Yeah, hoje o blog
Diários de Solidões Coletivas faz 4 anos de existência, insistência e
resistência, e, conforme prometi há alguns dias atrás em meu facebook, farei
poemas inéditos com temas e artistas sugeridos pelos amigos leitores. Começo
com a sugestão da musartistamada Juliana Guida Maia, de Valença/RJ, que pediu
como tema/artista “Amedeo Modigliani, mais precisamente os olhos nas obras de
Modi”.
Antes de
apresentar-lhes o meu novo poema, inspirado na sugestão de Juliana (que me
permitiu retomar – depois de muito tempo afastado - o estilo neo-concreto
contemporâneo e aliar diferentes manifestações artísticas – pintura e poesia –
no mesmo poema), devo contar-lhes um pouco da minha história com o pintor
Amedeo Modigliani.
Sinceramente, durante
minha infância e adolescência, desconhecia completamente o universo fascinante
das obras do mestre-fodástico artista plástico Amedeo Modigliani. A primeira
vez que me lembro de ver esse nome foi no fim de minha juventude ao ler um
daqueles ‘meigos’ minicontos do livro “111 Ais”, de Dalton Trevisan. Eis o
conto:
"O jantar para os dois casais amigos. Na parede uma das mulheres nuas de Modigliani. Tanta festa, muito riso: o lombinho uma delícia. Até que um dos maridos:
- Essa moça do quadro. Ela sorri para você?
- É o meu consolo das horas mortas.A dona acode, oferecida:
- Ela sou eu, não é, bem?
Um murro na mesa estremece prato e espalha talher:
- Ela é você? Quando você tece esse amor desesperado nos olhos? Esse perdão infinito na boca?
Outro soco espirra vinho tinto na toalha:
- Não se conhece, sua bruxa?"
(Dalton Trevisan, in: "111 Ais")
Marcante na obra “111
Ais”, de Dalton Trevisan, o miniconto ficou na minha cabeça e me trouxe
curiosidades sobre o pintor italiano citado (tipo: “putz! não sei nada desse
tal de Modigliani”). Como em outros minicontos do livro, este trazia uma
ilustração: no caso, um desenho reproduzindo uma pintura de Modigliani.
Passei a estudar e
procurar obras de Modigliani. Nessa busca febril e fascinada, me deparei também
com o fodástico filmaço “Modigliani - A Paixão pela Vida” na locadora Total, no
Centro de Valença/RJ. A interpretação entusiasmada (super-hiper-fodástica) de
Andy Garcia como Modigliani (ou “Modi”, para os íntimos), o roteiro poético e
apaixonado pelo pintor, a histórica rivalidade entre ele e Picasso, tudo no
filme – até seus momentos sombrios e alucinados – me levaram a me encantar ainda
mais pelo revolucionário artista italiano. Consequentemente, me aprofundei
ainda mais nas obras de Modigliani e, agora com a sugestão de Juliana Guida
Maia, pude dar um passo a mais nesse mergulho modigliano.
Eis meu primeiro
presente poético para vocês, amigos leitores que estimulam minha louca lucidez
lírica e permitem a longevidade deste blog: “Os olhos nos olhos de Modigliani”.
Boa leitura e Arte
Sempre!
Os olhos nos olhos de Modigliani
I
Os
eram felinos, ariscos,
artigos bem definidos,
tinham brilhos
famintos
que devoravam minha
hesitação.
excitação... Os seus
olhos saltavam em minhas mãos
e domavam minha tela.
Os seus olhos,
jamais meus,
sempre
Os seus.
por isso rejeito
aplausos:
as palmas são para
Os seus
o
l
h
Os.
II
olhos
olhos
às vezes, negros como
noites roubando o sustento dos girassóis,
às vezes, claros como
oceanos ensolarados descansando em aquários,
mas sempre tomando a
vista inteira,
tomando vida,
me levando à cegueira,
pedaço de corpo
protagonizando a tela inteira.
III
nos
nos
contração
de
pre
posição
e
definição.
nos
liga
de elementos
dentro
entremeio
intermediário
centralizado.
nos
oblíquos
passivos
objeto
sujeito disfarçado.
nos
ponte
levadiça e perpétua
erguida
caindo
bem de
vagar.
nos
é o meu pincel
dançando
entre meus olhos
e
Os seus.
IV
olhos
olhos
alargaram os limites
de seu espaço
e choraram o infinito da
vida nas dimensões finitas de meus retratos.
V
de
pre
posição
pura
liga
Os olhos
à sua pessoa
ser artista é fazer o
poder de ter o de,
sustentar a inveja vampira,
é assinar o seu olhar
nos olhos de outros
é tomar o de de outros
pra si.
VI
Modigliani
Modigliani é apenas um
nome
metido a maiúsculo
mas minúsculo
se você olhar bem...
biógrafos negam,
mas sempre fui pintor
cego
e, refém da escuridão
plena,
desejei ardentemente
todas as visões
iluminadas.
por isso roubei
com tamanha febre
as luzes que
desfilavam
em seus olhos nublados...
biógrafos enganados
me deram holofotes
equivocados;
apenas encontrei o que
já estava localizado:
se meus olhos
brilharam
foi porque roubei as
estrelas
cultivadas em você.
Os seus olhos ávidos
pousados em meu ateliê
foram constelações que
pra mim posaram
para que meu eu cego
pudesse ver!
Valeu por ter acatado a sugestão. Amei o maravilhoso, fodástico, incrível,concreto, moderno, poético, poema-pintura-perfeito!
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