quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Contos famigerados: Minha redação de "Minhas férias"

Desenho de Lucas Rodrigues
inspirado na música "Eu vi gnomos".
Mais desenhos do rapaz podem ser
encontrados no link:
http://lr13desenhos.blogspot.com.br/  

Foi mal o sumiço, galera! Após mais um intenso e fodástico Sarau Solidões Coletivas In Bar (em breve, posto os vídeos do evento), resolvi tirar breves férias do blog. Mas não resisti muito tempo ao ostracismo autoimposto e voltei cheio de saudades desse compartilhamento de solidões coletivas! E pensando em férias, trago para os amigos leitores um conto inédito, uma história inventada que satiriza a famigerada 'redação sobre as suas férias' que alguns professores têm a mania de nos atirar como atividade inicial em todo começo de ano letivo, sem uma preparação, nem contato com outros textos sobre o tema. Como, além de escritor, sou professor de Português e, desde meus tempos de aluno, detesto essa atividade (quando praticada sem contextualizar o aluno, mostrar-lhe um texto sobre o assunto, etc), resolvi me vingar, criando uma história fictícia, uma redação forjada sobre as férias de um personagem muito louco (pelo menos, passou o período das férias enlouquecido), usando alguns traços característicos de redações iniciais de crianças e adolescentes. Para ser lido ao som de "Eu vi gnomos", da banda Tihuana.
Estamos de volta, amigos leitores! Arte sempre!



Minhas férias

Bem, vou falar das minhas férias. Pois é. Minhas férias foram muito legais. Fui num lugar muito maneiro, fessora, tinha praia, tinha cachoeira, tinha mato, muito mato, eu gostei muito do lugar.
            Fui pra lá com uns amigos e o tio deles, longe de mamãe e de papai, pode imaginar? Acampamos, não sei armar barraca, mas meus amigos e o tio deles me ajudaram e armaram a barraca pra mim. Então coloquei minhas coisas na barraca e fomos pra praia no primeiro dia. Foi muito legal! Nadei, peguei jacarezinho nas ondas, pisei na areia quente, tomei sol e andei muito no meio do mato, pois, como já disse à senhora, tinha muito mato por lá.
            No outro dia, choveu e foi muito chato, pois praia sem sol não dá! Fiquei no acampamento e conheci um monte de pessoas que falavam de um jeito engraçado. Eles eram de São Paulo e também passavam suas férias ali. Eles falaram de sua terra, de arranha-céus, de poluição e também falaram que ali onde eu estava era só paz e amor. Um deles até me contou que havia duendes ali, fiquei meio cismado, mas eu não acreditei nele não. Então eles me contaram que podíamos fumar o mato dali. Não entendi nada, fessora, mas eles me mostraram e o mato dali tinha uma fumaça gostosa. Não resisti e pedi pra experimentar. No começo, tossi, mas depois foi muito legal! Após isso, eles me contaram que as fadas deixavam um pó mágico ali, continuei cismado, mas comecei a acreditar neles. Então eles me revelaram que uma dessas fadas deixou um pó no saquinho pra eles e que bastava cheirar um pouco pra começar a voar. Duvidei deles, fessora, e disse que a senhora tinha ensinado tudo sobre a lei da gravidade. Eles riram de mim, eu fiquei muito bravo por zombarem dos conhecimentos da senhora e aí eles me desafiaram a experimentar. Cheirei com vontade pra comprovar que eles estavam errados, mas não foi que eu voei mesmo? E como eu voei! Foi muito maneiro, fessora! Eles me disseram que nem tudo se aprende na escola e, sinceramente, acho que eles tinham um pouco de razão, mas não me leve a mal, fessora, se quiser até apago essa minha opinião, se isso ofender a senhora. Depois disso, eles repetiram que havia duendes no mato dali. Isso era demais, matos de fumaça gostosa e fadas de pó mágico tudo bem, mas duendes era demais pra minha cabeça. Fiquei cismado de novo e bastante irritado por me tratarem como uma criança boba que não sabe de nada. Eles riram mais ainda de mim e percebi que, mesmo irritado com isso, eu ria também, coisa estranha, fessora! Aí eles, rindo cada vez mais, me ofereceram um chá e eu disse que odiava chá e que, só porque eram estrangeiros, eles não podiam me tratar daquele jeito. Tomei o chá só de raiva pra mostrar que era muito macho e que aqueles estrangeiros eram um bando de frouxos que não sabiam nem falar direito! Mas eu vi! Surgiram duendes de todas as partes, fessora, foi uma surpresa muito legal! Não resisti e confessei pros tais paulistas que queria morar no país deles e ver coisas mágicas todo dia como eles viam. Mas eles não estavam mais ali, só havia duendes rindo, arco-íris coloridos, fiquei muito doido, fessora! Foi tudo muito bonito, muito legal! Só não gostei dos meus amigos, que dormiam enquanto eu fazia novos colegas, me deixaram sozinho e, depois, quando acordaram, vieram brigar comigo só porque eu dormia em cima da barraca e, disseram meus amigos, não falava nada com nada. Eles estavam com inveja, fessora, porque eu sei fazer novos colegas, não precisei deles pra isso, bando de invejosos que não sabem fumar cigarro de mato de fumaça gostosa, nem cheirar pó mágico de fada, nem beber chá de duende com arco-íris coloridos! Discutimos e meus amigos decidiram pedir pro tio deles pra voltar pra casa no dia seguinte. Fiquei triste com eles, mas fazer o quê? Falaram que são meus amigos por não contarem nada pra minha mãe e pro meu pai, nem pro tio deles que levou a gente ali, mas, os paulistas tinham razão: um bando de chatos caretas é o que os meus amigos são. Nem contei pra eles que já tinha conversado com o tio deles e que ele era um duende muito resmungão.
            Viemos embora no dia seguinte, estava um sol lindo e fiquei muito puto (desculpe, fessora, se quiser eu apago, só estou sendo sincero, fiquei muito bravo com meus amigos e o tio deles, que não era mais duende, mas continuava resmungão). Fiquei uma semana em casa emburrado sem falar com meus amigos, uns babacas escrotos que não sabem de nada! Mas as aulas voltaram, reencontrei eles e já tinha esquecido tudo: os estrangeiros, os duendes, as fadas, o mato de fumaça gostosa, enfim, fazer o quê?
            E, pra provar como gosto de estudar e gosto mais ainda das suas aulas, ultrapasso as linhas que a senhora pediu, avisando que vi muitas mulheres seminuas tomando sol na praia, mas nenhuma chega à sua beleza principalmente quando a senhora vem dar aulas com aquela saia curta que deixa as coxas todas de fora.

Te adoro, fêssora!

FIM.
           
Obs.: Gostou? Se quiser, escrevo mais... Fé em Deus e nóis na fita!

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