A onda de protestos que ocorre no Brasil, que
envolve, principalmente, aqueles que defendem a continuação da presidente Dilma
no poder (quase sempre chamados pelo ofensivo apelido “petralhas” – junção da
sigla “PT” com os vilões de desenho animado “metralhas”) e os que defendem o impeachment
da presidente eleita (quase sempre chamados pelo ofensivo apelido “coxinhas” – apropriado
da gíria criada em São Paulo que servia para ofender os adolescentes riquinhos,
burgueses, que usam roupas de marca, vão na famosa balada Disco, frequentam a
Starbucks), tem complicado a comunicações de fatos banais no cotidiano das
pessoas, como podemos ver nas crônicas abaixo:
Crônica Coxi-lhas 1: Por que Osteovaldo perdeu a mulher
Após uma viagem de negócios bem sucedida,
Osteovaldo chegou em casa festivo. A esposa Etelvina, petralha convicta,
recebeu o marido cheia de mimos:
- Está com fome, querido? Quer que eu improvise algo
na cozinha para você comer?
- Ah, não precisa, querida! Comi duas coxinhas no
aeroporto, estou satisfeito.
Osteovaldo foi expulso de sua própria casa pela
própria esposa a pontapés.
- E não adianta vir com intervenção militar, seu traidor,
que aqui você não entra mais e daqui ninguém me tira! – foram as últimas
palavras que ouviu da esposa, antes de Etelvina trancar a porta. Jamais ouviria
o som da voz de sua esposa novamente, nem seria ouvido por ela; Osteovaldo estava
definitivamente bloqueado na sua relação conjugal.
Crônica Coxi-lhas 2: Por que Astolfo se tornou petralha
Torcedor fanático do América/RJ, Astolfo nunca
ligou para os acontecimentos de seu país – tanto que, na última eleição, elegeu
na urna eletrônica o número 82 em homenagem ao título conquistado por seu time
de coração em 1982 (o Torneio dos Campeões, organizado pela CBF, com a presença
dos maiores clubes do Brasil). De segunda a segunda, toda vez que saía, Astolfo
usava uma das suas sete camisas do América, em defesa do não-esquecimento de
seu grande clube de coração.
Preocupado com a situação de seu time, atualmente
na segunda divisão do Campeonato Carioca, Astolfo passeava cabisbaixo pela
Cinelândia na fatídica sexta-feira, 13 de março (véspera da estréia do América
no campeonato estadual, contra o terrível rival Audax), e acabou confundido
como manifestante na aglomeração de pessoas que trajavam camisas vermelhas e
defendiam a permanência de Dilma na presidência (fato que deixou Astolfo
confuso: “mas o presidente do América não é o Léo Barros Almada?”). Puxado para
o canto por um dos manifestantes, Astolfo recebeu do apressado homem o
pagamento por sua participação no ato: R$ 35,00. Astolfo até pensou em negar a
propina (“torcer pelo América não tem preço, amigo”, pensou em dizer), mas o
homem já havia desaparecido na multidão de camisas vermelhas.
Astolfo retornou para casa feliz, pensando que
aquele acontecimento sinalizava que, no dia seguinte, o América brilharia em
sua estréia na Segunda Divisão do Campeonato Carioca. Mas não foi bem assim:
jogo duro no Estádio Moça Bonita, placar final Audax 2 x América também 2. “Até
que um empate não foi nada mal, afinal é estréia, jogo fora de casa, o Audax é
um time experiente; o negócio é ganhar o próximo jogo no nosso campo e se
manter próximo das primeiras posições.”, Astolfo avaliava o resultado com os
seus solitários botões.
