Parte 1:
Come with me to Paradise !
“Venha comigo até o Paraíso / Vamos voltar novamente, /
Vamos voltar novamente! “ – esses versos da letra de música “For tomorrow”, da
banda de power metal / heavy metal Shaman (na letra original em inglês: “Come with me to Paradise / Let's return
again, / Let's return again!”) me vem à cabeça quando retorno ao Expo Center
Norte, em São Paulo /SP,
no dia 22 de setembro de 2012, para visitar a 29.ª Feira Internacional da
Música, mais conhecida como Expomusic 2012. E não é à toa que associo letras de
música da banda Shaman ao meu retorno ao Expo Center Norte, após quase um ano
da Expomusic 2011 (foi em 24 de setembro do ano passado; confiram a postagem no
link: http://diariosdesolidao.blogspot.com.br/2011/09/expomusic-2011-por-um-mundo.html ): o Shaman foi uma das principais
atrações da Expomusic 2012 e, assim como a banda, retomo uma estrada sonora
inesquecível; assim como a banda, tive um longo caminho – com muitas perdas,
mas também com muitos ganhos – pra chegar até aqui.
Em 2006, André Matos declararia o fim do Shaman, fato
efêmero se lembrarmos que Thiago Bianchi (vocal), Léo Mancini (guitarra),
Fernando Quesada (baixo), Ricardo Confessori (bateria) e Juninho Carelli
(teclado) deram continuidade à banda, em 2007, e permanecem em atividade, com a
mesma energia, até os dias atuais. A boa música não morre, amigos; como a
fênix, ela se refaz das cinzas e retorna sempre ao espetáculo da vida com cada
vez mais força. Em 2012, pouco tempo antes de embarcar no ônibus de excursão
para a Expomusic, organizado pelo músico professor e amigo José Jorge Pinheiro,
em Valença/RJ, ameacei desistir da viagem: minha companheira Juliana estava com
38,5º de febre e não podia me acompanhar no passeio; profissionalmente eu
estava com serviço até o pescoço, visto que o período marca também o final do
terceiro bimestre (uma das épocas mais infernais e estressantes para quem, como
eu, é professor), além de que viajar me custaria o sacrifício do conforto no
paraíso do descanso, pois, no domingo, dia 24 de setembro, eu teria domingo
letivo na escola – a Festa da Primavera da E. M. Alcino Francisco da Silva, em
Teresópolis/RJ (e ainda existem seres sem noção que dizem que funcionário
público não faz nada...). Mas viver é passar por obstáculos e embarquei no
ônibus, rumo ao Paraíso da Música. Yeah, leitores, come with me to Paradise!
Parte 2: In Paradise
Sabe aqueles sonhos bons que nos fazem esquecer todos os
pesadelos que já tivemos? É assim que me sinto quando meus pés percorrem mais
uma vez os stands musicais da Expomusic 2012. Não há cansaço, não há dor,
apenas música, música de todos os gêneros, estilos, música por todos os lados,
música, música!!! Estar dentro da Expomusic 2012 é como freqüentar um universo
paralelo perdido, no qual o mundo é guiado (e muito bem guiado!) por acordes de
guitarra, cordas harmoniosas de violões, vozes melodiosas, toques de baixos,
infinidades de teclados e pianos e bons solos de baterias e percussões. Já
experiente, com a Expomusic 2011 na bagagem da memória, me deixo levar pelas
melodias, mas, neste ano, estabeleço um roteiro pra não perder as principais
atrações.
Inicialmente, mais uma vez um turista solitário, guio meus
olhos pelos ouvidos (mais uma vez, como “Shaman”, que significa "aquele
que enxerga no escuro") e encontro o show de Victor Roufsen, cantor e
guitarrista cego que vê notas sublimes em canções de Skank e em músicas
próprias, alcançando melodias que todos os meus sentidos outrora eram incapazes
de perceber. Música faz isso: faz-nos perceber as nossas limitações na superação
do outro, ensina-nos que toda deficiência é efêmera e que a arte pode nos levar
muito além dos nossos limites. Com o show finalizado na eternidade, cego de
intensa e radiosa luz, Victor Roufsen recebe os carinhos da fama e sorri para
os milhões de flashes de cãmeras que ele não vê, mas que lhe dá eternidade nos
olhos dos fãs que o fotografam.
