terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Meus contos sombrios de Natal: A crônica natalina não publicada de Augusto Albuquerque


Desde a retomada das postagens no blog agora em dezembro, reservei o espaço a algumas solidões compartilhadas que há tempos queria publicar (e há outras mil que pretendo trazer ao blog) e, apesar de também ter vários textos meus que se destacaram nos últimos tempos, ainda não havia trazido nenhum conto, poema, crônica ou prosa poética de minha autoria. Hoje, às vésperas de mais um Natal, decidi mudar essa configuração: trago para os amigos leitores um conto sombrio meu de Natal.
O nome do conto é “A crônica natalina não publicada de Augusto Albuquerque”. Como o próprio título revela é um conto que finge ser uma crônica – uma crônica fake, fictícia, ligada a fatos históricos da Velha República, em especial relacionada a um trágico acontecimento real: o suicídio do agitado escritor Raul Pompeia em pleno dia de Natal de 1895. Na época, Raul Pompeia, autor do clássico “O Ateneu”, estava sendo perseguido e caluniado politicamente e isolado por desavenças com famosos escritores devido ao temperamento explosivo do escritor nascido em Jacuacanga, Angra dos Reis, mas há algum tempo residente no Rio de Janeiro/RJ. Seu suicídio, realizado no dia de Natal, ganhou força simbólica devido à data escolhida para sua autodissolução e marcou seu posicionamento opositor aos rumos da Velha República (uma espécie de imagem sonhadora do Brasil Republicano suicidara junto com o seu principal intelectual defensor/articulador). 
Esse acontecimento - todo aspecto louco/lúcido/radical de autodeterminação extremista de autodissolução - sempre mexeu comigo, por conhecer a vida e obras de Raul Pompeia e também por experenciar, quando criança, a partida prematura de minha prima Eliete – também escritora, mas jamais publicada – por um ato suicida parecido, mas sem o peso simbólico do tomado pelo escritor angrense. Todos esses acontecimentos mais estudos adicionais sobre os progressos e passos retrógados da Velha Repúlica influenciaram o processo de criação de meu conto, que chegou a se classificar numa seletiva de antologia natalina em 2018, cuja publicação ainda não chegou ao meu conhecimento (como podem perceber por publicações anteriores minhas, aguardo um tempo para trazer ao blog contos, poemas e crônicas classificados para publicações; no caso do que publico agora, dei o prazo de um ano).
O texto natalino de hoje é o mais sombrio que publico nesse período festivo desde o surgimento do blog (se preferirem algo mais alegre, recomendo que visitem as postagens de natal de anos anteriores), mas vem em data próxima ao trágico acontecimento histórico-literário que o influenciou. Apesar desta ‘sombriedade’, espero que gostem, amigos leitores.
Feliz Natal e Arte Sempre!

