domingo, 31 de março de 2013

Na trilha (musical) dos The Killers: Yeah, eu fui no Lollapalooza Brasil 2013!!!


Escrevo com meu pé ainda meio torcido e o coração e a alma inteiros e satisfeitos. A causa deste estado físico e espiritual foi o primeiro dia do Lollapalooza Brasil 2013 (29 de março).
Há muito tempo atrás, havia comprado meu ingresso e a ansiedade para assistir a Agridoce, Of Monster and Men, Cake e The Killers era imensa. Numa aventura que se iniciou no dia 28 de março, quando conquistei a última passagem de Teresópolis para São Paulo no 22:00h, cheguei em São Paulo na manhã do dia 29 de março, dei um tempo na rodoviária, peguei informações, passei informações (por incrível que pareça, por mais turista que eu fosse, devido ao feriado da Páscoa, fui interrogado por diversos outros turistas sobre pontos em São Paulo, como se eu fosse um legítimo paulistano – deve ser o cabelo pintado de vermelho, não muito comum em outras terras, fora da capital paulista, cujo povo é reconhecido como protagonistas de um dos universos mais fashions brasileiros. Como as perguntas eram simples – é pra cá que chego no metrô? É nessa direção o Jockey Club? – me senti um autêntico paulistano passando corretamente as informações, mas o meu sotaque fluminense-caipira sempre denunciava ao interlocutor que ele havia sido informado por um ‘estrangeiro’ de Sampa) e, às 10:30, já me encontrava na fila de entrada para o Jockey Club, o local de entrada para o Festival Lollapalooza Brasil 2013. Mofei bastante na entrada – ao contrário do que dizia o site do Lolla, os portões não foram abertos às 11:00h, e sim às quase 12h.

Abertos os portões, passada a chata – mas necessária - revista dos seguranças, entregue o ingresso, lá estava eu diante de um universo imenso e fantástico, programado pra ser um paraíso onde São Paulo seria preenchida por música. De cara, vi no palco “Alternativo”, a passagem de som da banda Tokyo Savannah. Empolgados com a chegada do público, eles aproveitaram pra antecipar uma canção do show – um rock cheio de distorções, agitado e bem contemporâneo; não é do estilo que mais me agrada, porém serviu pra provocar a primeira agitação em mim.

Como as bandas iniciais não me interessavam muito, dei uma volta no espaço do Jockey Club: fui na famosa roda gigante do Lolla-Heineken e ainda ganhei de brinde um chopp Heineken (não deu porre, claro, mas já começou a enriquecer minhas memórias com a festividade transmitida pelo álcool); passei pelos stands, onde ferviam seduções consumistas – o Chilli Beans oferecia raspadinhas com descontos para a compra de seus óculos; várias pessoas aproveitavam o momento, mas eu não vim aqui pra comprar óculos – eu vim para, como a cidade de São Paulo, me preencher de música. Aproveitei as voltas pra comprar várias fichas (chamadas de pillas) para minha alimentação e bebedeira, enquanto as filas estavam pequenas, quase inexistentes – mais tarde, eu passaria por ali e veria filas extensas e quase infinitas, feliz da vida de ter me antecipado pra não passar por esses momentos tediosos.
13:50h e já estou em frente ao palco “Cidade Jardim”, onde rolará o  tão esperado Agridoce – a banda foi em Rio das Flores/RJ, num domingo, data impossível pra mim, pois viajo para o Rio no mesmo dia e trabalho em Teresópolis/RJ às segundas. Desde quando a Pitty e Martin criaram esse projeto musical paralelo, esperava ansiosamente ouvi-los ao vivo e, quando vi o nome do Agridoce no dia 29 de março, me convenci mais uma vez que havia escolhido o melhor dia do festival Lolla pra mim. Claro que o som do Agridoce, mais intimista e psicodélico, não é o mais indicado para um evento em local aberto, mas a eficiência, qualidade e carisma da banda compensam as limitações que poderiam haver. Uma palavra: fodástico!!! A banda mandou todos os sucessos do Agridoce, mais algumas inéditas e um cover bem executado de “Across the universe”, dos Beatles, para uma platéia atenta e extasiada com o som. O único porém é que achei a voz de Martin anasalada demais nas duas primeiras canções, forçada demais em comparação às versões estúdio, mas já na terceira o próprio músico e cantor já alterava o tom e ofuscava a primeira impressão que tive. Pitty anunciou ao público que este seria um dos últimos shows do projeto Agridoce e mostrou-se empolgada em saber que o festival trazia uma tradutora de libras – interessante: o Lolla escalou tradutores de libras pra todas as bandas - para as canções da banda (“legal nosso som estar chegando em outras formas pra outras pessoas curtirem. Diz pra eles: espero que estejam gostando”). Portadores de necessidades especiais ou não, gostamos muito do show do Agridoce, Pitty, eu lhe responderia se pudesse me ouvir. Deixará saudades nos seus fãs – inclusive eu - e agradeço muito aos deuses da música por terem me proporcionado a oportunidade de ouvi-los ao vivo.

