domingo, 31 de julho de 2011

(Di)versões Históricas

1, 2, 3... Parabéns pra você!
O aniversário do punk

            A história do punk é controversa e fulminante como kennedys mortos numa cidade qualquer dos Estados Unidos. É violento e sensual como uma pistola sexual apontada para a rainha da Inglaterra. É disfarçado e cínico, está para o rock como Ramone (sobrenome falso usado pelo ex-beatle Paul em registros de hospedagem) está para MCartney. É rejeitado como garotos podres e ratos em cólera no porão das fábricas paulistas. É proibido como abortos elétricos em robôs da plebe rude de Brasília. São camisas de vênus jogadas em becos escuros do pelourinho da Bahia. Neste mês, o punk faz aniversário e sopra as velinhas sobre um bolo cada vez menor, vive dias verdes, chora lágrimas de nirvana e festeja com seus convidados anos de desequilíbrios na corda bamba da sociedade que ridiculariza a anarquia e o comportamento humano, natural e selvagem oculto nas caixas consumistas da massificação. Países e mídias chutam o punk como um filho bastardo, jogam-no por debaixo da mesa como comida indigesta, uma feijoada acidente, mas o punk rasteja nas bocas dos cães vira-latas, à outra margem do rio Ipiranga, onde ninguém samba, onde todos odeiam o país que originou John Travolta.
            O punk nunca foi tão homogêneo e consciente (vide “Botinada – A história do punk no Brasil”, excelente documentário sobre o movimento punk – principalmente paulista – em terras tupiniquins) quanto deliram alguns saudosistas de botina, nem foi tão violento e criminoso quanto as mídias direitistas gostam de registrá-lo e lembrá-lo. Por sinal, seu aniversário foi injustamente comemorado pelos meios de comunicação como algo remoto que mal deve ser lembrado. O “faça você mesmo”, profetizado pelo punk, prevalece nas zonas alternativas da internet e nos subterrâneos daqueles que rejeitam a hipócrita (des)ordem mundial e cresce, feroz e agressivo, na falta de submissão dos anti-heróis sem voz. O punk, por mais que seja negado pelos moralistas da sala de estar elitista, marcou sua existência debaixo dos tapetes empoeirados, lançou poeira sobre a História fingidamente ‘clean’ e derramou seus olhos secos sobre as frutas agrotóxicas do paraíso inexistente. “Punk is not dead!”, gritaria mais uma vez Cahit, protagonista do feroz filme alemão “Contra a parede”. O punk mostra seu sorriso, apesar dos dentes podres, e sopra as velinhas de seu bolo sujo como se atirasse merda no ventilador da humanidade. O mau cheiro que vem do ralo não é do punk, vem de nós mesmos, o punk pode cantar, sem remorsos ou ilusões, “1,2, 3... parabéns e fodam-se vocês!”, porque, mesmo vencido, o punk não perdeu.   

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