terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Sobre o velho ano novo e o meu retorno sem partida (A volta dos que não foram)


Inicio as postagens de 2012 pedindo perdão aos leitores: meu temporário sumiço aconteceu devido a viagem a São Pedro da Serra, distrito de Nova Friburgo/RJ, onde passei o Réveillon. Essa parte turística da região serrana, na qual estive nos últimos dias, me somou grandes e belíssimas imagens e aventuras poéticas, porém me afastou dos meios virtuais, pois não havia conexão com a internet na área onde eu fiquei hospedado (fator que gerou férias forçadas do blog). Como João de Santo Cristo da canção “Faroeste Caboclo”, da banda Legião Urbana, conheci muita gente interessante, muitos lugares líricos e agradáveis, mas, para viver tal epopeia, sacrifiquei meu ambiente virtual, fato que não é pra se lamentar, e sim para sorrir – só estamos bem no virtual, quando sabemos viver e conviver no mundo real (meu Tio Jorge, dono de bar, já dizia: “Se estamos bem, está tudo bem!”). Me desculpem pela ausência, amigos leitores, mas desapareci para o meu bem, para a continuidade do blog, para o bem de nossa relação (às vezes, leitores e escritores precisam dar um tempo pra se reavaliarem, sentirem saudades e assim caminha nossa eterna relação amorosa pela leitura rs) e como diria os Paralamas do Sucesso, eu estive fora uns dias e trouxe tanta novidade (...)!!!
Sobre previsões para este novo velho ano (os anos novos já nascem velhos de tantas promessas impossíveis que a gente cisma de repetir sem convencer nem os nossos próprios ouvidos), não as farei – deixo isso ao site do Kibeloco que já o fez primorosamente (confiram no link:http://kibeloco.com.br/platb/kibeloco/2011/12/29/globo-com-2012/#.TvzIrQScPlI.facebook) e ao  Dr. Lisérgio Virabossa (suas previsões estão no blog do mestre Alexandre Fonseca: http://algumcantoemseusorriso.blogspot.com/p/previsoes-para-2012-pelo-dr-lisergio.html) . Não tenho a cara de pau dos videntes para sempre profetizar fatos que raramente acontecerão da forma como são previstos; nunca fui bom acertador de jogos de bicho, nem adivinhei os números da Mega Sena da virada pra gastar minhas fichas nos dados viciados da roleta do futuro. Do amanhã saberei quando ele tornar-se hoje.
Quanto às velhas promessas de ano novo, ah! como todos, sigo esse tradicional e falho ritual: após bilhões de juramentos na virada do ano, dormi o falecido 2011, sonhando acordar 2012 com a beleza permanente de Tom Cruise com retoques de photoshop e alma limpa como a de Gasparzinho; resultado: acordei pro espelho de primeiro de janeiro com o mesmo rosto que eu tinha (talvez com uma ruguinha a mais e aquela velha ressaca do novo réveillon) e meu espírito está longe de ser um fantasminha camarada. Em resumo: amadurecemos a cada dia, amigo leitor, mas não viramos totalmente outros só porque o ano virou – não se rasga uma personalidade nossa só porque jogamos a folhinha do calendário passado por uma nova; a confecção, os números com os quais simbolizamos os dias, os meses são todos iguais; a essência é a mesma e a mudança é lenta; se queremos realmente nos renovar, deixemos a hipocrisia pra trás: amadurecemos sim, mas não mudamos totalmente. A vida não retoca e virada de ano não desenha um novo ser humano: abrimos novas portas, mas os muros da individualidade – por mais que os escondamos com poucos tijolos ou novas pinturas – permanecem ali, só podem ser derrubados lentamente e não com um chute vão na efêmera euforia coletiva do fim do ano.
Sobre o mundo novo, ah! todos com “Imagine”, de Lennon, na cabeça, mas a canção sai quase calada no elitismo estrondoso dos fogos de artifícios: mais cidades em estado de alerta por causa da chuva (por sinal, Nova Friburgo é uma delas), os podres poderes continuam inatingíveis pelas tragédias e por suas corrupções, o de cima sobe e o de baixo desce, e tudo que digo não é pessimismo: é constatação, amigo leitor, abra os olhos, o estourar de sidras e champagnes não vai mudar a realidade se continuarmos achando que o mundo vai mudar porque embriagamos. Encaremos: 2012 só será diferente quando cuspirmos o pouco pão e renunciarmos ao famigerado circo; enfim, vivas ao Novo Ano e vaias à Ultrapassada Ingenuidade Festiva.
Resumindo, amigos leitores, saúdo a todos por uma humanidade melhor, por um ano novo melhor, mas lembro que continuo quase o mesmo (a mesma língua afiada na lábia macia, ou a mesma língua macia na lábia afiada, ou sintetizando: o paradoxo continua beijando os lábios da minha poesia) e nego a tradicional despedida do ano velho: nada de “adeus, ano velho” - que ele fique em nossa memória pra não nos tornarmos os novos e velhos babacas hipócritas de outroras. Que tudo se reanalise no complexo divã do ano novo que já nasceu e que, sem dormirmos de frente pro relógio psiquiatra dos tempos, nos tornemos seres humanos melhores para o bem do consultório de nossas insanas almas. Que o próximo réveillon seja apenas uma nova festa pra comemorarmos o que já mudou e não um rosário de promessas velhas pra repetirmos o que nunca se realizou. 

2 comentários:

  1. Impressionante como um simples diário de viagem se faz soar de forma poética e que prende a atenção até ao final.

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  2. Concordo contigo Carlos, jogar fora o ano velho é tornar-se tabula rasa. Não abdico de minhas experiencias vividas.

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