Não sei se posso dizer que o poema que posto hoje é uma
homenagem ao poeta chileno Pablo Neruda, autor de “20 poemas de amor e uma
canção desesperada”. Não sei, Neruda, pois, ao contrário do título do seu
livro, desfaço dos 20 poemas de amor; no momento, só tenho a canção
desesperada.
O poema faz referência a um dos livros mais famosos de Pablo
Neruda e cita a data de dois momentos trágicos que me marcaram nos últimos
anos: as chuvas na região serrana do dia 12 de janeiro de 2011 e o suicídio de
Adriano Gonçalves (hoje faz 7 dias do recebimento da notícia de sua morte). É
triste, mas é uma tentativa de canção sem arranjo, uma canção silenciosa e
desesperada, uma canção, como gostamos sempre de lembrar Adriano; com e como
música, que permanece no infinito.
Nenhum poema de amor
(Apenas uma canção desesperada)
Eu tinha 20 poemas de amor
Para te molhar,
Mas a chuva levou 12 deles,
Quando a enchente inundou
A sala de estar.
Um arco-íris até apareceu,
Após a noite de terror.
Mas foi rápido demais,
Perdeu a cor
E não vi nada:
Agora são 8 poemas de amor
E uma canção desesperada.
Eu tinha 8 poemas sobreviventes
Para te aquecer,
Mas o fogo incendiou 7 deles,
Quando a vela do amigo ausente
Terminou de queimar.
O calor até aumentou,
Após o sétimo dia de dor.
Mas ainda é recente demais
Pra se falar de ardor,
Pra se inventar contos de fadas:
Agora é apenas um poema de amor fingido
E uma canção desesperada.
Eu tinha 1 poema de amor sozinho
Para nos acompanhar,
Mas a carência o amargurou.
Quando o céu nublou,
Ele quis se apagar.
Um coração até bateu,
No instante em que ele desapareceu.
Mas estava cansado de apanhar,
Perdeu o ar de sonhador
E encontrou o nada:
Agora é nenhum poema de amor,
Apenas essa canção desesperada...
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