Sigo em frente e esbarro em outro estande com Andreas Kisser,
guitarrista do Sepultura, tirando fotos e distribuindo autógrafos. Entro na
fila, uau, o cara está próximo de mim, o cara é feito de carne como eu (e suas
feições me lembram as do baixista Renatinho, da banda valenciana de blues Delta
Mood)!!! Música faz isso: transforma-nos em deuses e ídolos humanos, nos faz
próximos, nos torna deuses semelhantes na arte, por mais diferentes que
sejamos.
Mais a frente, o tecladista holandês Bert Smorenburg apresenta
em seu pocket show a infinidade de músicas que ele consegue reproduzir em seu
instrumento: de Bethoven a heavy metal, de heavy metal a bossa nova, de bossa nova
a Mozart, de Mozart a progressivo, de progressivo ao infinito. “Eu posso tocar
qualquer coisa com isso!”, Smorenburg nos informa em inglês, apontando para o
teclado, e o tradutor nos traduz o que nossos ouvidos já compreendiam: a música
rompe os limites e obstáculos da geografia, da língua, dos povos; todos se
compreenderiam na Torre de Babel, se, ao invés de insolentemente falarem e
discutirem, como faziam, todos se comunicassem por música; a arte é esse nada
que é tudo: comunicar-se além das barreiras da comunicação, é tocar tudo, até o
silêncio tocante de quem te ouve.
Até o momento solitário, esbarro com Rafael Duret, amigo
músico, ex-baixista da extinta (porém, não esquecida) banda valenciana Humanos,
perdido de seu grupo de amigos. Pronto, agora a viagem solitária é coletiva!
Seguimos juntos pelos stands de música; informo-lhe que haverá show da banda
Shaman no palco da Yamaha, e os olhos fã-náticos dele brilham: “Bora pra lá,
cara!” Antes, no palco da Gianini, vemos um show de Rafael Bittencourt, guitarrista
da banda Angra. A multidão parece hipnotizada pelos acordes tocados por
Bittencourt; o som mágico dele em harmonia com o silêncio apaixonado de quem o
ouve. Ali, esbarramos com Léo Mancini, guitarrista da banda Shaman; Rafael
Duret não pensa duas vezes e tieta o cara: tira foto com ele e mostra-me pela
tela da câmera a imagem, com ares de criança feliz (sim, na música, os deuses
são de carne e osso, estão ao nosso lado, ao nosso redor e, sim, na música, nos
perdemos e nos reencontramos!).
Corremos para o palco da Yamaha e, depois de certa espera,
assistimos ao divino show da banda Shaman. Estávamos bem a frente do palco, um
show cheio de energia boa, um heavy metal levemente intimista, pulamos,
cantamos, repetimos refrões, as canções perfeitamente bem executadas; nem o
problema na mesa de som, nos instantes finais do show é capaz de modificar a
lembrança perfeita do antológico show. Estamos no paraíso, amigos leitores
(imagino que o Inferno deve ser um silêncio pesado e vazio de arte)!!! Mais
tarde, reencontramos o vocalista Thiago Bianchi cantando músicas próprias, Iron
Maiden e outras bandas que influenciaram a banda Shaman. Nesse mesmo momento,
também tietamos e conversamos com o baixista Fernando Quesada, baixista do
Shaman, e ele afirma se lembrar da gente do show do palco da Yamaha. Rafael
Duret entra em êxtase: “Cara, ele lembrou da gente!!! ELE LEMBROU DA GENTE LÁ!”
A História das Expomusics agora se divide entre o nosso fã-natismo anônimo ao
Shaman e o nosso fã-natismo reconhecido pelos músicos do Shaman. Sim, a música
nos faz isso: nos faz reconhecer o desconhecido, enxergar além, música lembra
música e todos nós somos uma canção bem ritmada chamada vida.
Procuramos, depois, o show da banda brasileira Korzus.
Reparo que o show foi riscado da programação; essa é a única música que eu não
gosto: o silêncio da ausência. Minha expectativa era grande, à espera do show
do Korzus, mas não foi desta vez... Mas a música, assim como o tempo, não para!
