domingo, 3 de fevereiro de 2019

Não vai “dar pt’, nem PT; hoje vai “Da...mares”: O Mistério gozoso (ou Viagem Ministerial) do Mestre Artistamigo Gilson Gabriel


Uma expressão popular muito usada na desastrosa contemporaneidade é a famosa “dar pt", ou seja, “dar perda total”. Inicialmente, tal termo era proferido quando alguém batia o carro e não dava mais pra recuperar nada ou quando alguém fica muito bêbado de chegar a vomitar . Porém, nesses desastrosos tempos de crises e desgovernos, quando se tem a impressão de que nossas vidas passam em contínua perda total,  a popular expressão se expande para todas as situações em que a gente sabe que vai dar m..., ou seja, vai “dar pt".
Na época das grandes manifestações contra os governos petistas, em evidente crise, principalmente no acidentado segundo mandato da ‘presidenta’ Dilma (PT), muitos descontentes aproveitaram-se para adaptarem o  termo “dar pt" para “dar PT”, aproveitando as iniciais do Partido dos Trabalhadores (PT), fazendo um jogo de palavras e associação da sigla do partido com as iniciais da expressão ‘perda total” (ou seja, se “dar pt" seria dar perda total, “dar PT” numa eleição/administração pública seria um desgoverno que provocaria perda total no setor administrado pelo Partido dos Trabalhadores).  É, nós, brasileiros, passamos pelas crises e desastres mais cruéis, mas mantemos a língua e, principalmente, nossas gírias em contínua transformação, sempre mantendo nosso tom ‘zueiro’.
Mas, agora que a maioria das administrações públicas não estão mais nas mãos dos petistas e os holofotes estão todos voltados para o recém eleito presidente Jair Bolsonaro (PSL) e seus subordinados, a gíria ‘zueira’ “dar pt" pede nova adaptação. Nessa nova fase política do Brasil, um nome tem se destacado pelas polêmicas de suas desastrosas declarações e sendo alvo da ‘zueira’ de muitos internautas: Damares Alves, a atual Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos no ‘renovado’ ‘governo’ federal.
Rainha de ‘pérolas’ como "Menino veste azul e menina veste rosa”, "Como eu gostaria estar em casa, toda tarde numa rede, me balançando e o meu marido ralando muito, muito, muito para me sustentar e me encher de joias e presentes. Esse seria o padrão ideal da sociedade"(em 08/03/18, em entrevista para um site do Rio Grande do Norte, o Expresso Nacional), “"16 anos atrás, dizíamos que íamos ter uma ditadura gay no Brasil. O que nós estamos vivendo hoje? Uma ditadura gay. Há uma imposição, há uma imposição ideológica no Brasil e quem diz que não aceita, é perseguido" (2014, em seu DVD de palestras  "Em defesa da vida e da família"), “o Estado é laico, mas essa ministra é terrivelmente cristã” (em seu discurso de posse), “Sabem por que elas (feministas) não gostam de homem? Porque são feias e nós somos lindas.” (em vídeo antigo, relembrado por intenautas), “A igreja evangélica perdeu espaço na história. Nós perdemos o espaço na ciência quando nós deixamos a teoria da evolução entrar nas escolas, quando nós não questionamos. Quando nós não fomos ocupar a ciência. A igreja evangélica deixou a ciência para lá e ‘vamos deixar a ciência sozinha, caminhando sozinha’. E aí cientistas tomaram conta dessa área” (em vídeo antigo, de 2013, também relembrado por internautas),  a atual Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, se tornou alvo principal de protestos nas redes sociais da internet devido à coleção de declarações polêmicas. Assim, diante dos fatos, eis a proposta de renovação da gíria – se alguém faz algum comentário que você sabe que vai “dar pt”, vai gerar perda total na popularidade da pessoa, vai “dar m...”, então podemos declarar, por exemplo, “Xiii, isso que você falou vai “Da..mares””.