Após isso, corri para o palco “Butantã”, para ouvir a fodástica “Of Monsters and Men”, banda cujo CD eu havia comprado e ouvido na véspera do festival e cujo som – bem no estilo Arcade Fire – tinha me agradado muitíssimo. O show deles é contagiante, parece que nossa alma flutua livre em correntes sonoras de êxtase coletivo. O público – incluindo eu, é claro – pulava e cantava as canções, numa celebração do show da banda, da vida, de estar ali vivo curtindo tudo isso! “Of Monsters and Men” retribuía com um show antológico, empolgante e satisfeito com a receptividade elétrica do público. A chuva iniciava seu ritual e festejava conosco, os pingos caíam sobre nossos ombros de forma tão leve que pareciam comemorar cada música executada magistralmente conosco. O show foi tão bom que, quando eles avisaram que estavam na última canção, o público claramente lamentava o fim do êxtase e continuava cantando junto e pulando nos momentos finais da banda, como se aqueles fossem os últimos momentos de curtimos as alegrias de nossas vidas. Show inesquecível. Sortudos aqueles que assistiram o show extra da banda no dia seguinte, no Side Show do Lolla que iria rolar no Cine Jóia, dia 30, às 00:30h.
A banda “The Temper Trap”, no palco “Cidade Jardim”, vista rapidamente de longe, parecia interessante, mas não estava na minha lista de favoritos. Aproveitei pra atravessar em meio ao lamaçal, ir ao banheiro, me alimentar e beber; rockeiro com IA (Idade Avançada) não para em pé sem comida e álcool. Depois, nova correria pra chegar mais próximo do palco “Butantã”, onde rolaria a tão esperada Cake. Algum tempo mofando e me espremendo, cheguei o mais próximo possível do palco. Depois de muito tempo – o show do The Temper Trap ainda rolava no outro palco quando cheguei -, o Cake chegou, ganhando uma festa de aplausos. Chegou e correspondeu fodasticamente aos aplausos: os integrantes fizeram um show antológico, interativo (o vocalista falava constantemente com o público, pedia pra cantarmos juntos com ele, etc – muita coisa que ele disse me fugiu, pois meu inglês parco não acompanhava o ritmo de sua fala; é, preciso voltar ao meu cursinho de inglês urgentemente!) e levaram o público ao delírio. Destaque para as versões de “I will survive” e “War Pigs” (esta última, tocada após diversos pedidos do público) e as fodásticas canções próprias “Short Skirt, Long Jacket” e “Never There”. Meus pés dão os primeiros sinais de IA (Idade Avançada), mas, quem quer curtir plenamente o Lolla, precisa atravessar o campo enlamaçado, a dor e todas as limitações físicas.
Após uma breve pausa, corro para o palco “Cidade Jardim”, onde rolava a estranha “The Flaming Lips”. Num espetáculo exagerado de luzes e sonoridades obscuras – confesso que achei chato demais em diversos momentos e considero muito esquisito ter visto o vocalista com uma boneca de brinquedo, como se ela exprimisse um sentimento sublime em suas composições estranhas, além do “Come on, motherfuckers!” que ele dirigiu ao público e que até agora não engoli – ninguém tem obrigação de curtir um som obscuro como o deles e aplaudi-los só porque vieram da putaquepariu! Em resumo, vão tomarnocu, motherfuckers do The Flaming Lips. Eu estava ali só pra chegar o mais próximo possível do palco para o show do The Killers (lamento, fãs do Deadmau5, mas meu objetivo era o show do The Killers e, pra conseguir ficar mais próximo, sacrifiquei a oportunidade de assistir ao Deadmau5).
Depois de muito esperar, espremido, sujo e já com o pé completamente dolorido, no meio do mau cheiro, público apertando-se, lamaçal, finalmente chego ao gran finale dessa trip: THE KILLERS!!! Yeah, os caras nem deram boa noite, já vieram mandando fodasticamente bem “Mr. Brightside” e “Spaceman”, levantando a galera, nos levando ao delírio. The Killers mataram o tédio da espera e fizeram um show mais-que-antológico. É inexprimível o que sinto quando os ouço e quando lembro deles ao vivo: é um misto de delírio e paixão agitada à flor da pele, sinto vontade de pular em calmo desespero, cantar e me surpreender calado ouvindo-os, chorar sorrindo, sentir toda dor e alegria de estar vivo, de estar ali, ouvindo-os, interagindo com eles. Meu pé já não aguentava mais nada, devo tê-lo torcido, mas – foda-se – continuo pulando e Jack Flowers e os demais integrantes do The Killers parecem trazer a sonoridade que me fará sublimar minha dor, resistir à toda dor e solidão na entrega da música, da integração com o público. Nem falo do clima, tão em delírio quanto o público – ora abafado, ora garoando -, não havia temporal ou calor em mim naquele momento; apenas um êxtase interminável. “A Durstland Fairytale” e “Runaways” não saem da minha memória; comecei a chorar por uma felicidade intensa que eu não conseguia controlar, a dor imensa e a empolgação também. Após essas músicas, me afastei do aperto de estar próximo do meio à frente do palco e assisti ao restante do show mais distante; meu coração disparava, o pé doía demais e, mesmo mais afastado, a música ainda me transportava a um mundo onde toda dor permaneceria sublimada em prol da vida eterna, da continuidade de cada canção, de cada sensação ao infinito da arte.
Terminado o show, me dirijo, na máxima velocidade que consigo fazer mancando, na direção da saída para o metrô. Me sinto o Pingüim, do filme “Batman – O retorno”, sujo, vindo do esgoto, mancando, e, apesar de toda vilania do mundo, ainda digno de estar vivo, de continuar. Sigo para a rodoviária, a dor constante no pé, o corpo castigado e a alma cada vez mais elevada; o poderoso show do The Killers matou algum monstro de fraqueza em mim e me ressuscitou mais vivo, apesar de dolorido, mais livre. Parto no ônibus de 00:10h, de São Paulo ao Rio de Janeiro, depois disso, seguirei do Rio para Teresópolis; estou vivo, estou mortalmente mais vivo do que nunca (engraçado saber que quem me trouxe essa sensação foi o show de uma banda cujo nome traduzido para o português significa “Os assassinos”). Adormeço no ônibus, sem sonhar, pois os sonhos já tinham passeado comigo pelo Lolla, estavam tão cansados e satisfeitos quanto eu.

