domingo, 31 de março de 2013

Na trilha (musical) dos The Killers: Yeah, eu fui no Lollapalooza Brasil 2013!!!


Escrevo com meu pé ainda meio torcido e o coração e a alma inteiros e satisfeitos. A causa deste estado físico e espiritual foi o primeiro dia do Lollapalooza Brasil 2013 (29 de março).
Há muito tempo atrás, havia comprado meu ingresso e a ansiedade para assistir a Agridoce, Of Monster and Men, Cake e The Killers era imensa. Numa aventura que se iniciou no dia 28 de março, quando conquistei a última passagem de Teresópolis para São Paulo no 22:00h, cheguei em São Paulo na manhã do dia 29 de março, dei um tempo na rodoviária, peguei informações, passei informações (por incrível que pareça, por mais turista que eu fosse, devido ao feriado da Páscoa, fui interrogado por diversos outros turistas sobre pontos em São Paulo, como se eu fosse um legítimo paulistano – deve ser o cabelo pintado de vermelho, não muito comum em outras terras, fora da capital paulista, cujo povo é reconhecido como protagonistas de um dos universos mais fashions brasileiros. Como as perguntas eram simples – é pra cá que chego no metrô? É nessa direção o Jockey Club? – me senti um autêntico paulistano passando corretamente as informações, mas o meu sotaque fluminense-caipira sempre denunciava ao interlocutor que ele havia sido informado por um ‘estrangeiro’ de Sampa) e, às 10:30, já me encontrava na fila de entrada para o Jockey Club, o local de entrada para o Festival Lollapalooza Brasil 2013. Mofei bastante na entrada – ao contrário do que dizia o site do Lolla, os portões não foram abertos às 11:00h, e sim às quase 12h.

Abertos os portões, passada a chata – mas necessária - revista dos seguranças, entregue o ingresso, lá estava eu diante de um universo imenso e fantástico, programado pra ser um paraíso onde São Paulo seria preenchida por música. De cara, vi no palco “Alternativo”, a passagem de som da banda Tokyo Savannah. Empolgados com a chegada do público, eles aproveitaram pra antecipar uma canção do show – um rock cheio de distorções, agitado e bem contemporâneo; não é do estilo que mais me agrada, porém serviu pra provocar a primeira agitação em mim.

Como as bandas iniciais não me interessavam muito, dei uma volta no espaço do Jockey Club: fui na famosa roda gigante do Lolla-Heineken e ainda ganhei de brinde um chopp Heineken (não deu porre, claro, mas já começou a enriquecer minhas memórias com a festividade transmitida pelo álcool); passei pelos stands, onde ferviam seduções consumistas – o Chilli Beans oferecia raspadinhas com descontos para a compra de seus óculos; várias pessoas aproveitavam o momento, mas eu não vim aqui pra comprar óculos – eu vim para, como a cidade de São Paulo, me preencher de música. Aproveitei as voltas pra comprar várias fichas (chamadas de pillas) para minha alimentação e bebedeira, enquanto as filas estavam pequenas, quase inexistentes – mais tarde, eu passaria por ali e veria filas extensas e quase infinitas, feliz da vida de ter me antecipado pra não passar por esses momentos tediosos.
13:50h e já estou em frente ao palco “Cidade Jardim”, onde rolará o  tão esperado Agridoce – a banda foi em Rio das Flores/RJ, num domingo, data impossível pra mim, pois viajo para o Rio no mesmo dia e trabalho em Teresópolis/RJ às segundas. Desde quando a Pitty e Martin criaram esse projeto musical paralelo, esperava ansiosamente ouvi-los ao vivo e, quando vi o nome do Agridoce no dia 29 de março, me convenci mais uma vez que havia escolhido o melhor dia do festival Lolla pra mim. Claro que o som do Agridoce, mais intimista e psicodélico, não é o mais indicado para um evento em local aberto, mas a eficiência, qualidade e carisma da banda compensam as limitações que poderiam haver. Uma palavra: fodástico!!! A banda mandou todos os sucessos do Agridoce, mais algumas inéditas e um cover bem executado de “Across the universe”, dos Beatles, para uma platéia atenta e extasiada com o som. O único porém é que achei a voz de Martin anasalada demais nas duas primeiras canções, forçada demais em comparação às versões estúdio, mas já na terceira o próprio músico e cantor já alterava o tom e ofuscava a primeira impressão que tive. Pitty anunciou ao público que este seria um dos últimos shows do projeto Agridoce e mostrou-se empolgada em saber que o festival trazia uma tradutora de libras – interessante: o Lolla escalou tradutores de libras pra todas as bandas - para as canções da banda (“legal nosso som estar chegando em outras formas pra outras pessoas curtirem. Diz pra eles: espero que estejam gostando”). Portadores de necessidades especiais ou não, gostamos muito do show do Agridoce, Pitty, eu lhe responderia se pudesse me ouvir. Deixará saudades nos seus fãs – inclusive eu - e agradeço muito aos deuses da música por terem me proporcionado a oportunidade de ouvi-los ao vivo.

