quarta-feira, 30 de maio de 2012

O rock nacional, a Identidade Cultural, o Movimento Culturista e nós, os loucos artistas



O vídeo acima registra alguns momentos especiais vividos no evento "Identidade Cultural & Movimento Culturista", do último sábado de maio de 2012, dia 26, no Café do Bom, Cachaça da Boa, na Rua da Carioca, centro do Rio de Janeiro.
Organizado por Janaína da Cunha, o evento teve como tema a "Homenagem à expressão poética e social do rock nacional".
Participei do evento declamando poemas de minha autoria, já publicados aqui no blog "Diários de Solidões Coletivas", em homenagem aos Detonautas, a Titãs e a Herbert Vianna e às musas do rock nacional (inventei uma para mim, batizada de "Samurai Sherazade", dedicado a Nana B. Poetisa, que participa da apresentação com uma performance de dança); e o poema "Pulando, da genial poetaluna Suelen Cristina, da E. M. Alcino Francisco da Silva. 
O vídeo registra também fragmentos das apresentações de Carlos Orfeu (com direito a homenagem a Renato Russo) e do músico Helio Soria, além da homenagem sensibilíssima de Lucilia Dowslley a Cazuza e fotos do evento.


Solidões compartilhadas: As viagens líricas do passado de Flávia Vargens Parte 2

Hoje seguimos viagem pelos poemas adolescentes que a professora de Ciências Flávia Vargens por tanto tempo guardara. Dica do guia nessa segunda parte da viagem: observem as vírgulas, colocadas entre sujeitos e predicados, em "Seguir vivendo" - é sintaticamente incorreto para o Português, mas encaixa-se perfeitamente em um poema que fala sobre a impossibilidade de viver junto com a pessoa amada; lamento, puritanos das Normas Gramaticais Brasileiras, mas a poesia é ainda mais bela, quando quebra as leis da gramatiquice! Também recomendo observarem o toque concretista - principalmente pelo encerramento genial do poema - em "Somos...".
Que nossa máquina do tempo siga com a mesma intensidade a sua viagem lírica pelo passado lírico da escritora:

Tempo a passar

O dia já é noite,
O sol já é lua,
Gaivotas são estrelas.
No decorrer das horas,
Vejo tudo mudar.

Minutos viram horas,
Horas viram dias,
Dias transformam-se em semanas...
E o tempo a passar...

O tic-tac do relógio
Ninguém sabe explicar,
Também o vai e vem
Das ondas do mar,
Das pedras do Arpoador,
É o sol a queimar a água
Fazendo tudo mudar.

E isso tudo junto
É o tempo a passar...
(04/07/1998)

Seguir vivendo

O seu abraço querido,
Partiu.
O beijo doce,
Sumiu.
A pele macia,
Não posso tocar.
O cheiro gostoso,
Perdeu-se...
Como sândalo no ar,
Eu sem você
Preciso, apenas, seguir vivendo.
(14/08/1998)

Acabou

Engraçado,
Há um tempo atrás,
Contava os dias
Esperando sua volta.
Agora
Deixo eles passarem
E nem sinto.

Passei momentos difíceis
E agora você não faz falta:
O seu beijo ficou sem gosto,
Seu abraço perdeu a graça
E consigo rir da minha preocupação.
(17/01/2000)

Somos...

Natureza
branco, preto
sim, não
tudo, nada.

Diferença, igual, sonho
arte, lágrima, suspiro
silêncio, coração, livres,
ideia, razão.

Fantasia, saudade, alegria
paixão, solidão, desejo
surpresa, verdade.

Aventura, mistério, carinho
palavra, música, corpo
vida, brilho.

Passado
             presente
                          futuro

Pó, nó, GENTE
(05/07/2000)

Sol e lua

És sol, luz...
Brilhar quente,
Presente no dia,
Acolhe.

Sou lua, fria...
Bela Luna,
Longe...
Sou a dama da noite.

Vejo´te de longe...
Amo-te loucamente,
Desejo o teu calor
Para aquecer meu tempo sombrio.

Nunca nos cruzamos,
Somos caminhos opostos...