  

sábado, 30 de março de 2013

Eu queria muito ter um coração frio, mas com show da Carina Sandré é impossível!


SESC Barra Mansa/RJ, 23 de março de 2013 - Carina Sandré e sua banda fazem um show inspiradíssimo. Representando o Sarau Solidões Coletivas, de Valença/RJ, declamei o poema inédito "Eu queria muito ter um coração frio", em homenagem à cantora Carina Sandré, que já passou por maus bocados por causa de falsos amigos:

Eu queria muito ter um coração frio
(Canção do amigo traído)

Eu queria muito ter um coração frio
Como o labirinto profundo deste imenso rio
Que, mesmo sujo e ferido, corre tranquilo.
Sem fúrias, nem mágoas, apesar dos homens,
O rio segue seu caminho...

Eu queria muito ter um coração frio,
Não olhar para o rio sujo com meus olhos aflitos,
Nem procurar, nessas águas turvas, os meus vestígios
Depois que me feriste com tua lábia de lobo e disfarce de amigo.
Eu queria muito ser como esse rio tranquilo
Que segue seu caminho apesar dos perigos...

Eu queria muito ter um coração frio
Pra não me queimar em dor pelos teus gestos assassinos.
Eu queria muito ter o teu coração frio, ex-amigo,
Pra não me amanhecer em luto depois que me deste um tiro.

O vídeo abaixo registra grandes momentos do show e a minha participação no evento:


quinta-feira, 28 de março de 2013

Solidões revoltadas compartilhadas: João Júnior, cansado de papos de papas


“Já que a solidão é coletiva, compartilho meu desabafo contra a rede globo e a massificação das notícias sobre novo papa, e aproveitei pra falar de tudo (acho até que perdi um pouco o foco do que queria dizer... ou não, rs).”
Foi assim que o poeta valenciano João Júnior me descreveu o fodástico e mais recente poema, escrito por ele e compartilhado aqui hoje com aqueles que também são da opinião de que a Rede Globo, cada vez mais, não tem nada pra acrescentar aos seus já alienados telespectadores.
Um dos poemas críticos mais fodásticos que já li, digna de outros grandes poetas críticos sociais que já apareceram por aqui, como Gilson Gabriel e Luiz Guilherme! E não, o escritor João Júnior não perdeu o foco.
Faça um favor para si mesmo neste feriado, amigo leitor: deixe a tevê desligada!

Desde os tempos do plim-plim

não me venha com papo de papa
não me venha com papas na língua
não tente calar-me, não tente
deixar minha mente à míngua
conheço bem seus trejeitos
sua lábia televisiva
mantendo tudo a seu jeito
mantendo a nação passiva

um reality show na tv
para nossas reality vidas esquecer
uma novela em horário nobre
pra nos conformar em sermos pobres
nos conformar com os impostos
e com o que nos é imposto
goela abaixo e sem gosto
pra que ninguém se mostre oposto

mas sente-se, relaxe, ligue a tv
pois a gente se vê por aqui
só o que não dá pra se ver
é a mediocridade a nos possuir
mas temos uma mensagem pra você
sempre que o ano chega ao fim
de um novo dia e um novo tempo que começou
e que sua vida não está tão ruim
a velha dose de falso otimismo
desde os tempos do plim-plim

e assim seguimos espectadores
seguimos na expectativa
de que alguém comece a revolução
mas apenas reclamamos da vida
num balcão ou num salão
tomando cerveja, fazendo chapinha
buscando alívio pra essa pressão
criticando a forma que o país caminha
quando o que é certo está na contramão
e o errado é quem anda na linha.


quarta-feira, 27 de março de 2013

Solidões Musicais Compartilhadas: Renato Russo revisitado por Fael Campos, José Ricardo Maia e Arnaldo Júnior


Hoje, dia 27/03, Renato Russo, eterno líder da fodástica banda Legião Urbana, faria 53 anos. Em homenagem a isso, compartilho minhas solidões poéticas com os também fodásticos músicos valencianos Fael Campos, José Ricardo Maia e Arnaldo Júnior, que, em seus shows, sempre trazem versões novas pras conhecidas composições de Renato Russo.
Arnaldo Júnior e Fael Campos
O vídeo contém grandes momentos dos shows que eles realizaram no recém-fechado Bar Bat e Papo, em Valença/RJ. Além de duas canções da Legião Urbana ("Quase sem querer", numa versão agitadaça, e "Teatro dos vampiros", numa performance emocionante), o vídeo ainda contém uma versão de uma canção da também saudosa banda Engenheiros do Hawaii. Vale a pena ouvir!
A legião artística sempre vence!


