Sabe quando aquelas nuvens negras no céu, aquelas que sempre
vemos em tempos nublados, parecem mais escuras e melancólicas que antes? Sabe
quando o ambiente abafado parece cada vez mais abafado? Sabe quando você pensa
estar voando, aéreo, mas esse voo não faz bem (são asas pesadas e flutuar com
elas não é bom)? Sabe quando você parece voar, porque, na verdade, você não tem
chão? Sabe quando você não sabe e saber não é nada bom? Minha tarde nublada de
hoje veio assim: recebi a notícia, ainda vaga, pelo meu irmão.sobre a morte do
músico e compositor Adriano Gonçalves (sim, aquele com quem compartilhei
solidões poéticas aqui no blog, aquele que já participou do Sarau Solidões
Coletivas In Bar, aquele que trouxe o lema do sarau “A liberdade inspira a arte
dentro de nós”, Adriano, o cara, o compositor mais cantado por Zé Ricardo e
sempre lembrado pela banda Vibra Ação, chegando até a ter sua música cantada
por Fábio Ariera no IV Festival de Música de Rio das Flores/RJ).
Corre-corre atrás de confirmação – na verdade, buscava uma
vã não-confirmação - da notícia, o chão se abrindo sobre nossos pés, fui ao
bairro Jardim Valença, onde ele residia; uma comerciante vizinha ao apartamento
onde ele ficava me confirmou o que eu não acreditava: Adriano morreu; foi
encontrado, durante a manhã, enforcado no banheiro do apartamento. Ela me
apresentava a verdade inacreditável; nem eu nem ela parecíamos concordar com a
constatação dela: Adriano Gonçalves está morto. Retornei no tempo, me lembrei
de quando, mais jovem, fui na Rua do Sabão, procurar o André, irmão do Alvinho,
para ouvirmos Faith No More (éramos vidrados na banda e ele tinha todos os LPs)
e seus parentes me informaram que ele não estava mais entre nós, que ele havia
suicidado. Me lembrei vagamente do suicídio de minha prima poeta Eliete; eu era muito criança pra compreender que existem coisas incompreensíveis dentro do ser humano. Me lembrei de quando, um pouco menos jovem, o Ronaldo me contou que
haviam matado o Marcelo; estávamos na casa do Ronaldo, a mesma onde zoávamos
com o Marcelo, entre piadas, jogos e bebedeiras. Me lembro que uma vez, algum
tempo após ouvir uma canção que Adriano Gonçalves havia filmado e compartilhado no Google +,
chamada Arcádia, um dia, sem motivo aparente, disse pra minha namorada Juliana
que aquela música havia me chamado atenção (o refrão dizia: “Nada vale a pena /
se não estiver feliz / Nada vale a pena / se não tiver o amor”, com acordes
melancólicos, o conteúdo citava “vestes de solidão”, ele com o violão no quarto
em frente à webcam) e que achei a melodia dela diferente das outras. Mas, pra
mim, era apenas mais uma fodástica faceta musical de Adriano, mas, também, não
sei por que cismei com a letra e a melodia; meus poemas e meus eus sempre
flertaram com o abismo, sempre ameaçaram cair, mas nunca ousaram dar um passo
concreto no precipício. E agora essa notícia estranha; Adriano parecia rimar
com vida e é muito insólito escutar e/ou admitir: Adriano está morto. Dizem que
deixou uma carta; outros duvidam do suicídio; outros não acreditam, mas o fato
é que ele não está vivo, um fato impossível de ser deixado, duvidado ou
desacreditado. Não sei... O que sabemos é que ele era muito louco e um
compositor, um artista fodástico.
Queria deixar alguma poesia, alguma notícia boa, dizer aos
amigos leitores: “É mentira, peguei vocês!”, mas a verdade me pegou, me
atropelou e só posso lhes dizer que hoje não há notícias boas, as nuvens negras
trazem uma das escuridões mais tenebrosas que já vi. Da última vez que Adriano passou aqui na casa da Ju, eu estava aqui, mas dormia. Ela me disse que ele estava 'bem' e nem essa última imagem dele eu tenho hoje. Às vezes, acho que continuo dormindo, a sonolência perambula em mim ainda agora. Hoje não há mais poesia,
apenas uma lembrança de grandes canções e um silêncio triste por descobrir que
alguém se despediu e eu não percebi, não pude dizer adeus. E ainda não consigo
dizer, não sei o que dizer, não há o que dizer...
Entendo o que vc está passando, é simplesmente horrível a realidade de que ontem a pessoa estava ao teu lado e hoje não está mais. Que se vc pudesse voltar no tempo teria dito milhões e milhões de coisas, chorado infinitas lágrimas e dado eternos "adeus" mas saiba que de qualquer forma nada nunca seria suficiente.
ResponderExcluirPassei pela perda do meu irmão e é uma dor tão intensa e tão constante, que muitas vezes vc se perde dentro dela. Já tive raiva da vida por tê-lo tirado de mim, mas ao mesmo tempo que sofro lembro dos momentos incríveis que vivi com ele, dos pequenos atos de amor que tínhamos um para com o outro... era puro e verdadeiro. E embora tenha dito coisas horríveis a ele, e ele a mim, durante as brigas idiotas, sei que ele conhece meu coração e sabe que está pra sempre aqui cravado, então tento me contentar com o pensamento de que um dia, não sei quando nem como, vamos nos encontrar de novo e aí sim poderei ser inteira de novo.
Que Deus te abençoe, acredite vc nEle ou não, e te dê força para atravessar esse momento. Boa sorte.
muito obrigado por vcs terem feito parte da vida e da alegria enquanto estávamos tão longe , sem saber e nem poder fazer nada,muito grata mesmo ... Caroline conrado (irmã))
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