Deixo-te aqui,
Parto para mais um sono...
Sigo desejando-te,
Amando-te...
Basta!
Aqui é o fim
Do que nunca começou.
(04/08/02)    

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Solidões compartilhadas: As viagens líricas do passado de Flávia Vargens

Hoje compartilho minhas solidões poéticas com um lado adolescente que a professora de Ciências Flávia Vargens, por muito tempo, ocultara entre um estudo de células e um aparelho respiratório científico e com poucos ares líricos. Viajante constante, eterna "on the road", Flávia Vargens conhece partes do Brasil e do mundo (Alemanha, Tchecoslováquia, França, Estados Unidos, etc) que muitos brasileiros sonham ir e conhecer. Porém, a viagem que Flávia fez para entrar neste blog, foi diferente de todas as outras: ela invadiu gavetas de sua história e, com o passaporte da memória, viajou no tempo e, em posse de antigos cadernos com escritos de sua adolescência, trouxe-me poemas produzidos na juventude. 
Leitora extremamente crítica, Flávia Vargens questionou muito a arte de seus eus líricos adolescentes e me deixou a cruel tarefa de analisá-lo e decidir se deveria resgatá-los da poeira dos tempos ou condená-los ao terrível esquecimento. Analisando as obras artísticas juvenis de Flávia Vargens, pude viajar com ela num tempo que não retorna mais, mas que deixa marcas líricas em nossos corações. Podemos perceber claras influências do ultrarromantismo, do rock nacional (entre essas tendências, há um quê de Legião Urbana e Titãs em suas obras) e internacional (os cadernos de poemas traziam também em seu final letras de músicas dos Beatles). Há momentos geniais, de raro lirismo, como o poema matemático "X da questão" - raros são os gênios poetas que ousam misturar matemática com poesia - e outro, em que ela aventura questionar pensadores conhecidos na psicologia da educação. 
Em meu julgamento das obras, não posso deixar de ser tendencioso e a favor dessa poeta adolescente guardada na Flávia Vargens adulta; afinal carrego em minha poética um pouco também de meu velho lirismo juvenil e deixo aos leitores a passagem livre pra essa viagem lírica pelos velhos poemas juvenis de Flávia Vargens, com o desejo de que a jovem escritora retorne na professora adulta (a própria autora me informa que continua escrevendo textos literários, agora mais voltados ao gênero crônicas de viagem). A viagem pelo universo lírico adolescente de Flávia Vargens começa hoje e prossegue amanhã. Boa viagem!

Gotas de lembrança

Olho pela janela
E só vejo as gotas de chuva
Que caem nela,
Gotas que me fazem viajar.

Entro nas gotas
E me pego a vagar.
Ando pelo mundo
E meu mundo é você.

Em sua forma perfeita,
Brilha sua essência
E lembro-me de sua ausência.

Que lembrança ruim!
Quero voltar,
Voltar pra dentro de mim!
(22/03/1997)

Tempo

Corre, anda depressa,
Pega o ônibus,
Cuidado com o trânsito,
Voa tempo.

Não vai dar,
Não vou chegar,
Não vai dar tempo,
Voa... voa tempo.

O tempo corre,
O tempo voa,
Vamos pegar uma carona
Para o paraíso,
O paraíso onde não há tempo,
Onde não se corre,
Onde não há atrasos,
Onde o tempo não voa,
Onde não há relógios,
Ponteiros, horas,
Minutos, segundos,
Para tudo dá tempo.

Não há pressa,
Há calma,
Amiga da perfeição.
(14/08/1997)

Desenho no papel
O dia em que você apareceu
Teço minha vida
Que não aconteceu.

Lembra? Pretendíamos
Caminhar juntos
Rumo a eternidade.

Vivo um sonho
Que agora é só meu
O dia já é noite
Agora que você me ESQUECEU...
(15/03/1998)

X da questão

Do meu conceito diminuí as dúvidas,
Somei outras possibilidades,
Dividi por novos caminhos.
Depois que resolvi meus parênteses, colchetes e chaves,
Encontrei o x da questão,
Descobri que o importante não é a solução
E sim a compreensão durante a alfabetização,
A matemática tem SOLUÇÃO!
(27/03/1998, em parceria com Gisela, Renata Michelle, Tatiana e Camila)

Visão adolescente

Vygotsky, Piaget, Freud?
Pra quê? Eu não sou maluca!
Situação de crise?
Freud explica...
Não sei o quê!
A bagunça da minha vida
Só eu consigo entender.