Solidões Caninas Compartilhadas: O labra-latas Ozzy mostra como se faz um poema dadaísta nos dias de hoje

Além de artista incompreendido,
Ozzy é atleta de esportes
que só ele compreende

Em tempos de coelhinhos de páscoa que botam ovos de chocolate para crianças, compartilho minhas solidões poéticas com Ozzy, o cachorro labra-latas de Isabel Cristina Rodegheri, mãe de minha namorada Juliana Guida Maia. Já conhecido por seu temperamento anárquico e destrutivo (o cachorro adora destruir vestes humanas, caixas de fósforos, cinzeiros, panos, etc), Ozzy atualmente tem se dedicado a devorar cultura, ou seja, rasgar, comer e triturar livros didáticos antigos. Boa observadora, Juliana Guida Maia percebeu que o cachorro não destruía completamente os livros, deixando pequenos fragmentos das páginas espalhados por toda casa.
Um dos poemas dadaístas
produzido por Ozzy
Lendo os pedaços deixados pelo inquieto cachorro artista, descobrimos assim o novo talento de Ozzy: ele mostrou ter talento pra produzir poemas dadaístas!!! O dadaísmo foi um movimento artístico que surgiu na Europa (cidade suiça de Zurique) no ano de 1916. Possuía como característica principal a ruptura com as formas de arte tradicionais. Portanto, o dadaísmo foi um movimento com forte conteúdo anárquico. O próprio nome do movimento deriva de um termo inglês infantil: dadá (brinquedo, cavalo de pau). Daí observa-se a falta de sentido e a quebra com o tradicional deste movimento. Baseado nisso, Tristan Tzara, criador do dadaísmo, pregou uma nova forma de se produzir um poema:
“Pegue um jornal.
Pegue a tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco.
O poema se parecerá com você.
E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público.”
A matéria-prima
dos poemas de Ozzy
(os livros didáticos antigos
de Português do Cereja
são seus favoritos)
Pois bem: observando o processo criativo do cachorro Ozzy, em movimento de destruição de livros didáticos e construção de fragmentação das folhas arrancadas, percebemos que o estilo do labra-latas, impossibilitado do uso da escrita humana, aproximava-se da estética dadaísta. Se, ao invés de recortar e escolher palavras aleatórias, o cachorro destrói o livro inteiro e espalha pedaços, é porque Ozzy pratica um neo-dadaísmo, reflexo dos tempos contemporâneos de insanidade e violência gratuitas. Ou seja, Ozzy está criando um novo movimento artístico, um avanço do Dadaísmo!!!
Ozzy, compenetrado,
produzindo novos poemas
Yeah, Ozzy, além de anarquista, é um poeta, um artista revolucionário, sem ter escrito uma linha sequer! Abaixo, deixo uma de suas obras-primas, o que restou de uma página arrancada por ele, um pedaço de papel encontrado por Juliana Guida Maia, um trabalho artístico que sobreviveu à limpeza de Isabel Cristina Rodegheri, dona do cachorro-poeta, ainda incompreendido em sua manifestação artística, assim como tantos outros artistas à frente de seu tempo.

Quem disse que os cães não produzem poemas? O talentoso Ozzy está aí pra provar o contrário! 

Apenas um pedaço de papel
que meu cachorro não comeu
(Poema dadaísta latido)

o cesto de frutas
a cobra que se achata
que destila líquido
procedente do
vaso.

terça-feira, 26 de março de 2013

Protesto contra a política de (i)mobilidade urbana em Teresópolis: Buscando a 'liberdade de expressão' que eles nunca deram pra gente



