Tudo bem, postar após a meia-noite não é um fato normal pra
mim, principalmente se vou trabalhar daqui a pouco, de manhã, mas não posso
deixar de registrar o momento especial que vivi na noite de 10 de maio. Fui
convidado, por Janaína da Cunha, do Identidade Cultural & Movimento
Culturista, para declamar durante as festividades de inauguração da Exposição
em Cerâmica “Além da visão”, do Grupo “Luz da Terra”, às 19 h do dia 10 de
maio, na Aliança Francesa, em Niterói/RJ.
A Exposição “Além da visão” é o resultado de projeto, que já
tem quase 4 anos e é organizado pelo artista plástico Luiz Hazediaz, levanta a
questão do sensorial através da argila modelando, esculpindo e misturando artes
visuais a terapia para a reabilitação de Deficientes Visuais. Durante o evento,
declamei o poema “Uma escadaria em meu céu”, com a voz um pouco prejudicada
pela gripe, mas feliz de estar fazendo parte dessa primeira exposição das
esculturas dos artistas do grupo “Luz da Terra”. Ouvi o fantástico Otavio
Almeida cantando Piaf, acompanhado do maestro Gabriel Gonçalves, fato que
merece destaque para ouvidos que curtem um som harmonioso e maravilhosamente
executado. Ouvi, pela primeira vez, Janaína da Cunha declamando um poema dela.
Vi muitas manifestações artísticas que me maravilharam. Mas o que mais se
destacou nisso tudo foi o que não vi.
Explicando: por tratar-se de uma exposição de escultores
deficientes visuais, os organizadores realizaram conosco, espectadores, uma
dinâmica muito fodástica: eles vendavam nossos olhos e éramos guiados pela
exposição por um dos artistas deficientes visuais, que nos expunha suas obras
com sua forma de ver sua arte: através do toque, através do tato, através das
mãos. Depois, tirávamos as vendas e revíamos a exposição. Ou seja, de meros
espectadores das obras, nos tornávamos vivenciadores delas e reconhecíamos, com
a visão, as peças que outrora só conhecemos por tato. Fiquei realmente muito
encantado com essa experiência, tanto que esse episódio em minha existência
artística me fez gerar o poema que vocês, leitores verão / lerão mais abaixo.
Recomendo que passem na Exposição em Cerâmica “Além da
visão”, do Grupo “Luz e Terra”, na Aliança Francesa Niterói (as obras vão ficar expostas lá até o dia 1.º de junho), e, quando se depararem com
as peças, aconselho que fechem os olhos, as toquem e as vejam muito além da
visão. O poema, além de ser inspirado no que vivenciei na exposição citada, faz
referência à célebre frase do filme “Avatar”
- “I see you” (“Eu vejo você”), utilizada principalmente por Neytiri
quando esta queria dizer ao protagonista Jake Sully que via muito além do corpo
dele, que o amava plenamente.
Muito além da visão
Eu te vejo
enquanto cego tateias o infinito...
Os teus porcos de argila,
cofres onde depositas sonhos;
as tuas borboletas de argila
com as asas abertas
para o que tu não vês
(e como elas voam aos meus olhos!);
os teus castiçais de argila
sustentando a vela invisível
de tua cegueira brilhante;
os teus pássaros de argila,
ora ousados, ora retraídos,
cantam o silêncio
em teu olhar sereno,
muito além da visão;
a tua vida na argila,
a tua argila viva,
muito além de qualquer outra vida!
Eu te vejo!
Fecho meus olhos
e finalmente te vejo!...
I love the last three lines of this poem<3
ResponderExcluirI see you!
I close my eyes
and finally see you! ....
That is beautiful and true:)
Maravilhoso post, poeta!
ResponderExcluirCompartilho com vc a mesma emoção. Essa é mais uma prova do quanto a arte nos humaniza, nos faz seres melhores a cada dia ao encontro da evolução do verdadeiro sentido da humanidade dentro de nossas almas. Seus versos encantadores conseguiram expressar o que sentimentos ao "enxergar" o mundo com outra percepção, com a janela da alma, com os sentidos livres de qualquer deturpação de olhos e sentimentos carnais.
Um grande abraço!
Somos tão cegos, e somos cegos porque vemos, nos limitamos apenas a poucos sentidos, principalmente a visão, nisso eu discordo de Aristóteles completamente.
ResponderExcluirO poema ficou show de bola, como diz o meu filho. Os versos que falam em tatear o infinito, cofres onde se deposita sonhos é pra lá de maravilhoso Carlos.
O trabalho com os cegos foi para mim algo extraordinario. Gravei algumas historias pra eles, e quando fazia isso, me sentia tão feliz, pena que tive que parar, mas voltarei a fazer isso, pois os financiamentos para editar obras em braile, ainda é, vamos dizer, "inexpressivo". Quem sabe os governos deixem de assaltar os cofres públicos e decidam investir mais na educação de modo geral, principalmente com a questão da inclusão.
Obrigada pela dica, vou ver se dar para ir a exposição no fim de semana que vem ou durante a semana mesmo.
Muito legais as esculturas e o poema que nasceu delas, pena q deu deu pra eu ir. Espero poder estar lá na próxima pra ver esse super trabalho!
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