Há uns dias atrás, na postagem
anterior a este, trouxe ao blog o conto “Camila,Camila”, de minha autoria, premiado
na Categoria Prosa com o 2.º Lugar no Concurso do GREBAL 2017 e publicado na
Coletânea Prosa e Verso XX. Pois é, já foi gloriosa essa conquista literária,
mas a alegria só começara... Hoje posto no blog o poema “O sarau fracassado de
Dom Quixote aos olhos de Sancho Pança, seu único espectador”, premiado na
Categoria Verso com o 3.º Lugar no mesmo Concurso do GREBAL 2017 (tanto o conto
quanto o poema estão na Coletânea Prosa e Verso XX, que pode ser baixada no
site do GREBAL: http://www.grebal.com.br/
).
O poema “O sarau fracassado de
Dom Quixote aos olhos de Sancho Pança, seu único espectador” é uma homenagem ao
livro “Dom Quixote”, de Miguel de Cervantes (por sinal, uma curiosidade: é a
segunda vez que faço um poema me referindo a Dom Quixote e, nas duas vezes, fui
premiado – o primeiro [“Celeiro Dulcineia”] foi premiado em concurso da
Academia de Letras de Maringá/PR, em 2011, e pode ser lido na primeira postagem
deste blog, que possui o seguinte link: http://diariosdesolidao.blogspot.com.br/2011/07/celeiro-dulcineia.html
), uma crítica lírica aos eventos culturais cada vez mais carentes de público
e, ao mesmo tempo, uma ode não convencional aos artistas quixotescos que
resistem e insistem em realizarem saraus, mesmo nos períodos de trevas (sim,
sou eu Sancho Pança lúcido eu pessoa comum olhando eke Dom Quixote eu poeta
insano).
O poema premiado é dedicado,
principalmente, aos meus familiares, ao Sarau Solidões Coletivas e
Mestre-Poetamigo Grebalista Eternamente Lembrado J. M. Lago Leal (in memoriam),
que sempre apoiaram minhas lúcidas insanidades líricas. Também registro como
inspiração a canção “Dom Quixote”, da banda de rock gaúcha Engenheiros do
Hawaii, que possui o belíssimo refrão: “Por amor às causas perdidas / Tudo bem,
até pode ser / Que os dragões sejam moinhos de vento / Tudo bem, seja o que for
/ Seja por amor às causas perdidas”.
A luta pela arte continua,
amigos leitores! Espero que gostem do poema, assim como a Comissão do Concurso
Prosa e Verso XX do Grebal gostou! Boa leitura e Arte Sempre!
O sarau fracassado de Dom
Quixote aos olhos de Sancho Pança, seu único espectador
Por que declamas tão alto para
as paredes, se elas não te ouvem, incansável poeta?
Elas não te entendem e, mesmo
se fossem gente,
se sensibilizariam com teu tão
estranho ardor?
Nossos homens – aqui
insistentemente ausentes – são tão paredes
que agora confundes ambos, meu
louco senhor?
Fazes elos entre elas e eles
pela falta de um vocábulo impessoal mais convincente
que expresse melhor essa nossa
falta crescente
de ceder ao próximo um instante
de amor?
As paredes – cada vez mais
gente, com aquela impassividade urgente
de se manterem frígidas ao teu
calor –,
as paredes – essa nova gente,
tua ilusão de Maracanã lotado,
como se cada vazio espaço fosse
um torcedor -,
as paredes... nem elas, nem
aqueles ausentes tão insistentes
entendem esses teus versos pra
ninguém, essa tua estranha dor.
Por que insistes numa epopeia
se a sala vazia te despreza, indomável sonhador?
Qual mito ignorado te faz
encerrar o poema declamado com um sorriso de esplendor?
Como podes ser motor gigante
pra tantos moinhos de vento inoperantes,
sorridente cavaleiro andante?
Sou só eu, a falta de público e
o excesso de perguntas,
enquanto desfilas como Deus
entre invisíveis súditos, uma triste figura...
Consciente da tua
inconsciência, choro por tua alegria aflita
que preenche a rotina da
ausência, a eterna falta de um espectador.
Aplaudo teu sonho suicídio tão
cheio de vida, enquanto teus olhos de iludida turmalina
enxergam esmeraldas no sarau
vazio, na caverna pobre e sem brilho.
Como podes fazer minha mente
rocinante, outrora domada pelo deserto dominante,
ser alagada por mares incertos
de ilhas distantes
e como podes fazer de mim,
outrora Sancho Pança cheio de desesperança,
novamente uma boba criança, teu
mais fiel admirador?
Como consegues, neste mundo sem
viço, trazer-me sempre uma lágrima, um cisco
deste teu ingênuo delírio, meu
glorioso perdedor?
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