Era para sermos milhares, mas éramos uns 40 manifestantes. Mesmo assim, representávamos a insatisfação de milhares, o movimento começou a se consolidar e quem sabe dos mandos e desmandos do atual governo municipal de Teresópolis faz a hora, não espera acontecer. A manifestação de estudantes, artistas e trabalhadores contra o aumento de passagem dos ônibus de Teresópolis/RJ, organizado pelo MCAP - MOVIMENTO CONTRA O AUMENTO DA PASSAGEM, realizado na terça-feira, dia 19/03, às 18:30h, em frente e dentro da Câmara dos Vereadores da cidade, não tinha todo o público que se esperava, porém mostrou claramente aos ditos ‘representantes do povo’ que as camadas populares não estavam nada satisfeitas com o aumento da passagem de ônibus para R$ 2,90, valor muito acima do orçamento da maioria mais pobre da população e cujo preço – um dos mais caros da região – não reflete a falta de qualidade do transporte público da cidade. Uma das razões para o movimento menor que o esperado era simples: com a passagem de ônibus a um preço tão absurdamente caro, como as camadas populares, que moram em regiões distantes da cidade, poderiam ir ao centro da cidade se manifestar? Seja como for, ainda éramos mais de 40 manifestantes nos fazendo representar a insatisfação dos milhares que não puderam estar conosco.
A data escolhida para a manifestação  não poderia ser mais propícia: no dia 19/03, os vereadores de Teresópolis/RJ, os ditos ‘representantes do povo’, estavam preocupados com seus próprios umbigos, pois, naquele dia, eles tentavam antecipar a votação de 2015 (!) da eleição da mesa diretora da Câmara (presidente, vice-presidente, etc). Ou seja, a manifestação popular veio mostrar a insatisfação do povo num momento em que a Câmara se preocupava com assuntos que só satisfaziam a seus próprios destinos. Enquanto a população sofre no bolso para chegar ao seu destino, à sua casa, andando de ônibus, sem saber como será o seu amanhã, os vereadores da cidade se debatiam por uma eleição prevista para só daqui a dois anos, ignorando os problemas atuais de nossa cada vez mais estagnada cidade. Não podia haver sentimento de revolta maior naqueles que participavam da manifestação popular; era preciso fazer algo. E fizemos.
Em frente à Câmara dos Vereadores, a professora Rosangela Alves de Castro nos apresentou os problemas que tamanho aumento de passagem de ônibus – muito maior que o previsto pelo estudo sobre a mobilidade urbana em Teresópolis, feito pelos competentes engenheiros da Coppetec-UFRJ – gera nas finanças de pessoas das camadas mais populares. Outros manifestantes mostraram a importância de mostrarmos a nossa insatisfação e reivindicaram uma audiência pública para que o aumento da passagem fosse discutido com todos os representantes das camadas populares e para que o valor fosse reavaliado, como deveria ser feito e discutido, mas infelizmente não é. O blogueiro que vos fala apresentou o poema “O assalto”, crítica poética ferrenha ao aumento da passagem de ônibus na cidade - já publicada aqui no blog em postagem anterior. Essa parte da manifestação foi registrada em vídeo, como vocês podem ver mais abaixo.
O segundo passo do movimento popular foi entrarmos na Câmara dos Vereadores e expormos, através de cartazes, a nossa insatisfação com o preço da passagem e a atual política pública de mobilidade urbana em Teresópolis/RJ, durante a sessão realizada pelos vereadores. Logo que entramos na Câmara, os seguranças da instituição se mostraram bastante ríspidos conosco e avisaram, em tom de ameaça, que nenhum cartaz deveria ser exposto na sessão dos vereadores. Algumas pessoas, presentes na sessão, conhecidas na cidade por sempre se associarem a políticos da situação e buscarem vantagens políticas através da bajulação, também tentaram provocar os manifestantes mais jovens, desprezando a importância da manifestação. 
Mesmo nesse ambiente hostil, entramos na sala, onde as pessoas assistiam à sessão da Câmara (ironicamente, o nome desse espaço era “Liberdade de expressão”, classificação equívoca se pensarmos em como fomos tratados desde quando entramos na instituição), e expomos os cartazes que refletiam nossa insatisfação com o aumento absurdo da passagem de ônibus. Éramos uns 40 manifestantes, mas, naquele momento, parecíamos e representávamos milhares. O presidente da Câmara de Vereadores não teve outra opção: interrompeu a sessão para destacar a nossa manifestação e declarou que receberia os líderes do movimento para uma reunião com os demais vereadores, após o fim da sessão. Conquistamos assim, na garra e na coragem, o direito de expressarmos nossa insatisfação e abrimos um canal de diálogo com os ditos ‘representantes do povo’. Na saída da sala “Liberdade de expressão”, fomos mais uma vez mal vistos pelos seguranças da câmara e novamente provocados pelos bajuladores dos vereadores. Mas nada nos ofendia mais; havíamos conquistado nosso espaço de reivindicação e nenhuma provocação poderia nos tirar essa vitória.
Satisfeito com o resultado da manifestação, voltei pra casa (infelizmente, tive que pagar a cara passagem de ônibus, pois moro em região afastada do centro da cidade). Dentro do ônibus, cujo destino final era “Holliday” – caminho para o meu bairro -, vi o motorista parar em um dos pontos e uma senhora lhe perguntar sobre o veículo que teria destino para o também afastado bairro de Santa Rita. O motorista explicou à senhora que, devido as chuvas dos dias anteriores, a estrada estava cheia de lama e que nenhum ônibus faria o trajeto para Santa Rita naquele dia. A senhora, atônita, entrou no ônibus e disse ao motorista: “Mas... eu moro lá... vim do Rio de Janeiro... como vou fazer?” Não recebeu nenhum resposta, pois não havia resposta para sua pergunta: é duro demais lembrar que ela teria que andar milhares de quilômetros a pé para chegar a sua casa. Impotente diante da situação, só pude me lembrar da ideia de o transporte público ser totalmente dirigido pelo governo municipal, como sugeriu um dos manifestantes. Santa Rita e grande parte da área rural da cidade, há tempos, nem é asfaltada, nem recebe qualquer tipo de obra de manutenção, apesar das verbas vindas da tragédia das chuvas de 2011 (até hoje se pergunta onde foi empregado tal dinheiro). O governo municipal não cuida de suas próprias estradas, ignora a população pobre e rural, e, atualmente, não consegue nem controlar um aumento de passagem, muito acima do orçamento das camadas populares. Cheguei em casa, tão atônito quanto a senhora que teria que ir pela estrada lamacenta de Holliday a Santa Rita a pé, e fiquei me perguntando pra que, afinal, servia um governo municipal que tinha como lema “Cuidando bem das pessoas” e que, ao contrário de sua propaganda, ignora todo mal que faz ao povo que, infelizmente, o elegeu.


