Ganhei um pedido de minha prima Priscila Toledo que se
transformou em um maravilhoso desafio: ela me pediu, durante a confraternização
do último Natal, um poema inspirado nas músicas da banda de rock
armeno-americana System Of Down. Prometi que o poema ficaria pronto próximo ao
dia do aniversário dela (29 de janeiro). Desde então ouço incessantemente as
canções dessa banda, que eu já admirava (o Ronaldo Brechane tem o mérito de ter
me levado a ouvir pela primeira vez o fodástico álbum “Toxicity”), pegando traduções
das canções mais conhecidas, as peculiares anáforas (repetições de expressões
e/ou palavras em diversos versos próximos), a acidez crítica das composições, tentando
acompanhar o ritmo intenso e múltiplo da banda, conhecida pelas letras
politizadas e preocupadas com questões sociais que afetam o mundo
contemporâneo. Tentei manter a temática meio social (não tão ferrenhamente
politizadas quanto as letras originais) e me inspirei nas canções “Aerials”,
“Prision Song”, “Chop Suey!”, “Lonely Day”, “ATWA”, “Toxicity” e “Psycho”, o
que deixou o ritmo do poema ainda mais louco (quem conhece cada música citada
sabe como o ritmo de cada uma delas varia). O título cita o nome da banda
(“System” = Sistema, na tradução literal, que não corresponde muito com a planejada pela banda, mas fica a homenagem literal rs).
Minha prima Priscila e eu |
Espero que a aniversariante Priscila Toledo e demais system-of-downmaníacos
gostem dessa doideira que fiz. Dedico também ao amigo Ronaldinho – é claro,
afinal ele quem me apresentou o som dessa fodástica banda – e à banda D’Hanks,
de Volta Redonda/RJ, que sempre toca uma cover, muito bem executada, do System
Of Down.
Tirando folga do sistema
Hey, garota, veja a vida,
Essa imensa cachoeira tão linda e infinita
Caindo sobre nossos corpos cansados
E passando, nos atravessando,
Enquanto nossos relógios se afogam
Na inconstância apressada do tempo,
No sistema carcerário da rotina,
Esperando um feriado pra voltar a funcionar.
Ah, a sexta-feira sagrada demora a chegar,
Ah, quantas asas queimadas até sexta-feira chegar!
Quantos anjos já matamos
Na busca corrupta por mais dinheiro,
Mais tempo presos, melhorando os piores salários?
Quantas asas nós já queimamos
No inferno do trabalho incansável
De ganhar mais pra gastarmos mais,
Vivendo os dias cada vez mais solitários,
Paralisados no movimento programado,
Estamos nos vendendo pra nos comprarmos,
Seguindo a lógica absurda do mercado!
É a toxicidade da cidade consumista:
Quanto mais nos arremessamos no concreto da rotina
Mais o céu se distancia
E os sonhos, que dormiram tão puros e vivos,
Acordam muito maduros, apodrecidos, completamente realistas,
E nossos sorrisos parecem chorar,
Precisamos voltar a sonhar de verdade, garota,
Antes que seja tarde demais!
Yeah, na próxima sexta-feira eu quero encontrar você,
Yeah, na próxima sexta-feira eu quero voltar a viver.
Estou cansado de ver todo mundo desaparecer
Na psicose de uma vida restrita a comer sementes,
Engolir migalhas, automaticamente foder e se foder e morrer,
Sem pausa pro café, sem um momento de prazer,
Estou cansado de ver você, eu e o resto do mundo
desaparecer.
Por isso vamos correr desse universo psicótico,
Por isso vamos viver aquele sonho louco
De se perder pra se encontrar,
De saber correr devagar,
Pra sobreviver, pra não se matar de tanto trabalho,
De tanto desgosto sem pecado,
Nós vamos vadiar
Bem longe do consumismo fugaz;
Nós vamos voltar a voar
Pra bem longe do passatempo dos boçais.
(Feche os olhos e volte a enxergar,
Sinta o som do sonho sem sono nos levar
Pra bem longe dos programas comerciais...)
Esta sexta-feira é sagrada
E nós vamos dançar sem passos programados;
Esta sexta-feira é sagrada
E nós vamos libertar o amor aprisionado,
Sem perdemos mais nenhuma gota das águas cristalinas
Da vida perdida nos outros dias;
Esta sexta-feira é sagrada, garota,
E nós vamos viver de verdade, com prazer
Mesmo sabendo que outra segunda-feira vem pra nos matar,
Mesmo sabendo que a vida é cachoeira que continua a correr
E nos levar...
Esta sexta-feira é sagrada
E nós vamos vivê-la sem nos vender,
Vamos viver, pelo menos uma vez,
Sem nada programado pra nos matar!