segunda-feira, 8 de abril de 2013

Solidões compartilhadas: A estrela preferida de Raquel Leal


Uma coisa que ilumina meu dia a dia é ler bons escritos de poetamigos e de alunos (em breve, os poetalunos voltarão a invadir as solidões compartilhadas do blog; aguardem!); dá aquela sensação de que, apesar do cotidiano meio ‘purgatório’, arrastado e cansativo, há ainda paraísos na terra. Hoje trago uma dessas prosas poéticas fodásticas que nos fazem voar e sonhar, mesmo tendo a gravidade da realidade querendo nos arrastar pro tedioso mundo cotidiano das regras e limitações. Mais uma vez, compartilho minhas solidões poéticas com a fodástica poetamiga valenciana (atualmente residente em Volta Redonda/RJ) Raquel Leal e mais uma de suas pérolas poéticas, trazidas dos mares de seus íntimos para os nossos corações. Há pouco tempo, Raquel foi mais uma vítima da dengue que atacou a região sul fluminense, adoeceu e retornou mais poética que nunca (acho que o mosquito que lhe causou a febre era algum inseto de Rimbaud rs).
Em tempo: a fodástica poetamiga Raquel Leal já confirmou sua brilhante presença no Sarau Solidões Coletivas In Bar de aniversário de 1 ano, no dia 20 de abril, às 19h, na Boite Mr. Night, em Valença/RJ,
Ora, direis, amigos leitores, ouvirmos estrelas com Raquel Leal!

Minha estrela preferida

Sinto muito... Sinto por sentir, muito. Queria sentir menos. Hoje queria nem sentir. Hoje queria apenas o vento, forte, denso, bagunçando meus cabelos e levando todas as lembranças que te trazem aos meus pensamentos. Mas esse seria um alívio momentâneo, porque amo o céu e olhando pra ele te vejo lá, brilhando. Quando pequena aprendi a ouvir estrelas. Desolada, minha estrela preferida comigo não fala. Mas ouço seu brilho lírico derramando-se sobre a terra. Quantos quilômetros de distância podem existir entre uma estrela e a menina que a admira? No meu caso, infinitos... E mesmo de tão longe a estrela que mais amo me ensina. Eu tento apreender tudo que sua subjetividade sinaliza. Ela nem sempre foi silenciosa. Num diálogo anterior a recusa de suas palavras, ela me disse que se tivesse que escolher entre o fogo e a morte, escolheria queimar o que a mataria. Não me esqueci desse valioso, antigo e tão atual ensinamento. Eu a compreendo, já fiz fogueira com muitos sentimentos. Sendo menina de água, o fogo sempre me fez ferver. Detentora de graus extremos, curiosamente ver-te gelado hoje me assusta, também hoje não poderia queimar meu sofrimento. Pois queimar em mim o brilho que te eterniza, minha estrela preferida, seria covardia. Seria como queimar o livro que conta parte da minha história.


Um comentário:

  1. Belíssimo texto Raquel. Houve uma época em que eu também quis sentir menos, ou melhor, eu ouvi uma expressão que me fez querer isso "a dama de ferro". Mas como sempre, minha natureza ruminante me fez repensar e conclui que se eu deixasse de sentir emoções visceralmente, não seria nem dama nem eu, ja que o ferro pode até ser duro, mas é maleável, pois pior que sentir demais, é não sentir. Não quero

    Optar então por fogo ou morte, hum prefiro uma outra opção. Que tal a reminiscência do sentimento sentido. Eu li um conto do Carlos que também tem uma reflexão estelar (mas como de praxe, não lembro o título), mas lembro do sentimento sentido quando eu o li.

    Adorei o texto, só espero que o próximo mosquito mande um beijo poético soprado nas patas ou pernas (nada entendo de "insetologia" rsrsr. bjs dengosos.

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