Olá, caros amigos leitores deste contemporaneamente
empoeirado blog (minhas visitas e ânimos têm sido cada vez mais raros para uma
plena continuidade), como super-herói de grandes HQs americanas, tenho morrido
e ressuscitado constantemente como escritor e atualizador das postagens deste meu
espaço lírico-virtual de confissões, nerdices, geekices, literatices e outras chat-ices (sim, no fundo, no fundo, é
assim que muitos veem a arte – quando não estão em campanhas políticas ou
posando de pimbas [pseudointelectuais metidos a bestas]; poucos trazem o germe
kamikaze-masoquista-rimbaud-maníaco-bipolar-melancólico-agressivo-ensandecido
de curtirem como eu um verdadeiro amor pela desassossegante arte, que nos salva
a partir da perdição sublime, inquietação, estranheza, espanto e gosto pela
beleza do bizarro associado ao não bizarro, e isso não é um ato de vaidade, arrogância e
superioridade - é mais um sacrifício voluntário apaixonado, até porque nós,
artistas, somos vistos como autênticos ETs [perceba que a palavra poetas traz as
3 letras que formam a sigla ETs] para a maioria da sociedade que tão
inusitadamente representamos, ironizamos, cuspimos e abraçamos).
O Mestre Poeta-Maior Ferreira Gullar dizia que a poesia vem
do espanto (ele citava isso, associando ao episódio em que sentiu dor na coluna
e, assustado, percebeu a importância desta, tornando-a matéria prima lírica de
um poema seu). E meu retorno está associado a este sentimento ferreira
gullarniano de inspiração: o espanto. Recentemente, passei por uma possível
virose muito próxima da Covid-19: tive dores no corpo todo, falta de olfato e de
paladar (descartei a doença da mais recente pandemia pela ausência de febres e
problemas respiratório). As dores no corpo, após alguns dias, passaram, mas
ainda sofro com os resquícios da falta de olfato e de paladar. E aí veio o
lírico espanto: a percepção da falta dos dois sentidos, o susto do novo normal
sem sabores e cheiros.
Isso trouxe-me à memória o apocalíptico, dramático e
sublimamente romântico filme, com o irônico título de “Perfect Sense” (no
Brasil, foi traduzido com a figura de linguagem mais implícita, mas com título ainda
icônico e maliciosamente apelativo de “Sentidos do amor”). A história é
marcante, emocionante e bem desenvolvida: Um casal vive um romance enquanto uma
estranha doença assola a sociedade. Aos poucos, as pessoas começam a perder os
sentidos humanos. Sem olfato ou audição, eles insistem na sua história de amor
e experimentam sensações desconhecidas. A grande ironia paradoxal do filme é
que o protagonista Michael, interpretado pelo mais que fodástico Ewan McGregor,
outrora constante escapista de relações amorosas duradouras, finalmente
encontra o amor por alguém (a também protagonista Susan, interpretada pela mais
que fodástica – fã da exposição de nudez de seus belos seios [ainda não vi um
filme em que ela o oculte] Eva Green), logo quando os seus sentidos humanos estão
sendo perdidos. É um daqueles filmes que estão no meu top 10 dos mais
emocionantes e fodásticos a que já assisti. Marcou-me tanto que me inspirou um
poema. Aproveito para deixar-lhes o link de um blog parceiro, o mais que fodástico Sonata Première, para que possam assistir ao filme aqui recomendado: https://sonatapremieres.blogspot.com/2012/04/sentidos-do-amor_1676.html
No meu poema, intitulado “O sentido do amor na falência de
sentidos”, diferente do enredo do filme, a perda de sentidos humanos ocorre à
medida que a relação amorosa humana vai sendo perdida (sim, dei toda essa tradicional
volta alucinada como introdução para o poema que compartilharei hoje; se isso
não lhe fez sentido, bem, acho que é meio novato[a] aqui nas postagens do blog,
pois sempre faço assim, mas, nesse caso especial, sentir falta de sentido tem
muito sentido para o poema e para tudo que escrevi até o momento). Em 15 de outubro
de 2018, meu poema “O sentido do amor na falência de sentidos” foi selecionado
no II Concurso Literário da Fundação Cultura Barra Mansa (FCBM) e da Biblioteca
Municipal Adelaide Franco. Agora, em outubro de 2020, completando quase exatos 2
anos depois, o poema retoma destaque em minha memória lírico-afetiva diante
desse momento de quase rigoroso isolamento social completo (com muita carência
de relações amorosas concretas, confesso) e diante do espanto com a minha
temporária falta de alguns sentidos humanos, como o olfato e o paladar. Por
esse motivo, resolvi retornar ao blog, compartilhando esse marcante poema meu.
Espero que gostem, amigos leitores! Abraços saudosos na
distância, muito amor mesmo sem todos os sentidos e Arte Sempre!
O
sentido do amor na falência de sentidos
Carlos Brunno Silva Barbosa
lembrando-me de todos os cheiros não sentidos
e outros tantos esquecidos
como o perfume de amor em nosso último jantar a dois...
Foi assim que perdi meu olfato
- todo aroma se tornou um passado sem fragrância...
Depois veio o desespero, a agonia da solidão,
o desassossego despertando uma fome sem freio
e sem solução:
meus lábios famintos pelos teus seios fartos e macios...
Foi duro acordar sozinho e sem paladar
- o alimento mais saboroso passou a ser temperado com vazios...
Em seguida a fúria afagou minha fronte,
joguei em ti a culpa por todos os meus rompantes
e te vi ainda mais distante de mim;
o apartamento quebrado preservou apenas o teu retrato sem vida...
Em cacos, perdi minha audição
- a raiva externada passou a ecoar apenas em minha consciência culpada...
Agora só me resta a busca obstinada pelo perdão,
a corrida desenfreada pela reconciliação,
mesmo que isso me custe a visão;
por isso te abraço tão desesperado,
com o peito aberto e os olhos fechados:
preciso retomar o contato com teus lábios,
mesmo cego, surdo, sem paladar e sem olfato,
preciso reencontrar o amor, antes que eu perca o tato...
Que poema maravilhoso. Ele é tão sublimemente visceral que as imagens saltadas dele, fundidas aos sentimentos de isolamento e a quase total falta tátil do mundo real, me fizeram sentir mais fortemente meu peito. Lê-lo é sempre intensamente profundo, poeta.
ResponderExcluirBeijos.
Maravilhoso!
ResponderExcluirAdorei seu poema.Realidade da vida atual falta sentimentos falta o verdadeiro amor as pesspas.Top
ResponderExcluirGenial como sempre, e de brinde, a dica do filme!
ResponderExcluirETamigo, creio que o coronavírus te pegou sim. Fico feliz que passa bem Tenha paciência que os sentidos "químicos" (aprendi no filme) retornarão. Beijão.
Como diria a moçada: show! Show de escrita!
ResponderExcluirParabéns, mestre!
Arte Sempre!
Lindooooo demais!!! Um poema que concientiza nossa sociedade a importância do amor... Um forte abraço Artistamigo.
ResponderExcluirIntenso!
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