A crônica natalina não publicada de Augusto Albuquerque

Há acontecimentos da História, assim maiúscula, que afetam nossa história, essa aqui, bem mais próxima de nós, considerada menor, sempre vista de forma minúscula. A que trago hoje ao conhecimento dos leitores deste ilustre jornal envolveu a mim e a meu tio Alfredo Albuquerque na noite de natal de 1896. O leitor mais perspicaz perceberá que já inicio minha crônica com uma afirmação deveras questionável, pois, com o desenvolver do enredo, constatará que os fatos já sofriam influências da noite de natal do ano anterior ao citado por mim, mas justifico-me lembrando de que o ano de 1895 nada marcou à minha insignificante pessoa; somente ao meu tio, talvez o verdadeiro protagonista desta história, cujo protagonismo minha pena egocêntrica rejeite destacar - assim são as verdades das afirmações humanas e das nossas histórias, maiúsculas ou minúsculas: relativas, recheadas de análises contraditórias, confirmando que o ato de errar, acertar e também errar acertando ou acertar errando é um ato peremptoriamente humano. Abstrações à parte, vamos à história.
Tio Alfredo Albuquerque era um dos mais queridos parentes de nossa família orgulhosamente republicana, principalmente por ser o primeiro a ter ingressado com louvor nos Corpos Militares da Polícia alguns anos após a Proclamação da República. Tal ato de meu tio rendia-lhe sorrisos graciosos dos familiares mais exaltados com a história pregressa de luta pelo Estado Republicano que os Albuquerque ardentemente defendiam há gerações. Mas, na noite de Natal de 1896, não houve gracejos que retirassem de tio Alfredo o estado taciturno, ensimesmado, no qual se prostara, entocado numa cadeira afastada do clima festivo dos demais parentes.
Mamãe, considerando que tal atitude era causa de cansaço ou de alguma ocorrência policial escabrosa na noite anterior (todos sabíamos que a capital não era um modelo de cidade pacífica, principalmente nos agitados anos do fim do século XIX, e, diante das turbulências políticas e revoltas no Brasil, imagina as situações e crimes que nossos honrosos Corpos Militares devem testemunhar, até nas noites de vésperas de Natal), pediu a todos que respeitassem o recolhimento de meu tio. A súplica materna e a impostação autoritária de sua voz podiam sensibilizar ou convencer a maioria dos parentes ali presentes, porém soavam como um desafio a um diabrete de onze anos como eu. Como assim o titio não quer comemorar o Natal com a gente, questionava meu eu antigo. Assim que a vigilância constante de mamãe folgara, aproximei-me de tio Alfredo.
O aspecto dele, outrora altivo, era aterrador. Há cerca de um ano, eu reparara algumas mudanças físicas progressivas (ou regressivas?) em meu tio Alfredo. Em seus cabelos loiros, insolentes fiapos brancos se proliferavam e desvalorizavam o aspecto ainda jovial de seus saudáveis trinta e dois anos recém completados.  Seus olhos verdes, antes quase infantis como os meus, adquiriram um incômodo brilho melancólico, como folha de árvore caída em manhãs cinza de outono – pareciam brincar ainda com o tempo, mas, na verdade, traziam apenas a passividade de um morto, cujo corpo leve é faceiramente carregado pelo vento. Titio Alfredo ainda brincava comigo como o tio mais divertido e traquinas que era, mas de um ano pra cá parecia perder o ar pueril. E um diabretes de onze anos teimoso como eu, sem parentes com idade equivalente a minha, não poderia perder o melhor companheiro de travessuras. Mas, naquela fatídica noite de Natal de 1896, meu tio tinha outros planos, nada divertidos.
- Eu não estava aqui no Natal do ano passado... – meu tio balbuciou sem me olhar; parecia ciente da minha aproximação, mas ignorante da identidade do interventor de seu alheamento.
Sua declaração não me trazia novidades, pois, diante dos outros parentes chatos, fui o que mais sentiu sua falta na noite de Natal de 1895, o Natal mais sem graça de minha infância. Antes que eu lhe dissesse isso, ele continuou:
- Eu estava trabalhando... Atendemos uma ocorrência, uma senhora abriu a casa, estava desesperada, seu filho suicidara... Um tiro no peito... Em plena noite de Natal... Seu nome era Raul Pompeia... era escritor... – Nesse momento, baixou os olhos para o livro em suas mãos: “O Ateneu”. Queria lhe dizer que não estava gostando da história que ele me contava e que aquele livro na mão dele devia ser muito chato para deixá-lo assim tão transtornado, mas tio Alfredo continuou a balbuciar, ignorando-me sem me ignorar. – Um tiro no peito... No coração da nossa capital... Podia ter sido assassinado... Em plena noite de Natal... O corpo estava no escritório... Eu queria acreditar que foi assassinato... Eu investiguei por minha conta... Artigos de jornais, depoimentos de amigos e vizinhos, até esse livro... Um ano investigando... As evidências confirmaram o suicídio, os investigadores muito mais graduados não tinham dúvida, sempre foi suicídio... Mas por que eu não estava convencido? Foi assassinato, eu cismei que foi assassinato... – Aquilo já estava me dando gastura, queria sair dali, o tio estava muito chato naquela noite, mas ele não parava, a voz embargada, o bafo de álcool, tio Alfredo estava muito chato e bêbado – A República está ruindo, mas ninguém quer me ouvir... Não sei o que estou fazendo aqui... – O que era aquilo? Um poema que meu tio declamava para um fantasma? Um poema muito ruim, por sinal.
Antes que eu lhe expusesse a minha crítica sincera à péssima qualidade de seus versos e lhe informasse que queria brincar com ele, mas não queria mais, porque ele estava muito chato, mas que, se esquecesse essa história chata e esse poema ruim, eu esquecia também e a gente poderia finalmente brincar, mamãe chegou me dando palmadas:
- Já não disse pra deixar o seu tio Alfredo em paz, seu moleque!
- Ninguém quer me ouvir... – foram as últimas palavras que ouvi de meu tio Alfredo, enquanto mamãe me arrastava pelas orelhas para longe dele. Depois disso, fiz tanta manha que nem percebi quando titio Alfredo se retirara da festa de Natal.
No dia seguinte, ninguém mais falou de tio Alfredo. O orgulho da família tornou-se assunto proibido, assim como quaisquer críticas aos rumos da nossa adorada República. Ninguém mais viu, visitou ou recebeu visita de tio Alfredo também. Meu melhor companheiro de travessuras nunca mais vi, eu o perdi. Foi assim que ganhei esse desejo triste de gritar em silêncio, de brincar melancolicamente com as palavras.
Peço perdão aos amigos leitores deste ilustre jornal pela crônica tortuosa desta edição de Natal de 1907. Depois de tantos anos, ainda escrevo com o fantasma da criança que nada disse a tio Alfredo naquela maldita noite de Natal de 1896. Assim se faz a História que marca a nossa história e assim encontramos o sentido mais sincero, porém negado, desta data contraditoriamente festiva: pela tragédia anunciada hipocritamente comemorada, pelos não feitos diante do trágico previsto. A verdade, amigos leitores, é que festejamos em todo Natal o nascimento de nosso amor ao martírio e poucos entendem isso. Poucos, como Raul Pompeia e meu tio Alfredo Albuquerque, entenderam tal significado; que Deus os perdoe por ousarem se rebelarem ao protagonismo do nascimento de Seu Filho, de nossa História de eternos martírios.
(Conto escrito por Carlos Brunno Silva Barbosa, escrito no segundo semestre de 2018)



