terça-feira, 7 de agosto de 2018

Entre Bibliotecas de Babel e Beijos Cibernéticos no retorno à Ilha do Amor: Fragmentos de mim no IV Encontro Nacional da Sociedade de Cultura Latina do Brasil em São Luís MA


No último recesso, retornei a São Luís-MA para participar do"IV ENCONTRO NACIONAL DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO BRASIL", em São Luís/MA/Brasil, de 19 a 21 de julho, e aproveitei (muito!)  pra curtir mais essa capital maranhense que amo de paixão (o finalzinho saiu brega mas sincero). Durante o evento, tive o privilégio de declamar vários poemas meus, entre eles, “Biblioteca de Babel”, de meu nono livro “O nada temperado com orégano – Receitas poéticas para um país sem poesia e com crise na receita” [2016], e “Beijo cibernético (1998)”, de meu quarto livro “O último adeus (ou O primeiro pra sempre)[2004]”.
Hoje relembro estes poemas, já postados em publicações anteriores no blog, e trago o vídeo com fragmentos de minha interpretação para os dois poemas.
Espero que gostem. Abração (estou de volta!) e Arte Sempre!


Biblioteca de Babel

Sou Maiakovisk às vezes eufórico, depois desesperançado, na Rússia Revolucionária,
Sou Kerouac atravessando as glórias e agruras na estrada dos Sonhos Americanos,
Sou Che Poeta, escrevendo versos entre revoluções armadas e os exércitos de La Paz,
Sou Churchill Moço, esquecendo os cabelos brancos e a bomba atômica,
Sou o rico mais pobre, o plebeu mais nobre, a chama invisível de Camões,
O carnaval cinza de Bandeira, o colorido melancólico de Oswald,
Sou o bandido mais querido, o mocinho mais temido, o vazio que enche nossos corações,
O Todo Mundo dos Altos dos Autos da Lusitânia,
O Ninguém das Epopeias, de Todos Os Odisseus,
Sou Todo Seu e também sou Eu e Outras Poesias,
Sou a acomodação e a rebeldia, a distorção e a harmonia,
O Amor maiúsculo e o amor tosco, o Arcanjo e o Anjo Torto,
Sou o Tao, sou humilde, Yin e Yang, a praia e o mangue,
Sou Deus, Zeus e o Demônio da Teoria,
Sou Talmud, Corão, Hieróglifos, sou popular e erudito,
Sou Temporada no Inferno e Comédias Divinas,
O Jesus Menino de Torga e o Menino Jesus da Bíblia,
O Evangelho das Selvas e o Bhagavad-gita,
Sou toda inércia que nos agita,
Sou os olhos cegos de Borges que leem sem parar,
Sou o leitor de tudo, com o lírico nada incluso,
Sou raso, sou profundo, sou a volta e a falta que o parafuso faz,
Sou a procura perdida de todo sentido na falta de sentido de Dadá,
Sou o viajante parado dando a Volta ao Mundo sem sair do lugar.

Beijo cibernético (1998)

Aposte, invista na crise
pois ela cresce mais que a ação
pare a ação
ligue-se na internet
sinta o site
mande um e-mail
solidaoarrobapontocompontobr
conte bytes caso não consiga dormir
especule o movimento
beije seu software
tecle enter pra amar
invista no desemprego
desfile no enredo do FMI
jure sobre os juros
reze pro prédio não cair
vote eletronicamente
confirme a clonagem
encha o disco
desligue o aparelho de CD
disque 0900
faça um curso de inglês
passe a bola pro francês
que a taça agora é dele também
desista do português
porque esta língua está em baixa na bolsa de valores
conte-me como foi sua primeira vez
na cama com Bill Gates
globalize o coração
delete a consciência
privatize suas emoções
venda sua poltrona
compre à vista uma bomba atômica
escolha o filme que escolheram pra você
aperte play pra explodir o vídeo-cassete
observe se seus três filhos estão bem
a tevê, o celular e o computador
obedeça a ordem
deixe que o progresso faça o resto
provoque um curto-circuito
aproveite a queda de energia
pra anular o comando esquecer
acesse o banco de dados
e finalmente perceba:
a única máquina que respira em sua casa é você.

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