quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

O quarto poema pandêmico: De onde vêm os quintanares que ouves nos tempos de pandemia

Hoje, no penúltimo dia deste estranho 2021 (as lágrimas celestes insistem em relembrar os momentos turbulentos pelo qual passamos), deixo mais um dos poemas que classifiquei como pandêmicos. Escrito no meio de outubro do ano passado, o poema abaixo foi uma tentativa (meio vã, pois a pandemia se estende[u]) de trazer um ar lírico mais esperançoso, e, ao mesmo tempo, fazer uma homenagem ao universo lírico maravilhoso do Mestre Poeta-Maior Mario Quintana (ele sempre me enche de perspectivas líricas positivas em momentos conturbados, por isso sempre apelo aos seus anjos, personas e personagens, quase como uma súplica/ode/oração ao filho mais sublime de Alegrete).
Pouca coisa mudou pra melhor nos tempos logo após eu escrever o poema, mas, seja como for, fica a promessa de esperança, a súplica ao anjo ‘quintanar’ Malaquias (eu lírico do poema hoje postado) por dias melhores. Que, após a dança macabra, venha a contradança do Amor.

De onde vêm os quintanares que ouves nos tempos de pandemia

Quando vi, entre as casas, o mal surgir
Com as vestes vorazes da pandemia,
Bem que eu quis dar as asas aos humanos,
Assim como eles a mim dão-me os ombros,
Mas as nuvens, meus amores ideais,
E os pássaros, assessores alados,
Com os homens, bem menos rancorosos,
Não me deixavam fingir falsa paz:
“Olha o menininho doente ali,
Tão novinho já vai ter que partir;
Olha a Tia Tula, toda perdida,
Aflita, orando mil Aves Marias;
Olha como chora aquele Fulano
Desempregado e só como Sicrano;
Olha naquela rua, quanto assombro,
Em Cataventos, só passeia escombro;
Olha como o vírus maligno vai
Arrastando os filhos de nosso Pai!”
E, diante de tanta ladainha,
Acolhi os pedidos contrariado.
Sem grandes saberes de medicina,
Mas, pela natureza, arrebatado,
Tornei-me o vento que sopra a esperança,
Que, mascarado, no alheio ouvido canta:
“Tudo vai passar, adulta criança,
Basta te cuidares, ter segurança,
Pois o mal que, hoje, contigo dança
É mau dançarino, uma hora cansa;
Em casa ou a alguns metros de distância,
O Amor te espera para a contradança”.
Carlos Brunno Silva Barbosa



2 comentários:

  1. Magnífico! Me vem à boca: Amém! Como vem às minhas asas à espera do tempo, o bom vento da dança, desta que não cansa e faz flutuar. Está determinada a realização de seus doces versos de anjo, querido poeta! Que venha a paz.

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  2. O coração do poeta doente de esperança. Parabéns!

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