domingo, 22 de dezembro de 2019

Solidões Compartilhadas: A mais que fodástica viagem lírica de Victor S. Gomez com os garotos de Liverpool


É, amigos leitores flamenguistas e amigos leitores pró Liverpool, ontem, na final do Mundial de Clubes se repetiu um duelo histórico (Flamengo x Liverpool), mas diferente da peleja do passado, os rubro-negros amargaram uma derrota num ano de muito sucesso que até eu, como vascaíno, exaltei através de postagem com solidões compartilhadas de ex-escritores-alunos torcedores do Urubu. Bem, apesar de não ter torcido contra (juro!), como bom vascaíno, é claro que eu iria registrar esse VICE mundial do Flamengo e manter no infinito a vitória dos garotos do Liverpool. 
E falando em garotos de Liverpool, isso lembrou-me os Beatles, que me lembraram um mais que fodástico poema, escrito pelo Mestre Escritor-Amigo Victor S. Gomez, de Valença/RJ, em homenagem a essa grande banda de rock de Liverpool (sim, eu sei que estou repetindo Liverpool toda hora; é só uma anáfora zoeira mal feita pra manter o nome do mais recente time campeão mundial na cabeça).
Fiquemos agora com a viagem lírica de Victor S. Gomez com os Beatles, amigos leitores! Paz entre as torcidas (com zoeiras sadias, é claro), Beatles na Veia, Abração e Arte Sempre!

Viajei com os Beatles em 1968

Peguei carona no submarino amarelo.
O dia estava lindo,
como hoje,
quando olho pela janela do meu quarto.
No quintal muitas frutas nas árvores,
borboletas bailando,
os pássaros não se cansam cantar.
Não acredito que vejo tudo isso bem ali diante do meu nariz.
Não preciso ir muito longe,
apenas essa carona me deixa bem feliz.
Saímos de Liverpool,
passamos por Bangladesh,
que tal esticarmos até o Village.
Tomar umas cervejas com esses caras é sensacional.
O submarino segue tranquilo,
em uma viajem de dar gosto,
no Triangulo da Bermudas,
quase fomos abduzidos por ETs.
Queria tanto conhecer um universo paralelo,
saber como vivo lá.
Mas seguimos viajem pelo Caribe,
e encontramos os piratas,
dali mesmo.
Diziam não ser piratas,
mas Corsários da rainha Elizabeth,
como o submarino era da Inglaterra,
conversamos muito,
jogamos cartas,
perdemos muito,
as cartas estavam marcadas.
O vinho nos deixou bastante alegres,
e a correnteza forte nos levou,
para bem longe dali,
só conheci os camelos que vi pelo caminho.
Um sujeito em uma canoa,
disse ser Aladim,
acreditamos,
e ele nos mostrou o caminho para Bagdá,
como era bela Bagdá nos tempos de Aladim.
E voltamos pelo caminho das Índias,
chegando em Porto Seguro,
fiquei por ali mesmo,
quando o submarino partiu,
fiquei triste,
pois os cavalheiros da Rainha também partiram.
Tempos depois,
só reencontrei dois deles,
os outros dois partiram para uma jornada em um universo paralelo.
Ei, Cavalheiros um dia encontro vocês por lá.


