Desde quarta-feira desta semana, por mais que tenha
disfarçado para lidar com os compromissos cotidianos, venho me sentindo um
tanto introspectivo, guardando dentro de mim pequenas revoltas contra os deuses
que regem nossos destinos e escolhem qual é nosso momento de viver e de morrer.
Na última quarta-feira, abri, durante a tarde, um recado deixado pela escritoramiga
Mirian Santos, artistamiga que conheci quando eu lecionava nas turmas da EJA, à
noite, no CEROM. Abri a caixa de
mensagem na expectativa vã de ler um boa tarde ou bom dia ou encontrar um novo
escrito da talentosa escritoramiga, que há tempos não me apresentava uma nova
arte sua. Mas a mensagem não trazia
alegria, poesia ou alívio, e sim pesar: Mirian me dava a triste notícia que a
escritoramiga Maria Neuza Menezes de Paula havia falecido há mais de uma
semana. Lembrei-me de Maria Neusa na hora; dei aula para ela nas turmas
noturnas da EJA, no CEROM: era uma senhora super-alegre, sempre sorridente e
excelentíssima escritora, tanto que ganhara, de forma unânime, o Concurso de
Textos de Memórias da EJA, em 2012, com o seu mais-que-fodástico texto “Teresópolis
esbranquiçada pelo orvalho” (o texto é tão bom que até já usei-o em provas e exercícios de turmas de
oitavos anos no ensino relugar). A
partir de 2013, não tive muitas notícias de Maria Neusa, pois me afastei das
aulas da EJA, no CEROM, mas seu texto e sua aura cheia de vida (sempre
conversávamos durante os intervalos da aula) permaneciam eternos no recanto de
minhas melhores lembranças dos tempos da EJA. E hoje o dia me acorda meio
nublado, com uma melancólica neblina em Valença/RJ... me relembro, triste, da
Teresópolis cheia de esperança e molhada de orvalho de Maria Neusa – será que o
orvalho, outrora símbolo de beleza, tornou-se também uma lágrima da natureza,
constatando sua partida, Maria Neusa?
Acho que você me diria que não – sempre tão mais otimista que eu! -,
mesmo falecida, acho que você me diria que o orvalho continuava a ser beleza e,
talvez, também um sorriso sereno que você nos deixara após a sua partida.
Hoje deixo para os amigos leitores aquele premiado e belíssimo
texto seu, Maria Neusa. Que os vivos mantenham a esperança em seus escritos eternamente
viva na cidade partida, querida e saudosa escritoramiga.
Teresópolis esbranquiçada pelo orvalho
Teresópolis era cidade mansa,
calma, com seus pastos verdes. No inverno, mudava a sua cor, ficava
esbranquiçada pelo orvalho, parecia neve. Seus rios pareciam chorar, cheios de
água, conseguiam até peixe criar. Eram rios vivos em cujas margens nasciam flores
e todo o seu redor era colorido.
A praça da Igreja São Pedro era
de muita poeira e muitas árvores, sem decoração, mas era o melhor lugar para
brincar e, depois, na sombra das árvores, descansar. Hoje está decorada e
reservada. Suas festas não tem mais fogueira, as tardes não têm mais sombra.
A Reta, chegada principal da cidade, era
arborizada, anunciava ao turista algo especial, um contato direto com a
natureza. Que pena! O homem tirou as árvores, mas a natureza é mãe e uma mãe
não mata seu filho.
Na casa da minha irmã, passava
um rio. Eu adorava dormir lá, pois escutava barulhos de cachoeira. O Morro do
Tiro era um lugar carente e de muita gente, mas também de muita vegetação.
Hoje, onde não tem algo construído, está descampado, como se tivessem passado
uma lâmina. É lamentável! Essa é a evolução dos tempos? Será que precisa
acontecer alguma coisa para o homem entender que a conscientização é o milagre
que o mundo precisa alcançar?
Mas ainda temos o que ninguém
tem e nunca terá: um Dedo de Deus a nos abençoar!
Maria Neuza Menezes de Paula
Emocionante... e triste...
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