segunda-feira, 25 de março de 2013

Sarau Solidões Coletivas In Bar 12: Só os loucos sabem o quanto ralamos


Foram momentos iniciais tensos, mas, no final, gratificantes, emocionantes e vibrantes. No último Sarau Solidões Coletivas In Bar, marcado para o dia 16 de março, às 19h, tivemos sérios problemas com o bar / espaço onde foi marcado o evento. Sem nos avisar previamente, a dona do estabelecimento simplesmente manteve as portas fechadas e nos disse, somente no momento do evento, que não abriria, gerando aflição nos participantes (principalmente neste blogueiro que vos fala) e aquela sensação desesperada: “E agora? O que faremos: vamos ficar sem o sarau do terceiro sábado de março?”
Não é a primeira vez que passamos por sufocos como esses; apesar de não cobrarmos cachê, nem todos os bares que nos cedem o espaço são leais a nós; desmarcam os eventos quando bem entendem, mostrando incompreensão pra um evento, que, apesar de toda alegria, possui uma proposta séria: gerar uma tradição cultural de saraus na cidade. Tem momentos que acho que alguns comerciantes devem nos achar um bando de artistas à toa que fazem o sarau simplesmente por hobby e cujo evento eles podem desmarcar a qualquer hora, apesar de lucrarem bastante com o movimento artístico e a gente não levar um centavo desse lucro. Mas nenhum deles havia dado um golpe tão certeiro: a dona do bar, onde estava marcado o evento do dia 16 de março, simplesmente não desmarcou antecipadamente; deixou a divulgação e a movimentação acontecerem e, quando chegamos ao local, estava fechado, declaradamente fechado! Cogitou-se não fazermos o sarau do terceiro sábado de março, cancelarmos; mas e a tradição cultural que havíamos defendido? Como assim ficarmos sem o evento de março com todos ali, a aparelhagem de som, os poemas, as músicas, os sonhos? Por intermédio de Ronaldo Brechane, conseguimos remarcar em cima da hora o evento com o dono da boite Mr. Night, que, sensibilizado com a nossa situação, resolveu abrir as portas pra gente.
E foi demais!!! Mesmo com a mudança de local em cima da hora, tivemos um bom movimento de pessoas; todos os artistas se uniram pra levar público e dar o melhor de si neste décimo segundo sarau. Foi demais mesmo!!! O “Sarau Solidões Coletivas In Bar 12: Mr. Tambourine Man e Chorão numa Temporada no Inferno On the Road – Tributo a Bob Dylan, Charlie Brown Jr., Rimbaud e à Geração Beat” foi um dos mais emocionantes, como vocês podem conferir nos vídeos abaixo. Após os vídeos, publico o depoimento da artistamiga Cíbila Farani, participante constante do sarau, relatando este evento recente. Vale muito a pena ler pra tentar nos entender (sim, chegamos a um ano de vida e continuamos ignorados por alguns e bastante incompreendidos por muitos na nossa manifestação). Faço das palavras de Cíbila Farani as minhas e as do Sarau Solidões Coletivas In Bar. Lamento informar aos alienadores de plantão, mas vamos continuar. Arte sempre!!!








Sartrando com o Sarau Solidões Coletivas In Bar 12, por Cíbila Farani "Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você." Jean Paul Sartre Sartre estava certo. E Nietszche também, quando disse que "nada pertence mais a nós mesmos do que os nossos sonhos." Ambas as reflexões desses dois grandes homens que um dia pisaram nesta terra, hoje me serviram de apoio e de matéria-prima para o que ontem presenciei. Um acontecimento interessante, uma situação que tinha tudo para terminar da forma mais indesejada possível, mas que acabou dando certo no fim, e uma prova concreta de que essas duas frases, ditas por dois homens sábios em lugares e épocas distintas, são tão perfeitamente aplicáveis ainda nos dias de hoje.O Sarau Solidões Coletivas, para quem ainda não sabe bem do que se trata, ou, nem ouviu falar, é um evento que transcende à declamação de poesias e à apresentação de peças musicais. Já deixou de ser isso há tempos. O Sarau Solidões Coletivas se transformou num grande ser humano, e adquiriu características de todos os que ali estão presentes, desde o amigo que verifica a regulagem do som ao idealizador do evento. Somos todos um. E somos cada vez mais fortes, mais coletivos, menos solidões.
O episódio peculiar acontecido no dia 16 de Março de 2013, me fez refletir sobre as frases que escolhi para iniciar este texto. O bar onde realizaríamos o evento deste sábado, simplesmente não abriu suas portas e não comunicou a ninguém ligado à realização do Sarau esta decisão. Ficamos parados à frente do bar, buscando locais alternativos, em cima da hora, para a realização do evento, e um dos organizadores conseguiu, junto ao dono da Boate Mr. Night, que pudéssemos então transferir para lá o nosso Sarau Solidões Coletivas in Bar.O que poderia ter dado errado, acabou dando certo. Sendo assim, antes de mais nada, este texto é um profundo agradecimento. Um agradecimento às pessoas que acreditam naquilo que fazem, às pessoas que acreditam nas pessoas e em seus sonhos, ao Universo que conspira para que consigamos realizar o que sonhamos. Um agradecimento à oportunidade de aprendizado proporcionado pela falta de respeito a um evento sério, apesar de realizado com a descontração que só a poesia e a música trazem em si e irradiam à nossa volta; um aprendizado importante causado pela falta de ética profissional e pela falta de dignidade da palavra e da atitude simples de apenas dizer "não, obrigado, mas não queremos mais". Nós queremos mais! Queremos sempre mais, e ontem, tivemos todas as provas de que enquanto quisermos mais, o mais não nos será negado.Ao comerciante que fechou suas portas para a Arte de forma desrespeitosa, o meu desejo de que algumas lições sejam aprendidas, assim como foram ensinadas.
Ao Sarau Solidões Coletivas, o meu salve, de joelhos prostrados na Mãe Terra e a certeza de que a Arte não morre jamais, nem será calada, intencionalmente ou não, porque aqui estaremos para mostrar aos outros que não importa o que façam conosco, mas sim o que nós fazemos com o que fazem conosco. Nossos sonhos são nossos, mas podem ser todos os sonhos num só e pertencer a todos nós, simultaneamente.

domingo, 24 de março de 2013

Entre o último adeus e o Giz de Renato Russo: A participação das Solidões Coletivas no Sarau da Cia do Livro



Sexta-feira, 15 de março de 2013, Cia do Livro, Valença/RJ - O músico, compositor e cantor José Ricardo Maia (a convite de Giovanni Nogueira) e o poeta Carlos Brunno S. Barbosa, ambos presenças constantes do Sarau Solidões Coletivas, participam do Sarau da Cia. do Livro, organizado por Beatriz de Oliveira. O vídeo registra a declamação do poema "O último adeus (ou o primeiro pra sempre)"; a música "Noite do meu bem", de Dolores Duran, tocada por José Ricardo Maia e cantada por todos os participantes do sarau; "Giz", da Legião Urbana, sendo interpretada por José Ricardo Maia.