Análise, terapia,
Isso é coisa de maluco!
O vai e vem da vida
Meus amigos ajudam a entender.
O que dizer,
Fazer, pensar e vestir,
Meus amigos indicam.

A vida é um jogo de imitação,
Não há Freud que explique,
Piaget que desenvolva,
Vygotsky que reflita,
Pois quem compreende mesmo é
A Jô, ou então, a Lú,
Que dizem: Just do your best!

domingo, 27 de maio de 2012

Sarau Solidões Coletivas In Bar 2: O segundo engradado


Conforme informei os leitores, quando retomei as postagens, após algum tempo offline para o blog, o "Diários de Solidões Coletivas" vive uma fase mais inserida em eventos mais reais que virtuais. Hoje finalmente posto o vídeo do "Sarau de Poesias Solidões Coletivas In Bar 2: O segundo engradado", realizado no fim de tarde de sábado, dia 19 de maio, no Open Bar, em Valença/RJ.  O motivo do atraso na postagem deve-se  a uma falha inicial de processamento do vídeo no youtube. Resolvido o problema, posto a versão revisada,com pequenas alterações no vídeo e formato mais completo do clipe produzido.
No dia 19 de maio de 2012, Juliana Guida Maia, Érick Ramos, Giovanni Nogueira, Jaqueline Maria, Ronaldo Brechane, Ana Rachel Coêlho, Alecsandro Sandro Sandrinho, Lucimauro Leite, o músico Zé Ricardo e eu realizamos a segunda edição do Sarau Solidões Coletivas in Bar (batizada de "Sarau Solidões Coletivas In Bar 2: O segundo engradado"), no Open Bar (ex-Bar do Juquinha), em Valença/RJ, O evento comemorou a segunda edição do Jornal Valença em Questão e contou, entre os poemas declamados, a premiada obra-prima "Primeira pessoa", gentilmente cedido por Camila Rocha Canedo, que não pôde comparecer ao vivo ao Sarau.
Acima vocês podem ver o vídeo revisado, na íntegra, e abaixo o vídeo que teve problema no processamento, perdendo assim 4 minutos do vídeo acima, porém contendo ângulos diferentes da filmagem da música "Filhos do ódio, frutos do amor", música de Adriano Gonçalves, interpretada por Zé Ricardo.


Minha musa ploc poética: Samurai Sherazade

Ontem, participei do "Identidade Cultural & Movimento Culturista", organizado por Janaína Cunha, cuja temática era "Homenagem à Expressão Social e Poética do Rock Nacional". Em tributo às musas do rock nacional de 80 ("Menina veneno", "Bete Balanço", "Andrea Doria", "Kátia Flávia", "Adelaide", "Fátima", "Ana", do "Refrão de Bolero", de Engenheiros do Hawaí, entre tantas outras) e a poetamiga Nana B. Poetisa, criei minha musa ploc poética, a Samurai Sherazade. Também foi inspirado no metal com influências indianas da banda brasileira "Dust from Misery" (em especial, a canção "Blessed"; ouçam em alto e bom som!). O poema ficou oculto até o momento, pois foi planejada uma performance dele realizada por mim e pela Nana e só revelada para a organizadora Janaína no momento de nossa apresentação (o vídeo estará em breve aqui no blog). Agora, leitores, tenho o prazer de apresentar-lhes a minha musa ploc poética, nacional oriental indiana Samurai Sherazade:



Samurai Sherazade

Suave agitação em meu sono silêncio...
Eis a música, eis a musa que me ergue para um continente
Que desconheço...
Ela dança sobre a superfície macia dos sonhos esquecidos
E me traz uma Índia que eu não tive, um universo perdido
Que só encontro em seus movimentos ágeis, serenos
E selvagens...
Seus pés sorriem ritmos que seduzem meus olhos castanhos, atentos
E sedentos...
Seus pés são doces vampiros que sugam horizontes longínquos
No hemisfério salgado e carente de meus contentamentos
Mais descontentes
E ela dança sua valsa cigana indiana, religiosa e profana,
Em louvor à Deusa fanática das artes;
Ela é Samurai Sherazade, nuvem lírica da carne,
Dançando sobre o tapete mágico da liberdade,
Sobrevoando os céus das bocas e das vontades,
Esvoaçando seus véus de honra e lealdade,
Empunhando cimitarras de sutis tempestades.

