Começo de janeiro, contagem regressiva para desfazermos
algumas das milhares de promessas que fazemos na virada do ano. Hoje não tem
sol, hoje, como dizia Renato Russo em “Tempo Perdido”, “o que foi prometido
ninguém prometeu”; sobrevivemos a mais um fim do mundo e, mesmo assim, alguns
dias permanecem muito nublados. Hoje um dos sobreviventes não está entre nós
(como diria Drummond, ele escolheu sua “dis-solução”). Hoje é o dia de
enterrarmos algumas promessas de vida, hoje é o dia do enterro do fodástico músico,
artesão e compositor Adriano Gonçalves.
Deixo aos leitores um velho poema juvenil que escrevi há
muito tempo atrás e que deu nome ao meu segundo livro “Promessas desfeitas”
(1997), claramente inspirado em "Sinais de fumaça", da banda Nenhum de Nós (ele possui o inspirador verso "Tantas palavras ditas entre os dentes / Entre os dentes"), pra lembrar que a vida e a arte continuam, mas como está difícil
caminhar...
Promessas Desfeitas
Quantas promessas foram feitas
E morreram entre os dentes...
Quantas pessoas saíram pra rua
Atrás de amor
E esqueceram seu cérebro
Em casa...
Quantas lágrimas foram derramadas
E secaram nos olhares alheios...
Quantas pessoas saíram da rua
Por falta de amor
E levaram seu cérebro cansado
Pra casa...
Promessas são comida
Para os dentes
Amor em excesso é parasita
Para o cérebro
Pessoas são hóspedes
Do amor doente.
Lágrimas secas
Promessas desfeitas
O que o coração sente
O cérebro nem sempre consente.
Show!
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