Após isso, corri para o palco “Butantã”, para ouvir a fodástica “Of Monsters and Men”, banda cujo CD eu havia comprado e ouvido na véspera do festival e cujo som – bem no estilo Arcade Fire – tinha me agradado muitíssimo. O show deles é contagiante, parece que nossa alma flutua livre em correntes sonoras de êxtase coletivo. O público – incluindo eu, é claro – pulava e cantava as canções, numa celebração do show da banda, da vida, de estar ali vivo curtindo tudo isso! “Of Monsters and Men” retribuía com um show antológico, empolgante e satisfeito com a receptividade elétrica do público. A chuva iniciava seu ritual e festejava conosco, os pingos caíam sobre nossos ombros de forma tão leve que pareciam comemorar cada música executada magistralmente conosco. O show foi tão bom que, quando eles avisaram que estavam na última canção, o público claramente lamentava o fim do êxtase e continuava cantando junto e pulando nos momentos finais da banda, como se aqueles fossem os últimos momentos de curtimos as alegrias de nossas vidas. Show inesquecível. Sortudos aqueles que assistiram o show extra da banda no dia seguinte, no Side Show do Lolla que iria rolar no Cine Jóia, dia 30, às 00:30h.
A banda “The Temper Trap”, no palco “Cidade Jardim”, vista rapidamente de longe, parecia interessante, mas não estava na minha lista de favoritos. Aproveitei pra atravessar em meio ao lamaçal, ir ao banheiro, me alimentar e beber; rockeiro com IA (Idade Avançada) não para em pé sem comida e álcool. Depois, nova correria pra chegar mais próximo do palco “Butantã”, onde rolaria a tão esperada Cake. Algum tempo mofando e me espremendo, cheguei o mais próximo possível do palco. Depois de muito tempo – o show do The Temper Trap ainda rolava no outro palco quando cheguei -, o Cake chegou, ganhando uma festa de aplausos. Chegou e correspondeu fodasticamente aos aplausos: os integrantes fizeram um show antológico, interativo (o vocalista falava constantemente com o público, pedia pra cantarmos juntos com ele, etc – muita coisa que ele disse me fugiu, pois meu inglês parco não acompanhava o ritmo de sua fala; é, preciso voltar ao meu cursinho de inglês urgentemente!) e levaram o público ao delírio. Destaque para as versões de “I will survive” e “War Pigs” (esta última, tocada após diversos pedidos do público) e as fodásticas canções próprias “Short Skirt, Long Jacket” e “Never There”. Meus pés dão os primeiros sinais de IA (Idade Avançada), mas, quem quer curtir plenamente o Lolla, precisa atravessar o campo enlamaçado, a dor e todas as limitações físicas.
Após uma breve pausa, corro para o palco “Cidade Jardim”, onde rolava a estranha “The Flaming Lips”. Num espetáculo exagerado de luzes e sonoridades obscuras – confesso que achei chato demais em diversos momentos e considero muito esquisito ter visto o vocalista com uma boneca de brinquedo, como se ela exprimisse um sentimento sublime em suas composições estranhas, além do “Come on, motherfuckers!” que ele dirigiu ao público e que até agora não engoli – ninguém tem obrigação de curtir um som obscuro como o deles e aplaudi-los só porque vieram da putaquepariu! Em resumo, vão tomarnocu, motherfuckers do The Flaming Lips. Eu estava ali só pra chegar o mais próximo possível do palco para o show do The Killers (lamento, fãs do Deadmau5, mas meu objetivo era o show do The Killers e, pra conseguir ficar mais próximo, sacrifiquei a oportunidade de assistir ao Deadmau5).
Depois de muito esperar, espremido, sujo e já com o pé completamente dolorido, no meio do mau cheiro, público apertando-se, lamaçal, finalmente chego ao gran finale dessa trip: THE KILLERS!!! Yeah, os caras nem deram boa noite, já vieram mandando fodasticamente bem “Mr. Brightside” e “Spaceman”, levantando a galera, nos levando ao delírio. The Killers mataram o tédio da espera e fizeram um show mais-que-antológico. É inexprimível o que sinto quando os ouço e quando lembro deles ao vivo: é um misto de delírio e paixão agitada à flor da pele, sinto vontade de pular em calmo desespero, cantar e me surpreender calado ouvindo-os, chorar sorrindo, sentir toda dor e alegria de estar vivo, de estar ali, ouvindo-os, interagindo com eles. Meu pé já não aguentava mais nada, devo tê-lo torcido, mas – foda-se – continuo pulando e Jack Flowers e os demais integrantes do The Killers parecem trazer a sonoridade que me fará sublimar minha dor, resistir à toda dor e solidão na entrega da música, da integração com o público. Nem falo do clima, tão em delírio quanto o público – ora abafado, ora garoando -, não havia temporal ou calor em mim naquele momento; apenas um êxtase interminável. “A Durstland Fairytale” e “Runaways” não saem da minha memória; comecei a chorar por uma felicidade intensa que eu não conseguia controlar, a dor imensa e a empolgação também. Após essas músicas, me afastei do aperto de estar próximo do meio à frente do palco e assisti ao restante do show mais distante; meu coração disparava, o pé doía demais e, mesmo mais afastado, a música ainda me transportava a um mundo onde toda dor permaneceria sublimada em prol da vida eterna, da continuidade de cada canção, de cada sensação ao infinito da arte.
Terminado o show, me dirijo, na máxima velocidade que consigo fazer mancando, na direção da saída para o metrô. Me sinto o Pingüim, do filme “Batman – O retorno”, sujo, vindo do esgoto, mancando, e, apesar de toda vilania do mundo, ainda digno de estar vivo, de continuar. Sigo para a rodoviária, a dor constante no pé, o corpo castigado e a alma cada vez mais elevada; o poderoso show do The Killers matou algum monstro de fraqueza em mim e me ressuscitou mais vivo, apesar de dolorido, mais livre. Parto no ônibus de 00:10h, de São Paulo ao Rio de Janeiro, depois disso, seguirei do Rio para Teresópolis; estou vivo, estou mortalmente mais vivo do que nunca (engraçado saber que quem me trouxe essa sensação foi o show de uma banda cujo nome traduzido para o português significa “Os assassinos”). Adormeço no ônibus, sem sonhar, pois os sonhos já tinham passeado comigo pelo Lolla, estavam tão cansados e satisfeitos quanto eu.