Demorou, mas saíram: Os vídeos do Sarau Solidões Coletivas Especial da Mulher!


Cantina Água na Boca, Valença/RJ, 09 de março de 2013 - A convite de Alessandra Ielpo, dona da Cantina Água na Boca, o Sarau Solidões Coletivas In Bar fez uma homenagem a todas as mulheres do mundo com um evento em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. O sarau especial teve o nome de “De Safo a Mulher ao Seu Lado – Tributo a todas as mulheres do mundo”.


Neste primeiro vídeo, vemos as Ave-Marias de Gilson Gabriel; Juliana Guida Maia declamando "Pagu", de Rita Lee; Patrícia Correa declamando poema de seu aluno; Lucimauro Leite fazendo sua homenagem às mulheres; Carlos Brunno declamando o "Pleonasmo do amor", de Suelen Cristina; Raquel Leal declamando Chico Buarque de Holanda e o show Gabriel Carvalho e Emanuel Coelho, cantando Kid Abelha, Paralamas do Sucesso, Frejat e músicas próprias.


Neste segundo vídeo, vemos a estreia do poetamigo Rogério Silva no sarau; Rabib Floriano mandando mais um fodástico poema; a prosa poética de Cíbila Farani; o stand up comedy de Ronaldinho Brechane (segundo ele, "homenageando as mulheres"); Cíbila Farani declamando poema de Alexandre Fonseca com o acompanhamento blues de Zé Ricardo Maia; Juliana Guida Maia declamando poema de eu lírico feminino de Carlos Brunno; Carlos Brunno declamando poema da ex-aluna Larissa Souza, poeta-autora do blog "Minha vida"; a ode de Patrícia Correa; Chico Lima declamando poema feminista de Mauriat.


Neste terceiro vídeo, demos um intervalo no tema Mulher e, devido à trágica morte de Chorão ocorrida durante a semana de preparação do evento, o Charlie Brown Jr. invadiu o sarau. Carlos Brunno declamou um poema inédito seu em homenagem a Chorão (uma paráfrase – uma versão séria inspirada em outra obra mais conhecida – da canção “Proibida pra mim”, música logo após interpretada por Zé Ricardo. Vários sucessos da banda Charlie Brown Jr. foram tocadas numa jam realizada no calor do momento entre Zé Ricardo, Fred Ielpo, Cíbila Farani e Paulinho Roberto; uma homenagem lírico-musical emocionante à banda que foi liderada pelo cantor Chorão.


Neste quarto vídeo, vemos Luana Cavalera declamando poemas de Karina Silva e de Ingrid Schuenck; Carlos Brunno declamando "Eu vi um poema de Bukowski" acompanhado no violão de Karina Silva; o poema de Janaína da Cunha declamado por Carlos Brunno e Karina Silva; Raquel Leal declamando acompanhada pelo violão de Karina Silva; o tributo a Amy Winehouse feito por Gilson Gabriel, Carlos Brunno e Zé Ricardo Maia; Carlos Brunno declamando prosa poética de Diana Paim; Raquel Leal declamando o poema "Ressurjo", de Carlos Brunno, acompanhada do violão de José Ricardo; Cíbila Farani declamando poema de Aquiles Peleios; Carlos Brunno declamando "Polaroid", de Fito Paez, em versão de Nenhum de Nós; Juliana Guida Maia declamando poema próprio; Patrícia Correa; Carlos Brunno declamando poemas de Cíbila Farani e de Flávia Vargens; Juliana Guida Maia interpretando haicais de sua mãe Isabel Cristina Rodegheri; Cíbila Farani declamando poemas de poetas homens com eu lírico feminino.


Nesta quinta parte, temos Patrícia Correa declamando poemas próprios e canção de Oswaldo Montenegro; Rogério Silva; Juliana Guida Maia declamando poema de eu lírico feminino de Carlos Brunno; Raquel Leal declamando poema de Alana Gomes; Paulinho Roberto Gonçalves mandando um rap acompanhado pelo violão de Zé Ricardo; Lucimauro Leite declamando poemas de José Oiticica; Cíbila Farani e Fred Ielpo interpretando a canção "Tempo perdido", de Legião Urbana, e encerrando com muitos aplausos esse sarau especial.   


sábado, 23 de março de 2013

O blogueiro desaparecido fala sobre o tempo e o seu desaparecimento (ou Sai um pouco da net e vai ver se eu estou na tua esquina)


“Tempo: só ouço falar.
O relógio não para.
O tempo voa amor.
O tempo me sobra.
Agora parece que o tempo parou...”
Como o início do poema da escritoramiga Lainha Rosendo Loiola, “Eu quero falar de algo que me sobra e que me falta. O tempo.”, do blog “Uns dias” (aí vai o link: http://unsdiasporlainha.blogspot.com.br/2013/03/eu-quero-falar-de-algo-que-me-sobra-e.html ), o tempo tem me sobrado e me faltado, amigos leitores. Devido a diversos eventos que o Sarau Solidões Coletivas teve (e ainda tem) agendado neste março frenético (ainda hoje, às 20:30h, no SESC-Barra Mansa/RJ, Juliana Guida Maia e eu estaremos no show da fodástica cantora Carina Sandré), somados aos compromissos de professor, tive tempo de sobra nesse mês para ampliar os horizontes artísticos e também para começar a me reencontrar com os escritores que surgem nas salas de aula da E. M. Alcino Francisco da Silva, em Teresópolis/RJ. Neste mês, realizamos 2 saraus, 3 participações em outros eventos, corrigi muitas redações fodásticas, fora que ainda vou no Lolapalloza no dia 29 de março (yeah, vou ver The Killers, Cake e Agridoce, meus favoritos do festival).
Mas, se o tempo sobra por um lado, algo é sacrificado por outro: devido a doce overdose de eventos no mundo real, o blog – meu universo lírico-virtual - acabou ficando meio ao léu, sem atualização, problema que prometo resolver nos próximos dias.
Pra começar, a partir de hoje, as próximas postagens apresentarão o que o pessoal do Sarau Solidões Coletivas anda aprontando atualmente. Às vezes (na verdade, muitas vezes), a gente precisa sair um pouco do universo virtual pra encarar a poesia da vida real, mesmo que ela nos machuque de beleza (i)mortal de vez em quando.  