Charge “Nas cores, estou mais perdido que daltônico montando cubo mágico”, de Kacio Pacheco, disponível no link  https://www.metropoles.com/sai-do-serio/charge/nas-cores-estou-mais-perdido-que-daltonico-montando-cubo-magico


"Mas o que tudo isso tem a ver com a postagem de hoje?”, o impaciente amigo leitor deve estar se perguntando. Respondo: assim como nossa língua está em constante transformação, a poesia, neste caso usando e abusando do tradicional e ao mesmo tempo ousado e refinado lirismo satírico e crítico, acompanha os temas (e personagens) polêmicos da nossa vida. Sim, amigos, na arte poética, tudo pode ser transformado em matéria prima da lira: no poema, pode “dar PT”, “dar PT” e até “Da...mares”! Hoje compartilho minhas solidões poéticas com o Mestre Artistamigo Valenciano Mais Que Fodástico Gilson Gabriel, personalidade lírica sempre brilhantemente presente aqui no blog, que nos traz seu sublimamente ‘zueiro’ poema satírico, de crítica voraz e evidente flerte com a poética do cordel,  “Mistério gozoso (ou Viagem Ministerial)”, escrito recentemente por ele (e declamado por ele e seu irmão, Gerson Gabriel, na mais recente edição do Sarau Solidões Coletivas, realizado na noite de sábado, dia 12 de janeiro de 2019, como vocês podem conferir no vídeo posto logo abaixo do poema) em ‘homenagem’ ao conjunto de sandices polêmicas de Damares Alves.
O Estado é laico, a Ministra é terrivelmente cristã e o blog Diários de Solidões Coletivas é fielmente anárquico e mutante, abraçamos todas as vozes líricas críticas, e hoje quem rege a lira solitária coletiva é o Mestre Artistamigo Valenciano Mais Que Fodástico Gilson Gabriel e seu Mistério gozoso (ou Viagem Ministerial)”.
Boa leitura, amigos leitores, fiquem com os deuses da poesia, abração e Arte Sempre!

Mistério gozoso (ou Viagem Ministerial)
De Gilson Gabriel  - Valença/RJ

Ouça menino,
Eu vou falar da nova era:
Veio montada num jumento
Prá nos livrar da besta-fera,
Reluzindo verde oliva,
Travestida de quimera.

Ouça menino,
Perceba o novo advento:
É tempo de azul e rosa
Conforme seja o rebento
Qualquer outra fala ou prosa
Já dá início ao tormento.

Ouça menino,
Repare na ordem austera:
Família acima de tudo
Mesmo a que se tolera
Quando um dos dois é chifrudo
E com o outro se aglomera.

Ouça menino,
E para isso tome tento:
Goiaba é fruta santa
Vale mais que seus talentos
JC trepou na planta
Sem Deus dar consentimento.

Ouça menino,
Ou o país não prospera:
Vamos passar tudo nos cobres
E nisso a gente se esmera
Vamos dar jeito nos pobres
Como quem menor encarcera.

Ouça menino,
Esse novo tempo é bento:
É Deus quem está no comando
Livrando-nos do avarento
Do que é vermelho e tinhoso
Que ao PT deu sustento.

Ouça menino,
Pois o que eu falo é verdade:
O reino do cão-tinhoso
Vai sumir inda que brade
A escumalha petista
Que já se encontra na grade.

Ouça menino,
Da desonra Deus nos livre:
Se nosso plano dá certo,
Embora o ranço se cultive,
Nós vamos inchar as burras
E as do templo inclusive.

Ouça menino,
E que a oposição não ouça:
Nosso interesse, de fato,
É largar o povo à joça
E não largar mais o “osso”
Mesmo que a vaca tussa.

Ouça menino,
Que nem tudo vai ser mole:
A oposição não é besta
E não vai deixar que a enrole
Pode acabar com a festa
E mesmo vivos, nos esfole.


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