quarta-feira, 21 de outubro de 2020

O exílio sem título e a vida em família da mais que fodástica poetamiga Gisele Pacheco

Ontem foi o Dia do Poeta (é, eu queria ter postado antes da meia-noite para a homenagem ser plena, mas a terça-feira foi frenética; ainda não parei nem me desliguei um minuto sequer, porém, contudo, todavia, apesar de todo corre-corre, não descansaria sem deixar uma postagem nova aqui para vocês). E nada melhor para homenagear a data dos navegantes que cursam seus barcos para além do infinito que relembrar poemas antigos, que até hoje me enchem de fascínio, da mais que fodástica poetamiga teresopolitana (outrora, minha poetaluna dos meus primórdios em sala de aula, na Escola Municipal Nadir Veiga Castanheira, entre 2006 e 2008) Gisele Pacheco. 
Sim, hoje (ela deve estar com aquele sorriso de orgulho, mas disfarçando a alegria, com marra: “Finalmente, né, professor...”), depois de milênios de atraso, sim, finalmente, compartilho minhas solidões poéticas com a magnífica poetamiga Gisele Pacheco! Gisele sempre teve um talento fenomenal, um lirismo maduro muito além das limitações que encontramos, quase sempre, quando iniciamos nas veredas poéticas; era a rainha do paradoxo (domava esta ardilosa figura de linguagem a seu bel talento como poucos, tanto que sua arte, em alguns certames literários escolares, era compreendida por poucos), sempre teve um senso crítico enorme, como poderão ver na paródia da Canção do Exílio que ela construiu em parceria com a colega Pâmela, no 7.º Ano (!), e sempre foi positivamente marrenta (quem é genial pode desfilar marra; poucas artistas, como ela, podem ostentar um título internacional [3.º lugar no 1.º Concurso Internacional de Poesias Gioconda Labecca, em Campanha/MG] quando ainda cursava o oitavo ano do ensino fundamental [nessa época, eu, por exemplo, engatinhava na redação comum, pois meu despertar poético só aconteceu quando eu cursava o 1.º ano do hoje chamado Ensino Médio]). Em seu facebook, Gisele já manda o recado na descrição: “O que dizem sobre mim é apenas a perspectiva deles...” É meio que uma drummondiana seguindo o verso do mestre: "Se meu verso não deu certo, foi seu ouvido que entortou". 
Sim, os deuses da poesia gostam muito de mim, afinal, eu comecei minha carreira no magistério premiado com hipertalentosas artistalunas com personalidades líricas autênticas e iluminadas como a Gisele Pacheco. E lembrança boa é para ser compartilhada, poemas mais que fodásticos que flertam com o tempo infinito então nem se fala: ela tem toda razão, estes poemas deveriam estar aqui no blog há tempos. 
Sim, finalmente, amigos leitores, vamos curtir o lirismo magnífico e enamorado com o tempo infinito da mais que fodástica poetamiga teresopolitana Gisele Pacheco! 


Exílio sem título 

Minha terra tem políticos
Onde canta o mensalão. 
As guerras que aqui têm
Nunca lá terão.

Nossos céus são mais cinzas, 
Nossas estrelas mais amarelas, 
Nossas Várzeas têm mais prédios, 
Nossos bosques têm mais favelas.

Minha terra tem ladrões
Que cantam como sabiás.
Os ladrões que aqui roubam
Não roubam como lá.

Aqui encontro crimes
Que não encontro lá. 
Minha terra tem ladrões
Que cantam como sabiás.

(Poema escrito por Gisele e Pámela, quando estas cursavam o 7.º ano [na época, ainda chamado de 6.ª série]. Percebam desde a super originalidade irônica do título até os versos críticos ferozes. Gregório de Matos, o Boca do Inferno, está louvando o nome destas duas jovens poetas até os dias atuais!)


Vida em família

Com o doce som da voz da minha mãe a me chamar,
com a voz serena e meiga a chamar
minha irmã no meio dos manguezais a namorar
e, pobre de mim, tenho que ocultar.
Meu pai a trabalhar, trabalhar sem descansar
até que o dia chega ao fim
e todos vão se deitar
pois amanhã é um novo dia
e tudo continuará.

(Poema de Gisele Pacheco, quando ela cursava o 8.º Ano, premiado com o 3.º lugar no 1.º Concurso Internacional de Poesias Gioconda Labecca, em Campanha/MG na Categoria Juvenil [de 13 a 17 anos]. O texto foi publicado em uma coletânea. Podemos perceber no poema a influência de poema como “Infância”, de Carlos Drummond de Andrade, mas com um método completamente personalizado, que me lembra mais os poemas de Conceição Evaristo sobre suas memórias de infância. Reparem o uso incomum da gradação, tornando o poema inicialmente suave e divertido para uma criticidade mordaz ao dia a dia laborioso e inexorável do pai que trabalha sem parar e da continuidade infalível da rotina do ciclo familiar).



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