quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

O meu último poema de 2014 (ou Eu eternizo meus amigos antes que leve-os contigo)

2014 parte, levando consigo vários artistas fodásticos. Só me resta nesta última postagem, homenagear aqueles que se foram e desejar um próspero – e menos trágico – ano novo.



O meu último poema de 2014 
(ou Eu eternizo meus amigos antes que leve-os consigo)

“Tudo que morre fica vivo na lembrança
Como é difícil viver carregando um cemitério na cabeça” (Biquíni Cavadão)

Ah, 2014, levaste de mim tantos amigos longíquos...
As rosas finalmente falaram, mas exalaram o perfume da morte
na vida de Nelson Ned, interrompida por ti...
Jair Rodrigues hoje faz as nuvens suingarem
e nega todo lamento por seu passamento
(“Deixe que digam, que pensem, que falem...”
– as gotas da chuva repetem sua canção mais popular)
Tommy reconstitui a formação original dos Ramones nos céus...
A voz rouca de Joe Cocker agora disputa vaga entre os trovões
das últimas chuvas em ti...
A comicidade de Robin – My capitain, my capitain! –
revelou uma melancolia profunda, mortal em ti...
Seymour interpretou um anjo absolutamente louco
e voou acima das estrelas de Hollywood,
indicado ao Oscar celeste por ti...
Hugo Carvana, o eterno malandro,
Paulo Goulart, que regia a Orquestra de Senhoritas,
Wilker, o felomenal,
também se tornaram protagonistas
dessa peça trágica escrita por ti...
Gabriel García Márquez desfila suas memórias
e seus cem anos de solidão em meio a multidão celeste...
O sorriso largado de lagarto de João Ubaldo
agora só se abre no firmamento, depois de ti...
Ivan, que sagrou e consagrou tantos ossos em versos eternos
agora é ossos e eterno também...
Ariano foi levado pros altos além dos autos da Compadecida
no mês em que o signo de Leão começava a reinar em ti...
O pássaro encantado que voava nos lábios de Rubem
levaram-no pra muito mais além das aves e dos Alves
(na nuvem em forma de sonho, em que ele agora descansa
uma lágrima de liberdade eternizada é derramada em toda chuva)...
Luciano do Valle foi promovido à Divisão Acima dos Homens
e agora narra os dribles e paixões dos craques celestes...
E até Bolaños, sempre sorridente, partiu com o menino Chaves
pras vilas celestes de Chaplin, tão longe daqui...
Ah, 2014, levaste de mim tantos amigos longíquos
que a Grande Distância já se tornou um ente querido,
mas deixaste o meu sorriso triste - triste, mas ainda sorriso,
pois nele permanece o infinito dos amigos partidos,
ainda existe poesia em mim, mesmo depois de ti!
Adeus, 2014,
preciso seguir 2015
e manter vivos aqueles que levaste de mim!

2 comentários:

  1. Parabéns , muito interessante o modo como eternizou-os.

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  2. O poema trouxe-me à memória muitas pessoas importantes que se foram em 2014 e que, memso nao as conhecendo ao vivo, respeitava e admirava.
    Que 2015 deixe que os bons permaneçam por aqui por mais tempo.
    Abraços, Yasmin - http://www.yasminbueno.com/

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