Então a música beija o silêncio,
A musa encerra seu movimento,
Samurai Sherazade parte, lá se vai a nuvem única de mil faces!
Samurai Sherazade sempre sai, deixando-me o orvalho de alguma eternidade...
(Agitada suavidade, fecho meus olhos e espero outra dança,
Um novo momento com Samurai Sherazade...)   

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Aos que procuram novas notícias

Quadro do pintor cabo-verdeano
Miranda Brito
Confesso que hoje tive um dia bastante cansativo (em breve, postarei algo sobre bancos, departamento de defesa pública e como nos sentimos Gregor Samsa metamorfoseado de barata diante de tais instituições), mas, lendo os textos de meus alunos, minhas dores de cabeça passaram (pelo menos, até o próximo murro de realidade que, eu sei, estou prestes a levar). Por isso, posto hoje apenas uma pequena prosa poética de esperança por dias melhores, mais poéticos e menos ignorantes:




Aos que procuram novas notícias


Queria trazer-lhes novas notícias, mas nada mudou desde que pisei nesta terra árida pela primeira vez.
Não tenho motivos para novas emoções...
Ainda sou o mesmo e nem por isso sou infeliz, pois sei rir dos absurdos cotidianos e tenho a melodia silenciosa da poesia em mim!



Solidões compartilhadas: Pulando muito com Suelen Cristina


Hoje compartilho minhas solidões poéticas com mais um talento da E. M. Alcino Francisco da Silva, a genial poetaluna Suelen Cristina. Estudante do 9.º ano do Ensino Fundamental, fã da noite e poeta dedicada, Suelen tem me apresentado variados textos de sua autoria, sempre preocupada com a estética de seus textos (ela faz, refaz, pede opinião, solicita análises apuradas, pede-me que eu lhe confesse segredos da poesia, ufa, é uma escritora viciada na escrita). Seus contos e poemas trazem um estilo extremamente próprio e, ao mesmo tempo, metamorfoseado – a jovem poeta apresenta influências diversas, ao mesmo tempo em que marca seus textos com um estilo próprio e intenso demais. 
O poema “Pulando”, de Suelen, o primeiro que posto no blog (aviso que a presença dos textos dela serão uma constante no blog, tamanho o talento e empenho da jovem escritora) tem uma razão especial para ser o pioneiro nesta páginas virtuais: ela me mostrou esse poema essa semana, após as aulas de figura de linguagem nas letras de música de Renato Russo e, segundo ela, é uma homenagem aos ídolos desse professor poeta pateta que vos fala e também aos gostos artísticos de sua mãe (reparem que, no poema, o eu lírico apresenta músicos – vivos e falecidos, seja como for, eternos – e livros). Por coincidência lírica, nessa semana, eu me preparo pra me apresentar no evento Identidade Cultural & Movimento Culturista, cujo tema desse mês é “Homenagem à Expressão Social e Poética do Rock Nacional” (os leitores que quiserem aparecer,  o evento rola no “Café do Bom, Cachaça da Boa”, na Rua da Carioca, neste sábado, a partir das 12h), então o excelentíssimo poema de Suelen acabou se encaixando na minha apresentação. Pra ler, pulando muito!

Pulando

Pulando na minha cama,
saindo do estado normal
para uma pequena loucura inocente,
eis que me aparece o Cazuza
que exageradamente me pede
para pular também.

Logo depois, veio Renato Russo
que começou a pular
e me fazer lembrar
de todas pessoas que eu amei
como se não houvesse amanhã.
Infelizmente são as que mais me fizeram sofrer...

A Lua também quis pular
então ela desceu e parou o luar.
As estrelas, cheias de inveja,
também desceram.
E lá vem Toquinho
com a aquarela da vida louca!
Até o Pequeno Príncipe veio
porque o essencial é invisível para os olhos,
só se vê bem pulando.
A noite só ficou olhando e pensando:
Não quero estar aqui, quando amanhecer!