  

4 comentários:

  1. Eu também fui!
    Se eu soubesse, a gente poderia ter se encontrado!!
    E eu teria te dado uma carona até a rodoviária, Pinguim!

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    1. Poxa,cara, valeu a força! Se der, me adiciona no face (tem um link na lateral direita do blog), que, na próxima, a gente curte a bagunça juntos!

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  2. Carlos, tive conhecimento deste espaço através da Jaqueline Cristina do Deliciosa Ilusão e é legal ver que não estou sozinho no imediatismo cibernético e poder ler textos longos, rico em detalhes, como este que foi sua experiência no Lollapalooza.
    Por coincidência, The Killers está na lista de minhas bandas alternativas favoritas, adoro Mr. Brightside, Somebody Told Me, Read my mind (esta eu literalmente "viajo") mas, infelizmente não foi desta vez que pude vê-los ao vivo. Por este motivo, foi interessante ler detalhadamente a experiência de quem foi.
    Ri alto do seu senso de humor (IA), ahah.
    Vou acompanhar seu blogue.
    Até!

    => CLIQUE => ESCRITOS LISÉRGICOS...

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    1. Camarada Christian, valeu te encontrar por aqui e receber teus comentários. Conferi o teu blog e gostei demais (umas das últimas postagens tuas, "minha palavra não é lei", acerta em cheio nas dicas a blogueiros e comentaristas sobre a 'etiqueta' na exposição de opiniões pessoais em blogs),já tô seguindo os escritos lisérgicos teus (rs tem um poeta aqui em Valença/RJ, o Alexandre Fonseca, do blog "algum canto em seu sorriso", que utiliza como pseudônimo "Lisérgico Virabossa" - também recomendo a ti esse fodástico blogueiro) e pode aguardar que já estou preparando uma postagem com o tema 2 anos para a BC que você criou. ;)
      Arte sempre!

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