Hoje é o Dia Nacional da Fotografia e do Fotógrafo. Em homenagem a isso, posto o poema "Álbum de família", publicado em meu quarto livro "O último adeus (ou O primeiro pra sempre)" (2004). O texto homenageia aquele antigo artefato (hoje quase sempre as fotos são colocadas em efêmeros álbuns virtuais; poucos ainda cultuam a prática de colocá-las em álbuns), que, em nossa adolescência, morríamos de vergonha quando nossos pais e avós cismavam de mostrá-los às visitas e que, em nossa fase adulto, olhamos com certa nostalgia, morrendo de saudades das auroras de nossas vidas. Dedico esse poema a todos os fotógrafos, profissionais ou amadores - incluindo aquele tio pentelho que sempre pede pra tirar uma fotinha em toda reunião de família -, que dedicam-se a registrar em uma imagem aquilo que não conseguiríamos descrever em mil palavras.
Álbum de família
Eu vi os olhos maternos derramarem lágrimas felizes
ao sentirem o milagre da vida se concretizar
após nove meses de espera.
Eu vi as palavras nascerem dos lábios imaturos
como flores que só se abrem quando sentem
o sorriso incomum da primavera.
Eu vi os livros humanos cuidarem dos olhos estudantis
com apenas um giz, um quadro negro e um objetivo:
educar os sonhos de seus aprendizes.
Eu vi o batom vermelho engolir a boca da timidez efêmera
acelerando promessas que não poderiam ser cumpridas
nascendo do primeiro amor a primeira mentira.
Eu vi anjos urbanos queimarem suas frágeis asas
pra se entregarem aos prazeres ilusórios
dos vícios capitais.
Eu vi demônios se regenerarem dos males que fizeram
ao julgarem que o mundo giraria
em torno de nossos egocêntricos desejos.
E agora eu não vejo mais
(uma poeira do tempo cai sobre meus olhos
cada vez que chego na última página do álbum de família).
Meu amigo, acho que vou analisar esse com mais vagar. Tem alguma coisa nele que não to conseguindo sentir, apenas detectar (talvez um sexto sentido lírico, sei lá) não consegui uma imagem para descrever sem palavras.
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