Qual escritor nunca sentiu aquela terrível fase de falta de inspiração,
aquela impotência lírica na busca de algum escrito que está na ponta da língua,
mas não sai de lá, fica preso em nós e, mesmo transbordando à nossa volta, em
todo nosso ser, não conseguimos transportar pro papel? Nem os eus líricos do
Mestre-Poeta-Maior Carlos Drummond escaparam desse momento dramático – o poema “Poesia”
mostra essa extrema dicotomia: o poema (concreto) não sai, mas o momento
transborda em poesia (abstrato). E qual escritor ousaria começar sua carreira lírica
com um metapoema (um poema que fala sobre a própria poesia)? Sim, é preciso
muito talento, criatividade e ousadia para isso e esses três elementos sobraram
no primeiro(!) poema da jovem poetamiga teresopolitana (recém-ex-poetaluna do
9.º C da Escola Municipal Alcino da
região rural de Teresópolis/RJ, afinal acabara de concluir seu ensino
fundamental neste fim de dezembro) Layza Silva.
Com aquele ar meio distraído, quase entediado e flertando com a preguiça, Layza Silva aparentava estar
cansada pra quase tudo (os intervalos eram esperados ansiosamente), porém nada
disso fez dela uma aluna ruim, jamais: mesmo fazendo-se de cansada, numa falsa
sonolência, despreguiçava e fazia as atividades com esmero (claro que tinha uma
pressãozinha básica para tirá-la da inércia, né rs), pedia socorro numa coisa
ou outra, citava coisas que investigava pela internet ou com amigos, tirava
dúvidas, participava das rodas de leitura, declamava poemas em sarau com
personalidade. Havia criatividade, sagacidade e um lirismo transbordante nela –
o abstrato estava lá, faltava realizar-se concreto. Layza sempre declarava que
não era muito ligada em escrita (meus instintos de caça talentos recebiam a
declaração com descrédito) e chegou até a confessar vontade em ser poeta, mas,
não se sabe por quê, não conseguia escrever poemas (sorria com leve desespero e
desânimo, seus olhos meio que brilhavam meio como se trouxesse uma estrela
melancólica que tinha brilho, mas não sabia como brilhar). Aproveitei a
confissão dela e lhe sugeri dois desafios: 1) largar a preguiça, concentrar-se
em quebrar a própria declaração e, consequentemente, desistir de desistir de
escrever; 2) diante disso, que usasse como ponto de partida sua própria
confissão de fraqueza, ou seja, que escrevesse um poema sobre isso, sobre não
ter inspiração, usando as figuras de linguagem e outros conteúdos que aprendeu
neste ano. Então, finalmente, seu primeiro poema saiu, formidável,
espetacularmente metapoético (só escritores maduros fazem poemas sobre o ato de
escrever poema e Layza foi ousada: já fez seu primeiro poema explorando
magnificamente o assunto!)!
Fiquei tão empolgado com o primeiro poema dela que pedi aos
artistalunos do Luz, Câmera...Alcino que fizéssemos uma adaptação do mais que
fodástico poema de Layza Silva, obra prima entregue sem título que batizei de "A
primavera sem flor na ausência de um poema”. O poema tem toda a confissão de
Layza sobre a dificuldade de inspirar-se, usando recursos que ela aprendera no
ano letivo: estão lá as figuras de linguagem, a gloriosa luta pelo verso mais
certeiro, até as orações subordinadas entraram nesse metapoema de meigo lirismo
na medida exata e leve desesperado ferrenhamente bem trabalhado contra
quaisquer dificuldades – é perceptível no poema ver a batalha poética do eu
lírico em tentar vencer (e derrubar, paradoxalmente não derrubando) a dificuldade
de encontrar inspiração.
A versão em vídeo do Luz, Câmera...Alcino!, posado logo abaixo do
poema, é inspirado nesse mais que fodástico poema "A primavera sem flor na
ausência de um poema", da poetaluna Layza Silva. Na A introdução do curta inclui o poema
"Poesia", de Carlos Drummond de Andrade (sim, tem tudo a ver com o
poema de Layza Silva, e ouso dizer que a poeta faz páreo duro com o experiente
e consagrado Mestre Poeta-Maior brasileiro). O vídeo também marca a estreia da
poetaluna Thaynara Medeiros (que já teve um poema seu adaptado pelo Luz,
Câmera...Alcino!, já postado no blog anteriormente, essa artista está em todas
as áreas artísticas!) como atriz-aluna do Luz, Câmera...Alcino! É também a
estreia de Byanca Lima nos curtas do grupo (antes ela interpretara a icônica
Arlequina no esquete "Mulher-Maravilha No Xadrez da Guerra e do Amor: A
origem da Justiça e do Super Xeque Mate", apresentado no Torneio Xeque
Mate da Escola Alcino! deste ano, evento organizado pelo Mestre-Poetatleta
Genaldo da Silva Lial). E atenção: Assistam ao vídeo até o fim, pois possui uma
cena Pós-créditos encenada por Byanca Lima!
E, assim, apresento-lhes o mais que fodástico "A primavera sem
flor na ausência de um poema", da poetaluna Layza Silva, em verso e vídeo –
tenho certeza que ficarão tão fascinados quanto eu, amigos leitores! Bom Entretenimento,
Boa Leitura e Arte Sempre!
A primavera sem flor na ausência de um poema
Não sei o que escrever,
As palavras não fluem.
Estou como uma pessoa muda
Que tudo vê e nada expressa.
É como um rio sem água,
Céu sem pássaros,
Primavera sem flor .
É tipo oração subordinada
dependente de uma oração principal inexistente.
Nada tem sentido...
Às vezes me pergunto
O que estou fazendo
E não tenho resposta.
Só queria entender por que é assim...
E, mais uma vez,
O silêncio domina
E não tenho resposta alguma
(Layza Silva – na época, poetaluna do 9.º C da Escola Municipal Alcino
Francisco da Silva)
Ficha técnica:
Título: Luz, Câmera...Alcino! apresenta:"A primavera sem flor na
ausência de um poema", de Layza Silva
Gênero: Comédia Dramática Lírica
Produção: Luz, Câmera...Alcino!
Origem/data: Teresópolis/RJ, Brasil, 2017.
Inspirado em poema homônimo de Layza Silva
Direção: Prof. Carlos Brunno
Roteiro: Autoria Coletiva
Atores:
Byanca Lima (poeta sem
inspiração)
Livia de Jesus (Musa da Inspiração)
Thaynara Medeiros (Musa da inspiração)
Poema declamado por:
Livia de Jesus
Trilha sonora:
"Tick Tock",
de Jimmy Fontanez & Media Right Productions
"Soul
Search", de Silent Partner
Figurino:
Artistalunos do Luz, Câmera...Alcino! e Prof. Carlos Brunno
Cenário: Sala de aula do 9.º A na Escola Municipal Alcino
Francisco da Silva
Apoio: E.M.A.F.S.
Gravado em novembro de 2017 na região rural de Teresópolis/RJ.
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