quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Ode embriagada a Teresópolis: O Grito de Dependência do Bardo Afilhado Às Margens do Rio Paquequer

Após o término do ano letivo, fiz o que quase sempre costumo fazer, seja em anos bons ou ruins: fiquei um tempo a mais em Teresópolis/RJ, outrora, muito inicialmente, vista por mim como a cidade onde trabalho, logo depois e até hoje elevada à cidade lírica afetiva que reside em minhas paqueras e em minha alma de poeta. Nesses tempos posteriores à temporada de trabalho, faço tudo o que mais amo fazer nesta maravilhosa cidade serrana problemática: passear à margem de sua plataforma conservadora (sim, Teresópolis é dessas que posam discursos de manutenção dos costumes dos tempos de Dona Teresa e atalhos para o que há de mais retrógado, mas também possui muitos pontos de fuga do senso comum, uma vanguarda oprimida, mas magnífica, universos singulares encontráveis em curvas e desvios de sua estrada aparentemente imutável), participar de protestos (sem desmerecer nenhuma causa, mas quem nunca em Teresópolis? – a cidade é tão escandalizadora em tradicional opressividade que protestar torna-se uma necessidade básica na cidade, outrora dos Festivais, hoje da monarquia das injustiças sociais), curtir magníficos eventos culturais (sim, o legado de Cidade dos Festivais deixa nela uma aura permanente de efervescência artística continuamente renovada) e provocar sua energia boemia contidamente incontida.
Nessas trocas de sentimentos contraditórios e loucuras lúcidas com a cidade, de vez em quando me escapa um poema meio ode embriagada, meio doido lúcido (já justificando o conteúdo embriagado do escrito lírico, mesclado com versos metrificados). Publicado na Antologia Bardos Teresopolitanos (Editora Uniclap), organizado por Alessandro Lopes Silva e Artur Esteves, “O Grito de Dependência do Bardo Afilhado Às Margens do Rio Paquequer”, que compartilho hoje, com vocês, amigos leitores, é um desses casos de odes embriagadas que escrevi à musa Teresópolis/RJ, que banca a santinha de legado monarquista, mas que, no fundo, no fundo, é uma república despudorada, berço de doces pecados amargos e de únicas emoções várias.

O Grito de Dependência do Bardo Afilhado Às Margens do Rio Paquequer

Às margens do rio Paquequer, eu brado
meu silencioso deslumbramento
pelo serrano e poético espaço
no qual vivo, em doido voo terreno.
Talvez este brusco amor declarado,
este urro mudo de pertencimento,
sendo eu um filho teu sem nascimento,
tenha fundamentos embriagados:
dos doces venenos negociados
no Parque Regadas venho regado.
Seja como for, me abrigo em teus ventos;
seja como for, hoje sou teu bardo,
pelo aroma de Ceci arrebatado,
pela bravura de Peri domado,
pelas Casas de Vidocq abrigado.
E, nestes versos loucos, me declaro
Teu novo dependente mais sedento:
Cidade de Teresa, dá-me alento
Para me esquivar dos sufocamentos.
- Mátria de minha arte e contentamento,
Dá-me infinito neste encerramento.

Carlos Brunno Silva Barbosa



Um comentário:

  1. Uau! Ainda que os quereres sejam opostos complementares, como trabalho em carga justa e tempo para diversão, menos conservadorismo e mais sorrisos. Minissaia para a cidade de Teresa e abraços afetivos do sereno, a cidade promovida à "Lírica afetiva" arranca poemas do poeta que nunca se cala. Sua boca brada, sua pena escreve. Bravo!!

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