quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Solidões compartilhadas: Visitando, com os olhos fascinados, a lírica Fazenda Manacá de Gustavo

Quadro "Manacá" (1927),  de
Tarsila do Amaral, Óleo sobre tela.
Se ontem comemoramos o retorno do blog e os retornos megapoéticos de Genaldo Lial, hoje retomamos uma outra tradição lírico-bloguística: apresentar estreias poeticamente magníficas, trazer a este espaço lírico jovens e hipertalentosos poetas. Sim, hoje compartilho minhas solidões líricas com um novo (e já premiadíssimo e formidável) poeta. Seu nome é Gustavo (ainda me falta seu sobrenome lírico, mas eu não podia mais adiar aos olhos dos amigos leitores a fascinante arte deste rapaz), aluno do CEMP, representa Sapucaia/RJ, pra ser mais exato, a área da Fazenda Manacá (que nunca nem vi, mas, graças ao poema dele, já passei a amar).
Meu primeiro contato com a premiada e sublime poética de Gustavo se deu com a Professoramiga Olheira-Lírica Simone Cruz (ela é danada pra achar jovens talentos e captar poesia onde, a olhos comuns, aparenta só haver desolação e barbárie). Simone mostrou-me o poema “Fazenda Manacá”, que “ganhou um concurso de poesia”, sabendo que eu “ia gostar e valorizar”. Dito e feito: o poema, feito com esmero, lembrou-me o ritmo de Fagundes Varela (mais destacadamente “A flor do maracujá”, de autoria deste excelentíssimo poeta romântico do século XIX), o que já me encheu de admiração pelo primor técnico e musicalidade natural e ao mesmo tempo domada com rigor (ou seja, naturalizada – o leitor lê como algo natural, mas traz rimas muito bem pensadas, sublimemente planejadas e estudadas). A evocação apaixonada de Gustavo pela Fazenda Manacá me levou a colocar este lugar àqueles outros que meus olhos leitores sempre buscam poeticamente: a Itabira de Drummond, o(s) Recife(s) de Bandeira e de João Cabral de Melo Neto, a Andaluzia de García Lorca, a Goiás antiga de Cora Coralina, entre tantos outros lugares líricos-afetivos que ao Lê-los tão liricamente bem escritos tanto quero conhecer – sim, agora também visito, em sonhos de poesia, a Fazenda Manacá (como no refrão da canção “Goiatuba”, do Biquíni Cavadão, “Eu amo mesmo sem saber/ Sem ter notícia alguma de vocês/Invento a vida nos lugares/Que acho que nunca vou conhecer”). O poema de Gustavo me reanimou este velho encanto. Logo falei (naquele estilo súplica meio exigência) pra Simone Cruz: “Eu quero publicar esse poeta, eu quero publicar esse poema no blog!” Então ela me passou as coordenadas: “Ele é aluno lá de Sapucaia da Késsia, professora de Português lá em Sapucaia e aqui no Alcino. Fala com ela.” Opa, tão perto, tão acessível e eu ainda tão extático (não conhecia bem a Késsia, há pouco tempo na escola; a rotina frenética do retorno das aulas presencais impedindo momentos de respiro para falar com ela; o sentimento meu meio protagonista do conto “Felicidade clandestina”, de Clarice Lispector, quando a personagem finalmente tem em mãos o livro desejado). Demorei, esperava o momento certo pra perguntar e propor uma postagem com o poema de Gustavo, e cada vez mais sufoco, sufoco no trabalho, ah, falei de supetão e, meio afoito, mas tentando um elogio controlado (quem conhece minha personalidade exacerbada diante da arte sabe que fiz um esforço sobrenatural pra ser comedido e não assustar com meu fã-natismo fascinado por grandes obras artísticas) ao trabalho dela e de Gustavo e pedi pra ela que conversasse com o rapaz para que me permitisse que publicasse o poema “Fazenda Manacá”.
E conseguimos! E cá estamos, amigos leitores, com o premiado poema “Fazenda Manacá”, de Gustavo (mesmo sem o sobrenome dele, eu não podia mais adiar a publicação, entendem?), de Sapucaia/RJ, Gustavo da Fazenda Manacá (ou Fazenda Manacá de Gustavo? – essa dúvida me assalta tanto quanto “Marília de Dirceu” ou “Dirceu de Marília”, de Tomás Antônio Gonzaga). Leiamos e vivamos em eternos fugazes instantes admirando as belezas profundamente líricas e magníficas da Fazenda Manacá!

Fazenda Manacá

Manacá, meu Manacá
Lugar de tranquilidade
Não há barulho de carros
Diferente da cidade.

Manacá, meu Manacá
Um lugar de harmonia
Não tem praia, nem baladas
É sossego todo dia.

Meu querido Manacá,
Um lugar de alegria
Meu avô acorda cedo
E tira o leite todo dia.

Nossas vacas são bem mansas
Leite fresco ela nos dá
Como eu amo essa fazenda,
A fazenda Manacá.

Moro aqui há muito tempo
Sem querer ir para a cidade
Mas se um dia eu partir
Sentirei muita saudade.

Um lugar muito tranquilo
Um lugar de muita paz
Quem morar no Manacá
Não se esquecerá jamais.
Premiado poema de Gustavo, do 8.º A, da Fazenda Manacá, de Sapucaia/RJ.

2 comentários:

  1. Belíssimo! Impossível não sorrir ao ler um poema tão doce e gentil. Viajei junto com a musicalidade do poema ao pasto onde mora a mansidão até na hora de tirar o leite. Vi as cores do Manacá e me lembrei do seu cheiro maravilha. Bravo, Gustavo, seu poema é um encanto.

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    1. Olá, muito obrigado a todos pelo carinho. Esse pequeno e singelo poema saiu dos mais profundo dos meus sentimentos. Realmente amo morar aqui. Ass: Gustavo de Araújo Silva.

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