Mais tarde, no palco da Sonotec, encontramos o show da fodástica banda
curitibana Punkake (por sinal, que nome maneiro pra banda!), formada só por
mulheres. O som delas traz uma energia fora do comum, o estilo da vocalista
Bacabi me lembra aquelas deusas pin-ups das décadas de 1950/1960 (e ela não
para de agitar um minuto! yeah!), a música é uma mistura de estilos alucinante
(uma verdadeira punkake – como os múltiplos significados do nome da banda nos
traz). “O som delas é muito bom, cara!”, diz Rafael Duret; eu concordo pulando
em silêncio, hipnotizado pelo som da banda. No final, o prêmio: recebo das mãos
da vocalista Bacabi, o Cd “Tão sexy”, da banda (por sinal, estava ouvindo ele
há pouco: “me desculpe se te fiz voltar / culpa minha se te fiz olhar / pra mim
/ pra mim / yeah, yeah!”, fragmento do hit “Cometa” que viaja em minha cabeça).
Música é isso: é fazer-se notável, é ousar, é ir além, viajar na cauda de um
cometa, se afogar numa piscina sonora e respirar a vida como nunca imaginara
respirar tanto em toda a sua vida (essa parte final é inspirada no verso “vem
se afogar comigo...lá lá lá (wow)!”, da canção “99” , do Cd que ganhei da
Punkake).
Mais pra frente, paro extasiado diante de um show da banda
“Velhas Virgens” (caralho! São eles! Caralho! Du caralho! Puta que pariu!!!).
Eu amo o som desses caras (!!!), um misto de blues, puro rock’ roll, com
pitadas embriagantes de escracho. Estavam apenas o vocalista e o guitarrista e
o som, mesmo assim, era contagiante demais! Todos cantavam as canções, somos
todos das Velhas Virgens, somos todos um escracho, uma piada pro tempo, somos a
eternidade, somos a mesma sintonia para o infinito. Música faz isso: vivemos
demais em breves instantes, formamos uma banda para vencermos os limites da
vida e vivemos demais, curtimos demais, somos eternos mesmo que seja por um breve
momento!
E Rafael Duret e eu continuamos rodando pelos estandes,
ouvindo milhões de sons, sem noções de horas (“Cara, o tempo passou rápido
demais”, dirá mais tarde meu camarada de viagem sonora), colecionando
paletas, fotos, CDs, fazendo graça em cabines de fotos, fingindo tocarmos todos
os instrumentos musicais do universos. E seguimos os sons, seguimos a arte, até
o infinito, até a Expomusic fechar! Antes de partirmos, ouvimos André Martins e
banda cantando “Bete Balanço”: “Pode seguir a tua estrela / O teu brinquedo de
star [...]”. E seguimos as nossas estrelas (Yeah, quem vem com tudo não cansa,
amigos leitores!) e a música faz isso: partimos da Expomusic, mas o som
continua aqui, infinito dentro de nós.
Parte 3: O Epílogo que não termina
O longo retorno de volta a Valença/RJ, do meio da noite até
o fim da madrugada, a consciência de que trabalharei como um zumbi no domingo
letivo, não, nada disso importa nessa crônica. Importa que a música está aqui,
em mim; o corpo sobrevive, depois eu descanso, minha alma reencontrou o paraíso
na Expomusic 2012; o que importa é que a arte está de volta em mim pra sempre!
Esse é o poder da música, da arte: sublimar a dor, resgatar alegrias, eternizar
a vida, por mais breve que seja a nossa existência.
Esse vídeo contém um pouco do que vi na Expomusic 2012. A qualidade de áudio não é das melhores, mas vale como registro do universo múltiplo e musical da 29.ª Feira Internacional Da Música.
Cara, seus textos são sempre demais!! Valeu por ter escrito sobre a excursão, um texto assim mostra um pouquinho do que é lá dentro pra quem não teve a oportunidade de ir. É sempre um prazer sua presença nas nossas excursões, traz poesia à música e soma artes irmãs. Obrigado mais uma vez e peço a permissão de publicá-lo no blog das aulas aqui tb! Vlw!!
ResponderExcluirBlog das Aulas: http://pinheiromusic.blogspot.com
da hora doido!!! pena que o tempo passou muito rápido, poderíamos estar lá até agora!!hehe mas ano que vem tem mais. forte abraço cara!!!!
ResponderExcluirAmei a descrição do show da Punkake
ResponderExcluirEu estava lá do seu lado e vi.
Foi maravilhoso, elas são maravilhosas. Esse é o motivo pelo qual sou fã dessas meninas *-*
Parabéns pelo post!
O texto está epopeico!!! Pude sentir através de suas palavras um pouco do gostinho de estar na Expomusic.
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