Só faltou Cássia Eller chegar
e dizer: “Bobeira é não viver a realidade”.
Fala sério, Cássia!!!
Por que não viver a loucura
quando a realidade está sobrecarregada?

quarta-feira, 23 de maio de 2012

A volta dos que não foram: O caminho

Olá, amigos leitores. Após um longo tempo (para o blog), retomo as postagens. Justifico minha demora: alguns projetos escolares estão em andamento e tive que me dedicar um pouco ao eu professor e deixar os eus líricos restantes descansando por uma pequena temporada. Outro fato que me fez atualizar pouco o blog é o fato de cada vez mais o blog equilibrar-se entre o real e o virtual, devido a uma quantidade significativa de eventos (realizamos o "Sarau Solidões Coletivas in Bar: Segundo engradado" - em breve, posto o vídeo do evento que ocorreu no dia 19 de maio - e tenho participado de diversos eventos como o "Identidade Cultural & Movimento Culturista", que acontece no Rio de Janeiro/RJ - no próximo, dia 26 de maio, estarei participando ativamente em companhia de Juliana Guida Maia, Janaína Cunha e Nana B. Poetisa). O que importa é estar de volta, compartilhando poéticas solidões (senti virtuais saudades de postar aqui e ler os comentários de vocês, leitores. Juro que não é fingimento poético). Então retomemos "O caminho", velho poema juvenil meu, publicado em meu primeiro livro, "Fim do fim do mundo", de 1997.  O tempo passou, mas o caminho continua árduo e caminhado com passos de livre lirismo:


O caminho

Atravesso reto uma curva perigosa
E um carro quase me atropela
Um carro imponente diante de meu corpo
impotente
Um carro que nunca dá seta.

O caminho é longo e muito estreito
O espaço é pequeno quando se está
sozinho.
O caminho é muito estreito
Mas não posso parar.

Atropelo a multidão que me atropela
Desafio os carros que me desafiam
Desvio dos meus próprios desvios
Corro, paro, penso
Ultrapasso meus limites.

O caminho é longo e os desafios infinitos
Me atropelo, mas continuo comigo
O caminho é longo
Mas eu o sigo.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Poema rock para ninar: Esta não é uma canção de amor comum


O poema inédito que posto hoje tem dona. Explico: hoje faz aniversário uma das minhas amigas virtuais mais queridas, a escritoramiga e roqueira contentemente incurável Laura Osb (ou Laura Roberto, ou Laura Jovi, ou a Laura o que ela desejar ser nesta data querida). Como sou poeta às (muitas) vezes excêntrico, escolhi parabenizar minha amiga de uma forma diferente das felicitações comuns: fiz um poema em sua homenagem. Para isso, escolhi citar um fato marcante e recente da vida de Laura – o fato de ela ter se tornado, mais uma vez, mãe, trazendo ao nosso mundo mais uma poesia viva, mais uma estrela pra nos iluminar nesses dias de rara esperança e muita escuridão (dessa forma, estendo também o presente para todas as mães, para as quais fiquei devendo um poema de Dia das Mães) -, somado a citações de canções da banda de rock estadunidense Bon Jovi, um dos conjuntos preferidos de Laura. 
O Bon Jovi grupo bastante renegado por metaleiros, porém atire o primeiro solo de guitarra quem nunca se surpreendeu, em algum momento da vida, com ciscos nos olhos diante de qualquer balada da banda liderada por Jon Bon Jovi. O leitor roqueiro atento perceberá, dentro de meu poema, citações de alguns dos principais hits do Bon Jovi (“You Give Love A Bad Name”, “Wanted Dead Or Alive”, “This is Love, This is Life”, “These Days”, “Thank You For Loving Me”, “Always”, “Bed Of Roses”, “For You”, “Have a Nice Day”, “It's My Life”, “This Ain't A Love Song”), assim como notará a citação também dos títulos de canções de dois ícones do rock brasileiro, Renato Russo (“Via Láctea”) e Herbert Vianna (“Nebulosa do amor”). Assim construí para o poema-homenagem um eu lírico mãe, guerreira, roqueira, bonjoviana, em tributo a Laura Osb e suas mil e uma faces femininas que tanto cativam os que têm o privilégio de conhecê-la, mesmo que seja apenas virtualmente. Espero que a aniversariante e os leitores gostem do rock baby poema bonjoviano:

Esta não é uma canção de amor comum
(Meu amor, meu bebê)

Esta Julieta às vezes sangra demais,
Mas você não pode ver seu sangue, meu bebê,
Deixo os sentimentos tristes escorrendo no silêncio
Pra que você veja apenas meu rosto sorriso,
Pra que você sinta o perfume das rosas sem espinhos
Na cama florida que arrumei pra você...
E talvez me falte alguma canção de amor
Pra ninar sua primeira primavera,
Talvez esta mãe não lhe cante mais nenhuma canção do antigo amor,
Mas você só verá amor a sua volta, meu bebê,
Porque ele está em você, ele é você;
Talvez nenhuma canção de amor traduza o quanto amo você,
Meu amor, meu bebê...

Fui atingida no coração e você é o culpado;
Por um crime tão perfeito, prendo você em meus braços
E lhe desejo um bom dia, todos os dias, todos os meus bons dias com você
E, morta ou viva, eu respiro um novo sonho em você,
Invulnerável ou ferida, sou sua fortaleza impenetrável, sua defesa mais confiável,
Sou carcereira encarcerada nas grades invioláveis de suas alegrias,
Obrigada por seu amor sem fim, obrigada por me deixar amá-lo assim
E assim deixo seu corpo trancado em liberdade na infinita felicidade de ter você, 
Deixo as tristezas guardadas num rosto sorriso pela eternidade de seu brilho,
Minha estrela, meu amor, meu bebê...  

Os rios que às vezes choro por dentro
Deságuam nos beijos felizes que deixo em seu rosto sereno,
Tão belo, tão leve, tão pequeno e tão imenso...
Nesses tempos perplexos, em que as estrelas parecem cada vez mais distantes,
Você brilha em meu colo, astro fantástico do meu ser,
Eu voo com você pela nebulosa do amor, pelo céu de uma nova vida,
Sou sua Via Láctea, sou o universo todo a proteger sua constelação
Tão frágil, tão minha, tão rara e tão rica...
Meu amor, meu bebê, minha vida!

Solidões compartilhadas: "Esse ódio", de Ivan de Souza Esteves

Hoje compartilho minhas solidões poéticas com o jovem teresopolitano Ivan de Souza Esteves, poetamigo e desenhista, mais um grande talento que encontrei nas salas de aula da Escola Municipal Alcino Francisco da Silva, onde leciono. Inspirado na temática do bullying, Ivan produziu, de forma primorosa, um poema contundente, onde o eu lírico, vítima de extremas violências, toma uma decisão radical e infelizmente muito comum em casos de agressões na escola (de cada 8 vítimas de bullying nos E.U.A., uma se mata). 
Quando informei a Ivan que eu tinha interesse em publicar o seu poema em meu blog, o jovem artista - outrora tímido e pouco participativo - fez questão de explicar-me o processo de sua produção artística, ilustrá-la e prepará-la para a postagem. Além do poema, posto outros desenhos desse jovem artista que faz poesia não só com as palavras, mas também com as imagens. Confiram vocês mesmos, leitores, o talento inigualável de Ivan:


 

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Poema abolicionista aprisionado: 13 de maio

