ouvir um grito alto e rouco dizendo “cale-se!”. Nesse momento a cabeça rodou e a sua vista se fechou. Teve vontade de sentar no chão mas não se conteve e pensou: a carne é fraca e sempre será, a vida é curta e sempre será, o sofrimento é duro e sempre será. Se morre em cruz todo dia. Se sangra todo dia. Se abrem chagas todo dia. Ele espera que daqui a 48h seja domingo de Páscoa, regado a ovos de chocolate e vinho para que ele saia dessa sarjeta. Ele espera estar de roupas brancas e limpas, de banho tomado e cheiroso para lamber o ombro dela e sentir aquele gosto adocicado novamente (de flor).


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