sábado, 21 de dezembro de 2019

Quando a Canção do Exílio de Gonçalves Dias escrita em território português virou a Terra do Flamengo em corações infantojuvenis brasileiros


Apesar de o blogueiro que vos fala ser vascaíno, não há como negar que 2019 foi, no esporte, o ano do Flamengo (por isso, deve ter sido um ano tão difícil e ruim em diversos aspectos rs, brincadeirinha/recalque meu).
 Seja como for, esse ano vitorioso do Flamengo me levou a um túnel do tempo: assim como o Urubu Rei do Futebol revive momentos gloriosos como em seu passado, relembro de meu início de trajetória lírico-docente, como professor de Português na Escola Municipal Nadir Veiga Castanheira, de Teresópolis/RJ, no longínquo e sempre presente 2006, quando realizei um dos primeiros trabalhos bem sucedidos de produção textual com os artistalunos do 7.º Ano (na época, 6.ª série) das saudosas 601, 602 e 603: as paródias sobre a “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias.
A “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias, é um poema, do século XIX, que canta as saudades e a paixão cega/exacerbada pelo Brasil.  Por ter sido muito conhecido e ser popular até hoje, a “Canção do Exílio” tornou-se alvo de diversas paródias (textos que imitam um texto mais conhecido, provocando humor e crítica). Incentivados por mim e inspirados nessa prática poética, os artistalunos da E. M. Nadir Veiga Castanheira também produziram suas paródias sobre o famoso poema. Isso aconteceu no longínquo e memorável terceiro bimestre de 2006. 13 anos depois, trago o poema que dois artistalunos flamenguistas, Wellington e Leonardo, da antiga 601, produziram na época, parodiando a “Canção do Exílio” para exaltar o time de coração deles. Mais pra frente, pretendo trazer outras dessas paródias (tem uma de corrupção, escrita por Marcelo e Edivan, que é atemporal e até premonitória), mas hoje é dia do Flamengo em outra final de campeonato, agora mundial, por isso hoje fiquemos com “A minha terra é do Flamengo”, de Wellington e Leonardo.
Boa leitura, amigos leitores rubro negros e não rubro negros. Paz entre as torcidas, abração e Arte Sempre.

A minha terra é do Flamengo
(Wellington e Leonardo)

A minha terra é do Flamengo
Aonde voa o urubu.
Quando o Flamengo joga
Todo mundo fala: “UUUUUHHH!”

Quando eu saio pro terreiro,
Os urubus estão no chão.
Na hora que eu falo que o Flamengo é campeão,
Todo mundo sai do chão.




sábado, 14 de dezembro de 2019

Oferendas líricas da aniversariante Maria Gabriela Ferreira Luz


Anteontem, quinta-feira, dia 12/12, voltando da escola na van escolar, a professoramiga Zilanda lembrou-me que há tempos não postava no blog (confesso que andei meio desiludido e cansado, sem vibrações líricas positivas nem vontade/fôlego/inspiração para postar há algum tempo). Depois de quase um mês de quase completa ausência em redes sociais virtuais, ao voltar pro facebook, ontem, sexta-feira, 13/12 (sim, era uma sexta-feira 13; Jason retorna!), um dos avisos que se repetia era a rede social virtual me lembrando que há tempos os seguidores da página do blog não recebiam nenhuma notícia. Eram mensagens demais me alertando e me estimulando a voltar às postagens do blog – ok, mensageiros reais e virtuais, estamos de volta! Ok, tomada a decisão de retornar ao blog, que está com uns bilhões de postagens guardadas/prometidas/atrasadas, veio outra questão: com que postagem retornar? Eis que me via envolvido nessa dúvida há pouco neste sábado, dia 14/12... Então o facebook – sim, de novo a plataforma virtual de Mark Zuckerberg – lembrou-me de que hoje marca a data de aniversário da formidável escritoraluna (quase ex-escritoraluna - pois está encerrando seu ciclo nas salas de aula onde leciono – e futura escritoramiga) multiartista teresopolitana, de escrita multifacetada, iluminada salva, salve Maria Gabriela Ferreira Luz.  Pois aqui vão alguns de seus maravilhosos e mais que fodásticos textos – do diário à poesia, essa jovem e talentosa artista brilha em todos os gêneros textuais (e também nos palcos e câmeras, pois também é brilhantíssima atriz).
Tenho certeza de que irão adorar, amigos leitores! Parabéns a Maria Gabriela Ferreira Luz, que continue sempre iluminada e iluminando esta estrada lírica e linda que ela traça em sua vida – a eternidade é caminho certo pra ela e pra sua madura e maravilhosa arte. E comemoremos com ela, através dos belíssimos textos de Maria Gabriela Ferreira Luz!