O poema que posto hoje, na verdade, é um poema de ontem. Explico: devido ao Dia das Mães, à infinidade de finais de campeonatos estaduais, preferi publicar o poema inédito sobre a abolição da escravatura, que cai no dia 13 de maio - quase esquecido num dia de tantas comemorações - só hoje. Outro fator que atrasou a postagem foi um certo receio quanto à compreensão do poema que publico. Diante de uma pós-modernidade que atualmente processa os próprios afrodescendentes por preconceito racial (estou falando do caso de Alexandre Pires, que está sendo processado pelo Movimento Negro por racismo, devido a um clipe de muito mau gosto [devido à dança do king kong apresentada no vídeo que promove um suposto single de péssima qualidade] - muito ruim mesmo, assim como a canção, porém má [ou falta de] qualidade musical, falta de noção [várias letras funk e de outros ritmos apresentam letras pobres e sem o mínimo respeito ao mínimo lirismo necessário pra uma manifestação artística, ainda que de massa] e produção tosca não devem ser confundidos com preconceito; Alexandre Pires merece ser execrado por sua pobreza artística, mas ser processado pelo que não fez é, no mínimo, um panorama perturbador de nossas paranóias pós-modernas. Temo, cada vez mais, estarmos tropeçando numa previsão preocupante do Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, quando as minorias vão censurando, censurando, a ponto de os livros passarem a serem todos queimados, pois nenhuma arte agrada gregos e troianos (mas lembro que o último clipe de Alexandre Pires conseguiu desagradar a todos os grupos, o que ainda não justifica um processo ligado a preconceito racial por um artist aque já foi considerado um representante do mesmo grupo que o processa). 
Voltando ao poema que publico hoje, informo que, antes que os processos apareçam, não trago em meus versos nenhuma postura preconceituosa com nenhum membro da única raça que conheço: a raça humana. Meu poema critica o lento processo de abolição da escravatura e a continuidade da marginalização daqueles que foram (e ainda são) vítimas de um sistema capitalista, hipócrita e explorador, assim como o fez o escritor afrodescendente Machado de Assis (o maior escritor brasileiro que tive a oportunidade de ler) em suas crônicas da coluna "Bons Dias" quando denunciou em sua época o aproveitamento de alguns membros da hipócrita sociedade carioca para ganharem vantagens diante da mais que urgente (e, por muito tempo, emperrada) abolição da escravatura. Lembro também que o Dia da Consciência Negra não se dá no dia 13 de maio devido a essa ambiguidade da data (a princesa Isabel assina a Lei Áurea, mais por uma pressão política, pela explosão de resistência dos afrodescendentes insatisfeitos com sua situação retrógrada escravagista e por um intenso ativismo dos abolicionistas - sejam aproveitadores da libertação inevitável, sejam autênticos defensores dos direitos humanos). O poema revê esse momento histórico, objetivando a reflexão para essa data e o resultado do processo abolicionista, que retirou os grilhões enferrujados dos pulsos dos afrodescendentes e os atou à marginalização no sub-emprego, na ausência de projetos que lhes aumentassem a perspectiva de uma trajetória mais digna e melhores condições de vida em uma sociedade eurocêntrica hipócrita, conservadora e aproveitadora. Espero que os leitores compreendam o poema e percebam que o caminho pra igualdade não é feito a partir de interpretações unilaterais, nem por restrições defensivas paranóicas ao que se convém chamar de 'politicamente correto' (leia-se hipocrisia pós-moderna):


13 de maio

A escrita branca da princesinha vazia
declara a liberdade negra tardia.

A mão macia que assina a lei progressista
desconhece a mão calejada libertada,
mas entende muito de política:
dá-se a pescaria, mas o peixe, a vara de pescar,
vai se virar, importante é acreditar
na farsa e na utopia.

Cai aflita a já decadente aristocracia,
elege-se contente a nova burguesia
e viva o libertado, mesmo que desempregado;
no Brasil, nasce uma nova forma de trabalho,
empregos sem salários, alforriados escravizados,
a liberdade negra falsificada
pelos brancos protagonistas encenada.

Os pálidos abolicionistas, ainda que meio escravagistas,
comemoram os futuros votos de liberdade postiça
para os analfabetos de uma nova sociedade mestiça.

E hoje em dia Isabel é a heroína
vendida pelo afrodescendente autônomo da esquina.

Solidões compartilhadas: O caminho de Gilson Gabriel

Hoje compartilho minhas solidões poéticas com o mestre, professor e companheiro de saraus, o poetamigo valenciano Gilson Gabriel. Com posição política bem definida (sempre "à esquerda"), dono de um lirismo rico em valores humanos e sabedoria , hoje Gilson Gabriel nos leva "ao caminho" da arte e da resistência lírica ao universo que nos massifica:


Ao caminho

Apraz-me o caminho mais que a chegada
É por ele que definimos quem somos
É por ele que agregamos novas forças
É por ele que atestamos a que nos dispomos.