No dia seguinte, após tantas emoções na torcida do
jogo passado, Astolfo resolveu repor as energias dando um passeio pela praia de
Copacabana. Passou por uma aglomeração de pessoas com camisas verdes e amarelas
(“ué, teve jogo da seleção hoje?”, se perguntou Astolfo). Viu que aquela
aglomeração de pessoas defendia o impeachment da presidente Dilma (“mas o
presidente da CBF não era o Marin?”, perguntou-se) e, meio assustado (“não vou
me meter nisso não; a CBF já persegue demais meu América pra eu entrar nessas
polêmicas”, refletiu), Astolfo assistiu à manifestação de longe. De longe e por
pouco tempo. Seu passeio por Copacabana naquele domingo, dia 15 de março, seria
marcado como um dos dias mais trágicos de sua vida: vários defensores do
impeachment de Dilma, incitados por um manifestante míope, correram atrás de
Astolfo, atirando-lhe objetos e xingando-o de “comunista petralha”. A PM, a fim
de evitar o confronto, jogou Astolfo num camburão e levou-o para longe da
manifestação. “Se nem os opositores do Marin são a favor do América, o que será
do meu time?”, perguntou Astolfo ao policial, antes de seguir seu caminho de
volta pra casa. O policial não entendeu a pergunta, mas, dado a expressões
filosóficas de efeito, deixou-lhe uma enigmática resposta: “Vivemos tempos
loucos, amigo... Agora segue seu caminho.”
De volta pra casa, Astolfo refletiu sobre os
acontecimentos dos últimos dias e concluiu: “se petralha é como chamam aqueles
torcedores do América que conheci na sexta-feira, ok, sou petralha com muito
orgulho e com muito amor!”
Crônica Coxi-lhas 3: Por que aquele jovem casal enamorado
passou a viver um drama de Shakespeare
Aos prantos, Ele escreveu para sua Amada a mensagem
pelo e-mail:
“Minha eterna e terna amada,
Vivemos tempos difíceis neste mundo intolerante e cheio
de ódio. Os visitantes de nossas atualizações no facebook, desconhecedores do
real sentido da palavra amor, nos últimos dias, condenam minhas declarações
públicas de afeto por ti, minha querida mulata.
Jamais esqueci nossos beijos naquele baile de
máscaras no último dia de carnaval e conto os dias para revê-la, por isso fiz
aquela declaração de amor para ti no grupo de casais apaixonados do qual éramos
membros naquele famigerado facebook. Mas os monstros corruptores do verdadeiro
amor invadiram minha linha do tempo e quiseram pôr meu amor por ti a prova;
condenavam nossos nomes e incluíram comentários de ódio e repulsa por odiarem
os nomes que nossas famílias nos deram. Maldita era essa que vivemos, minha
amada, pois sofremos pelo mal da leitura superficial e somos condenados e
bloqueados pelo que trazemos desde o berço. Diante de tantos ataques desses
infelizes, não pude resistir, minha querida, e tomei uma atitude drástica: me
matei virtualmente, excluí minha conta no facebook. E agora sou injustamente
exilado do direito de acompanhar as tuas atualizações nessa rede social.
Escrevo-te em prantos esse e-mail para justificar meu desaparecimento de teu
grupo de amigos; queria continuar em teus círculos virtuais, mas não toleraria
mais nenhum minuto diante do computador, assistindo aos milhões de impropérios
colocados em minha linha do tempo contra o teu nome e o meu. A única solução
possível para assegurar a pureza de minha declaração de amor por ti era
afastá-la do facebook e trazê-la para esse e-mail, onde só tu e eu podemos ver:
Sempre te amarei, Dilma, és a única que governa meu
coração.
De teu amante e escravo,
Luís Inácio.”
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK Uhauhauhauhaaahahuahuhauhauahahah ... respira KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK uhauahuahuahauhauhauau ...
ResponderExcluirKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK uahuhauhauahuahuahuahuahauhauhauhauhauhauhauahuahuahuahuauahuaa.
Muito, muito, muito bom!
hahahahahahahah perfeito!
ResponderExcluirQue DahorA heim !
ResponderExcluirpqp... fantastico!
ResponderExcluirFodásticos textos, como diria o próprio autor.
ResponderExcluir