Poemas de Maria Gabriela:

Não sei o que faço

Não sei o que faço,
Não sei o que falo.
A chuva cai lá fora
Como quem chora em desespero.

Meus olhos também estão molhados,
Queria eu que fosse a chuva...
Cada lágrima que cai
É uma parte de mim.

Sinto saudade de quem se foi
E de quem está presente.
Sorrisos, abraços, paixões
Hoje são apenas lágrimas.

Desesperada para morrer,
Mas desejando viver;
Talvez isso passe...

******************

Estamos vivendo ou existindo?
Estamos sempre presos a uma rotina,
Estamos sempre em cima do prazo,
Sempre com pressa,
Sempre correndo para chegar a lugar nenhum.
Acorda cedo, dorme tarde,
Vê o pôr do sol da janela do escritório...
Olha: já são 20:48!
O dia já passou,
A semana já acabou,
A vida foi e a gente nem viu...



Luz e Escuridão – 
As Páginas de diário de Maria Gabriela

(28.02)

Se conheça de dentro para fora, saiba quem você é, conheça tua dor, medo, tristeza, cicatrizes e feridas abertas. E tenta para de olhar para o abismo, pare de olhar para o reflexo na água da banheira que encheu para sangrar até a morte. Pare de querer pular do abismo, para só para, sei que é difícil, a vontade morrer é grande, a vontade de sumir fica batendo na sua porta, sei também que você não consegue dormir, pois os pensamentos mais aleatórios estão passando na tua cabeça, e você tenta lutar contra eles, mas não dá. Me ouve, você é capaz de sair dessa prisão que você vive. Sei que você se sente sozinha, eu também me sinto, todos nós nos sentimos. Imagino que você tem um grito preso na garganta, mas não consegue soltar e ele te sufoca, como uma mão apertando o teu pescoço. Você vai e libertar disso tudo, essas correntes vão se quebrar. Mas você tem que ser forte e não se deixar ser um nada no meio disso tudo, não se perca, não perca a sua luz no meio dessa escuridão.

(26.03)
Só de imaginar você indo dói, não te imaginar comigo machuca, você é a alegria dos meus dias mais sombrios. Você a pessoa que conhece meu lado mais puro e sincero. Você mesmo sem saber me mostrou que sei ser luz em meio a escuridão, você viu o meu lado mais sombrio e cheio de dragões, e continua aqui. Sabia que admiro a pessoa que você é, admiro a tua força a cima de tudo. Até as coisas que você faz e que me irrita e aprendi a amar, juro. Com você o tempo para e ao mesmo tempo voa, você é o motivo dos meus sorrisos mais idiotas, você é aquele tipo de amigo que posso ficar meses sem ver que, que nada vai mudar, vai ser as mesmas idiotices, é como se nada tivesse mudado e espero que nunca mude, talvez eu nunca ache adjetivo para te descrever e continue te descrevendo com palavras aleatórias, outra coisa que talvez nunca consiga é descrever o quanto eu te amo. Uma última coisa, obrigada por me fazer a pessoa mais feliz do mundo.