Apraz-me o caminho mais que a chegada
Pois é o caminhar que, paulatino, o constrói
Pois é onde se dão encontros e desencontros
Pois é onde a desventura se supera e se destrói.

Apraz-me o caminho mais que a chegada
Ele é ponte que liga início e fim
Nele é que se fazem as aventuras e lutas
E cumpri-lo é sempre certeza de avanço ao futuro!


sexta-feira, 11 de maio de 2012

Olhos cegos que veem além


Tudo bem, postar após a meia-noite não é um fato normal pra mim, principalmente se vou trabalhar daqui a pouco, de manhã, mas não posso deixar de registrar o momento especial que vivi na noite de 10 de maio. Fui convidado, por Janaína da Cunha, do Identidade Cultural & Movimento Culturista, para declamar durante as festividades de inauguração da Exposição em Cerâmica “Além da visão”, do Grupo “Luz da Terra”, às 19 h do dia 10 de maio, na Aliança Francesa, em Niterói/RJ.
A Exposição “Além da visão” é o resultado de projeto, que já tem quase 4 anos e é organizado pelo artista plástico Luiz Hazediaz, levanta a questão do sensorial através da argila modelando, esculpindo e misturando artes visuais a terapia para a reabilitação de Deficientes Visuais. Durante o evento, declamei o poema “Uma escadaria em meu céu”, com a voz um pouco prejudicada pela gripe, mas feliz de estar fazendo parte dessa primeira exposição das esculturas dos artistas do grupo “Luz da Terra”. Ouvi o fantástico Otavio Almeida cantando Piaf, acompanhado do maestro Gabriel Gonçalves, fato que merece destaque para ouvidos que curtem um som harmonioso e maravilhosamente executado. Ouvi, pela primeira vez, Janaína da Cunha declamando um poema dela. Vi muitas manifestações artísticas que me maravilharam. Mas o que mais se destacou nisso tudo foi o que não vi.
Explicando: por tratar-se de uma exposição de escultores deficientes visuais, os organizadores realizaram conosco, espectadores, uma dinâmica muito fodástica: eles vendavam nossos olhos e éramos guiados pela exposição por um dos artistas deficientes visuais, que nos expunha suas obras com sua forma de ver sua arte: através do toque, através do tato, através das mãos. Depois, tirávamos as vendas e revíamos a exposição. Ou seja, de meros espectadores das obras, nos tornávamos vivenciadores delas e reconhecíamos, com a visão, as peças que outrora só conhecemos por tato. Fiquei realmente muito encantado com essa experiência, tanto que esse episódio em minha existência artística me fez gerar o poema que vocês, leitores verão / lerão mais abaixo.
Recomendo que passem na Exposição em Cerâmica “Além da visão”, do Grupo “Luz e Terra”, na Aliança Francesa Niterói (as obras vão ficar expostas lá até o dia 1.º de junho), e, quando se depararem com as peças, aconselho que fechem os olhos, as toquem e as vejam muito além da visão. O poema, além de ser inspirado no que vivenciei na exposição citada, faz referência à célebre frase do filme “Avatar”  - “I see you” (“Eu vejo você”), utilizada principalmente por Neytiri quando esta queria dizer ao protagonista Jake Sully que via muito além do corpo dele, que o amava plenamente.

Muito além da visão

Eu te vejo
enquanto cego tateias o infinito...

Os teus porcos de argila,
cofres onde depositas sonhos;
as tuas borboletas de argila
com as asas abertas
para o que tu não vês
(e como elas voam aos meus olhos!);
os teus castiçais de argila
sustentando a vela invisível
de tua cegueira brilhante;
os teus pássaros de argila,
ora ousados, ora retraídos,
cantam o silêncio
em teu olhar sereno,
muito além da visão;
a tua vida na argila,
a tua argila viva,
muito além de qualquer outra vida!

Eu te vejo!
Fecho meus olhos
e finalmente te vejo!...

Meu filho-poema selecionado na Copa do Mundo das Contradições: CarnaQatar

Dia de estreia da teoricamente favorita Seleção Brasileira Masculina de Futebol na Copa do Mundo 2022, no Qatar, e um Brasil, ainda fragiliz...