“Frágil futebol: em busca de arte nos gramados”
Venezuela x Paraguai: ao vencedor as batatas
Tarde de quinta-feira, o sol se estende sobre os campos vazios; está quente, o sol nem liga para os torcedores tristes. Em algum lugar dentro de nós, em alguma Venezuela que nos habita, sentimos a injustiça: após a histórica classificação para as semifinais da Copa América 2011, ontem, a seleção venezuelana (com uma campanha muito mais heróica que a de Brasil e Argentina, duas seleções cujas tradições futebolísticas há tempos lhes são inexistentes) descobre que os campos de futebol da Argentina não são apenas ruins em seu estado de preservação; os campos também destroem sonhos.
O time de Renny Vega, Oswaldo Vizcarrondo, Cichero, Rondón e Fedor, apesar da limitação técnica, buscou o gol durante todo o jogo, praticando em alguns momentos lampejos de futebol arte (que há tempos se ausenta nos pés de jogadores de nossa seleção [nem tão ou mais europeia que] brasileira), contra uma seleção paraguaia deficiente em jogadas de ataque e campeã absoluta em retrancas covardes e antijogos violentos (o expulso meio campo Jonathan Santana é um ícone dessas jogadas peculiares na atual seleção finalista). De ofensivo no futebol paraguaio, somente as trocas de palavrões e agressividades de jogadores como Dario Verón (autor do último pênalti bem batido do Paraguai, por sinal, injustificadamente mantido até o final do jogo [sua atitude violenta com os jogadores venezuelanos foi digna de expulsão, apesar de interpretada pelo juiz como motivo apenas para mais um cartão amarelo na coleção do time de Gerardo Martino]).
Depois de um jogo regular em zero a zero, com poucos bons lances dos venezuelanos, depois de uma prorrogação em zero a zero, com muitos bons lances do time do técnico César Farias (a jogada de Cíchero, passando por quatro paraguaios, é de dar inveja a robinhos, neymares, gansos, patos e todo o zoológico futebolístico do time de Mano Menezes), a disputa dos pênaltis premiou o retranqueiro maior: vitória da seleção paraguaia do goleiro Villar (talvez, o único jogador brilhante do time atual do Paraguai). Importante registrar que a seleção venezuelana errou apenas uma das cobranças de pênaltis, fato inédito para os atuais cobradores da seleção brasileira, mais inspirados no método italiano Baggio de cobrança.
Final definida: não há mais poesia nos gramados, briga generalizada entre paraguaios e venezuelanos, algumas lágrimas para os fãs da república do adoecido Hugo Chávez, viva a retranca e covardia, deu Paraguai, adeus, Venezuela, o último verso de futebol arte morre nos olhos irados de Rondón, infeliz com a injusta desclassificação de seu time.
P.S.: Importante destacar também que o artigo que abre essa coluna “Frágil futebol: em busca de arte nos gramados” não é protagonizada pela nossa seleção brasileira (mais conhecida sintaticamente como sujeito indeterminado) e sim pelos sujeitos compostos da (cada vez mais grandiosa) seleção venezuelana.
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