domingo, 21 de novembro de 2021

Poema felino para nossos dias gatunos de banal poesia: Gato Miró

Domingo de clima ameno, quase frio, dia teoricamente de descanso, tempo meio preguiçoso, folga de temas pesados nestes dias de apocalipses diários, hoje o tema da postagem miou na minha cabeça.
Sim, hoje falaremos de um dos musos selvagemente domésticos mais querido, o gato, sagrado no Egito Antigo e cantado em versos beats por William Burroughs (o poeta dedicou livros e poemas ao enigmático e lírico bichano). Há uns meses, em minha residência em Teresópolis/RJ, apareceu um gato aqui da vila que cismou comigo, miava da janela pedindo pra entrar. Depois, que lhe permiti a entrada, passou a vir constantemente (nem pede passagem pela janela mais, e sim agora pela porta). Hoje é um agregado frequente, por vezes mais dono (e mais exigente) da casa que eu. Não tinha nome até minha participação em um grupo focal chamado “Ensaios de fruição”, no qual se planejou uma reflexão e análise de um espetáculo em homenagem ao mais que fodástico poeta Miró de Muribeca. Quando aprendi que o poeta Miró costumava fazer invasões culturais (entrar em um espaço e declamar seus fodásticos poemas, com magníficas performances), resolvi batizar o gato de Miró Serrano, pois este gato Miró invadiu meu espaço e encheu-o de novo lirismo.
Mas o gato Miró, com o tempo e assiduidade nas visitas, revela outras características, talvez adquiridas de mim, principalmente em meus dias de folga: a propensão e devoção à preguiça, beirando a total folga – por exemplo, neste momento, digito o texto no notebook, recostado em minha cama, com certa dificuldade, pois Miró Serrano deita-se e ronrona sobre meu peito, sempre que me posiciono desta forma.
"Perdoa estes poetas-blogueiros de merda,
Deuses Quintanares Bandeirianos,
eles não sabem o que fazem",
declama postumamente Drummond.
Desfazendo um monte de conselhos de Drummond em “A procura da poesia” (por sinal, a maioria dos conselhos que ele dá nos versos iniciais, o próprio autor descumpriu ou descumpriria com o tempo – o metapoema citado é mais um aviso de ruptura com fases anteriores [na época, Drummond flertava com o niilismo lírico] que algo pra ser levado ao pé da letra. Mesmo assim, influenciou muitos Joões Cabrais de Melos Netos, e, pqp, não existe metapoema mais fodástico, principalmente do meio pro final, que essa “procura da poesia” drummondiana), trago um poema bem banal, uma ode ordinária ao gato Miró Serrano (neste instante, deitado na cama, sobre o lençol e meus pés – o tec tec do notebook e minha movimentação na ação de teclar, possivelmente, estavam atrapalhando sua devoção absoluta à lírica preguiça, sim, no homem, a preguiça é terrível e pecaminosa; no gato, é suave e poética –, permitindo-me melhor articulação para concluir esta digitação).
Ótimo finzinho de domingo e boa leitura, amigos leitores, amigos dos animais selvagemente domésticos.

Gato Miró

O gato Miró anuncia seu novo pedido de invasão.
Antes vinha pela janela, atravessando o telhado vizinho pra chegar na minha casa.
Hoje aparenta segurança para bater à minha porta principal.
Como um gato marginal pode trazer tantos poemas sem derramar palavra?
Ok, Miró, deixemos de reflexão e vamos seguir o roteiro louco que a peça da vida nos colocou.



Um comentário:

  1. A resposta a sua pergunta poética talvez esteja na própria coloração de Miró, o ponto de interrogação em seu rabo, contrastanto com a brancura da pelagem e depois dois pares de sobrancelhas assimétrica dizendo, "eu te vejo"! Isso basta para dizer: "me deixe entrar, tenho amor pra te dar". Gatos sempre nos ensinam. Beijos, poeta.

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