(30.03)
São 2h da madrugada, e eu estou sentada no chão do banheiro pensando em você, sim, pensando em você. Hoje faz 365 de longas conversas e risadas, eu não sei onde você está, e se lembra de mim ou ao menos desta data. Não sei onde você está, se tem dormido bem ou se aquele teu vazio foi preenchido, eu realmente não sei. Sinto tua falta, falta do teu abraço caloroso, do teu jeito meio sem jeito, e das coisas mais aleatórias que a gente conversava e das longas madrugadas falando sobre nada.
Tentei te esquecer, eu juro. Tentei te jogar no fundo do meu armário, mas não dá para esconder uma pessoa que viveu e viu o universo que sou, não dá apenas para esquecer a pessoa que trouxe cor pro meu mundo. Sempre vai haver um pequeno detalhe no mundo que vai me fazer lembrar de você, lembrar o quanto te amo, o quanto você me fazia bem mesmo em silencio. Agora estamos longe. Tenho tantas coisas para te contar, tantas novidades, tantas teorias sobre a vida, mas você não está aqui para ouvir, e ninguém e capaz de me entender como você, ninguém gosta tanto de me ouvir como você, nossa conexão é de alma.  E eu sempre vou estar aqui. Deixarei a porta aberta casa um dia você apareça. Enfim, espero que esteja bem.
Obs.: Depois das 2h vá dormir. As decisões que você tomar a essa hora são erradas.


Resenha literária de Maria Gabriela

As vantagens de ler (e ver) “As vantagens de ser invisível”
Por Maria Gabriela Ferreira Luz

Charlie é um adolescente de 15 anos que já passou por vários traumas em sua vida. Por exemplo, a morte da tia em um acidente de carro (que ele acaba se culpando por isso) e o suicídio do melhor amigo.
                Charlie está se recuperando de uma depressão, que lhe causou tendência suicida. No colégio, ele tenta se enturmar, porém os grupinhos já estão formados. Porém nem tudo está perdido para Charlie: Patrick e Sam são dois veteranos que o recebem em seu pequeno mundinho.
                Na versão cinematográfica desta história, Emma Whatson, Ezra Miller e Logan Lerman representaram maravilhosamente os seus papéis. A trilha sonora, cheia de rock alternativo dos anos 1970 a 1990, também agrada.
                O drama traz assuntos pouco abordados de forma direta ou implícita, como o abuso sexual, pedofilia e homofobia. Esta última ficou bem clara e se trata do pai do namorado de Patrick, que, quando descobre que o filho é gay, bate nele. A pedofilia também fica evidente e se trata de como Sam perdeu a virgindade com um cara mais velho. Já o abuso sexual – que também é considerado pedofilia – não fica muito exposto, mas se trata da estranha relação da tia com Charlie, crime que ocorre sem os pais do garoto suspeitarem.
                O filme e o livro contam com um final surpreendente. A história foca na amizade, na maneira que um confia no outro e como se entregam uns aos outros. Não podemos deixar de citar o poema “Em uma folha amarela com linha....”, que não tem no filme, porém foi citado no livro e deu mais uma emoção ao drama que tocou fundo nos corações de leitores e cinéfilos.



Conto de Maria Gabriela:

Na beira do abismo

                Há uns dias atrás, vi umas coisas acontecendo na minha escola na minha turma: havia uma menina bem magra, quieta, porém muito sorridente. Tanto os garotos como as garotas faziam piadas sem graça, brincadeiras e até colocavam apelidos nela. Ela não gostava muito, sempre pedia para pararem, mas eles sempre a ignoravam.
                Passou um tempo e ela começou a faltar e, quando ia, não ria e não participava. Ninguém deu muita bola, mas eu vi as forças dela se esvaindo, o mundo dela estava preto e branco; queria ajudar, mas eu também estava na beira do abismo, parece que alguém estava me segurando, me impedindo de chegar até ela.
                No primeiro dia da primavera, ela se matou, cortou os pulsos e sangrou até a morte, uma morte lenta e dolorosa. Não a culpo por ter se matado. Como Augusto Cury mesmo disse, em seu livro “O vendedor de sonhos”, “o suicida não quer se matar, ele quer matar a dor que existe dentro dele.
                Mesmo assim, quando lembro daquela menina, penso que ela não merecia isso, esse não era para ser o fim dela, ela não sabia o tanto de coisas que tinha para viver, ela não sabia que nós somos infinitos...




Meu filho-poema selecionado na Copa do Mundo das Contradições: CarnaQatar

Dia de estreia da teoricamente favorita Seleção Brasileira Masculina de Futebol na Copa do Mundo 2022, no Qatar, e um Brasil, ainda fragiliz...