terça-feira, 19 de março de 2013

Solidões Compartilhadas In Memoriam: A homenagem de Rabib Floriano a Steve French


Hoje compartilho mais uma vez minhas solidões poéticas com o fodástico poeta valenciano Rabib Floriano Antonio (também conhecido como Rabib Jahara). Desta vez, Rabib nos traz uma elegia, um poema dedicado a um amigo falecido há algum tempo, mas que permanece nos corações de quem o conheceu: o inglês Steve French, que viveu grande parte de sua vida em Valença/RJ e se mantém eterno na memória de todos, apesar da velocidade e ferocidade dos tempos atuais. Uma poesia eterna para um amigo também eterno.
Em tempo: Rabib Floriano declamou esse poema na edição mais recente do Sarau Solidões Coletivas In Bar, realizado no dia 16 de março de 2013, no Mr. Night, emocionando a todo o público presente.
Para ser lido ouvindo Bob Dylan:

Lord, Sir Lord

Quantos caminhos um homem deve percorrer contigo
para poder ser chamado de amigo?
Quantas doses de conhaque e quantos tormentos
são necessários para formar um só sentimento?

Ele foi o imperialista no meu pensamento
e este poema de lamento
é um grito de saudade
como se soprado no vento...

Das madrugadas frias
de névoas londrinas que tivemos;
seu casaco assombroso era um sobretudo
nessas ruas em que vivemos.

E ele me disse, ouvindo um Dylan, num bar qualquer
que não se cria musgo nas pedras que rolam,
que não se cria musgo nas pedras que rolam.

Como um poema de Shakespeare para os corações que choram,
assim era Steve French, para quem de fato o conheceu
e a velha Inglaterra ficou mais cinzenta
desde o dia que ele morreu!






segunda-feira, 18 de março de 2013

Protesto Poético Contra o Aumento da Passagem de Ônibus: O assalto


Há pouco tempo, recebi o convite da poetamiga e companheira de profissão (ela também é professora da rede municipal de ensino de Teresópolis), Rosangela Castro, para a manifestação de do protesto contra o aumento da tarifa de ônibus e a favor da melhoria do transporte público em Teresópolis/RJ, organizado pelo MCAP- MOVIMENTO CONTRA O AUMENTO DA PASSAGEM, previsto para amanhã, dia 19/03, às 18:30h.
Segundo matéria realizada por Anderson Duarte, em 23/02/2013, em O Diário de Teresópolis, engenheiros da Coppetec-UFRJ fizeram um estudo sobre a mobilidade urbana em Teresópolis. Foram enfatizados vários problemas, dentre os quais:
- A falta de concessão para o serviço de transporte público, bem como falta de um Orgão Regulador;
- Falha na apuração do número de gratuidades apresentada pela Viação Dedo de Deus, que supera o número encontrado pela Coppetec-UFRJ, que foi 23%,  enquanto que a empresa apresentou 56%. Foi justamente esse ponto o principal argumento para o aumento da tarifa;
- A ineficiência e alto custo do sistema de transporte, principalmente no aspecto social;
- Falta de estudo para compor o valor da tarifa, que poderia ser até mais barata que a anterior, de R$ 2,90 para R$1,97.
Baseado nesse estudo, o MCAP pede urgentemente ao poder público de Teresópolis: eficiência no serviço e tarifa mais barata. Infelizmente, o governo municipal, cujo lema ironicamente é “Cuidando bem das pessoas”, negou-se a receber tal estudo.
Como usuário do transporte público de Teresópolis/RJ, conheço, na prática (infelizmente), a precariedade desse serviço que deveria ser público, mas não é. Por isso, desde já, confirmo presença poética e ativa no protesto:

O assalto

Ontem andei de ônibus
E fui assaltado:
Encontrei o veículo cheio,
Feio e sucateado;
Em letras bonitas, o aviso autoritário:
“A partir desse dia, ir e vir pra casa se torna mais caro”
Sobreviver nessa cidade tornou-se fato raro...
O Dedo de Deus, tão lindo,
Apontando para o aumento inadequado,
Enquanto o governo omisso
Sustenta o descaso.
Ontem andei de ônibus
E, mais uma vez, fui assaltado!

Meus olhos perguntam:
Como os governantes dessa cidade carente
Podem dizer que cuidam bem da gente
Sem um coletivo decente?
Meus olhos perguntam sozinhos,
Pois a resposta é silêncio,
Presença invisível dos quem podem tudo
E não fazem nada.
Então meus olhos serenos
Acompanham meus ombros caídos
De volta pra casa...
Adormeço soturno
No aconchego infeliz da cidade estagnada.

Meu filho-poema selecionado na Copa do Mundo das Contradições: CarnaQatar

Dia de estreia da teoricamente favorita Seleção Brasileira Masculina de Futebol na Copa do Mundo 2022, no Qatar, e um Brasil, ainda fragiliz...