Ainda sobre ontem, dia dos pais. A data me remete às sábias
palavras da escritoramiga valenciana Nanny Oliveira:
“Agosto é o mês daqueles caras que fizeram, mas não que criaram
seus filhos, procurarem alguma foto pra postar no dia dos pais. Eu aconselho a
você parabenizar todos eles assim ó:
E o amor, a presença, estão em dia?!”
(Nanny Oliveira)
Inspirado nisso, trago hoje meu conto inédito, inspirado na
famosa data do segundo domingo de agosto, um conto de Dia dos Pais, entre Luke
Filho e Anakin ‘Darth Vader’ Pai.
Espero que curtam esse episódio carlosbrunniano de Guerra
nas Estrelas. Boa leitura e Arte Sempre!
Guerra nas Estrelas – A ameaça fantasma paterna
(Carlos Brunno Silva Barbosa)
Luke Filho bate na porta da casa
paterna com uma firmeza inusitada. Apesar de todo ensaio e treinamento jedi que
praticara para dar ao ato tal solidez, não imaginava ter tamanha firmeza... É dia dos pais e Luke Filho sente o
desconforto constante que esta data lhe traz. Enquanto bate na porta, o coração
jedi lhe alerta: “Perigo, perigo! Isso não vai dar certo de novo, não vai dar
certo de novo!...” Mesmo assim, Luke Filho insiste – todo ano, reserva essa
data ao sacrifício de se aproximar da criatura estranha que declarara ser seu
pai.
Anakin Pai
atende a porta – tem olhos de real ressaca, tão diferentes dos oblíquos olhares
das Capitus Machadianas que Luke Filho admira nas leituras cotidianas. A ressaca de papai é
algo adoentado, misto de crise moral e existencial. “Perigo, perigo!”, o
coração jedi grita. Mas, em silêncio, Luke Filho força um sorriso e deseja que
este saia o menos amarelo possível. “Perigo, perigo!”, o coração jedi em histeria. Mas Luke
Filho apenas sorri e diz a Anakin Pai um “Feliz Dia dos Pais!”, sem hesitar,
bem firme, como treinara durante a longa viagem para este hostil planeta.
Anakin Pai
repete o ritual anual, demonstra satisfação com a chegada do filho pródigo,
abraça-o com entusiasmo e comenta sobre planos imediatos e futuros que jamais
concretiza ou concretizará. Combina com Luke Filho para que ambos saiam em direção
à Galaxiária de Barra A-Li, pois juntos pegarão uma espaçonave para a Estrela
Shagri-Lá, onde almoçarão com Princesa Léo, irmã-o de Luke e segundo filho de
Anakin.
Antes de saírem, Anakin Pai
conversa às ocultas com a irmã Madrinha Estelar, que ainda antes abraçara o
afilhado Luke Filho e comentara com este os últimos acessos embriagados de
fúria sith do nebuloso consanguíneo, atualmente brigado com os demais parentes
da casa. Luke Filho observa à distância a tentativa de reunião sigilosa de
Anakin Pai com Madrinha Estelar, mas nada escapa aos olhos jedi: seu pai, em
eterna crise financeira, pegava mais um empréstimo fraterno que jamais iria
pagar. “É pra eu poder curtir meus filhotes, irmã Estelar, você sabe...”, Anakin
Pai sussurra para a consanguínea benevolente e protetora, que não percebe a
farsa fantasma no tom suspirado do nebuloso consanguíneo. Luke Filho, de
ouvidos apurados jedis, finge que não, mas ouve tudo e sente desconfortantes
premonições. “Não vai dar certo, nunca dá certo!”, o coração jedi em colapso. Mas Luke
Filho apenas acompanha a farsa de Anakin Pai e, após o comando paterno, segue
com ele em direção da Galaxiária.
Cenário II da farsa: Galaxiária
de Barra A-Li. Anakin Pai alega dores misteriosas e pede para parar no Bar do
Bulba para relaxar e conversarem enquanto a espaçonave das 12:30 não chega.
Retira do bolso puído da velha calça o dinheiro amassado, outrora sem vinco ou
marcas quando Madrinha Estelar emprestara, e pede uma dose de Cerveja Letal
Extra Sith, apesar de antes ter alegado a Luke Filho que pediria um H2O
terráqueo. Anakin Pai percebe um certo desconforto no filho, mas a energia
nebulosa no pai é mais forte que a censura velada do filho. “Não liga de eu
estar bebendo só umazinha cervejinha letal, né?”, sorri nebulosamente, como
cobra amiga que disfarça a periculosidade de seus venenos. “Perigo, perigo!”,
novamente o coração jedi em histeria.
Mas Luke Filho apenas ensaia um sorriso
torto e responde um inócuo “Não” que nem ele mesmo acredita que sairia tão
falsamente indiferente. É o dia dele, de Anakin Pai, e Luke Filho quer
explodir, mas, por enquanto, pelo bem da paz nas estrelas, só implode.
Anakin Pai, após o primeiro copo
de Cerveja Letal Extra Sith, dispara: “Sabe, filho, tô sentindo umas dorezinhas
aqui, acho que não estou disposto a viajar.” Primeira desculpa – então o plano
era só mesmo dar ‘um perdido’ na Madrinha Estelar, como as primeiras
premonições jedis de Luke Filho desconfiavam. “Perigo, PERIGO!”, o coração jedi
surta. Mas Luke Filho implode e só diz um “Ok” que soa mais irônico,
desesperançado e desconfiado do que ele ensaiara fazer. Segundos de pesado
silêncio, o bafo de Cerveja Letal Extra Sith incomoda o nariz jedi de Luke
Filho, logo que o pai dispara o segundo e fatal tiro: “E o namorado de seu
irmão deve estar lá...” “PERIGO, PERIGO!...” Além de dar ‘um perdido’ na
Madrinha Estelar, agora Anakin Pai tenta se justificar com manobras homofóbicas
do tradicional Império, atacando o seu segundo filho e irmã-o de Luke, Princesa
Léo. É demais para qualquer zen budismo jedi! Luke Filho tenta conter a
explosão, mas sua cara jedi não disfarça a expressão de fúria. O bafo letal
extra sith de Anakin Pai dá a última estocada: “Você também fica zangadinho à
toa...” “PERIGO, PERIG...” Luke Filho soca levemente o balcão, queria retirar o
Sabre de Luz da Verdade e picotar o já despedaçado pai. A criatura a sua frente
é tudo que ele não queria ser e tem o mesmo sangue que corre nas veias dele. Os
olhos de Luke proferem Guerra, mas ele apenas se levanta e diz que prefere sair
do bar e entrar mais cedo na espaçonave para a Estrela de Shangri-Lá. Luke
Filho parte sem olhar pra trás.
“Não ia dar certo, você sabia que
não ia dar certo”, o coração jedi dispara arritmado, mas controlado, como
escombro sobrevivente de ataques de múltiplos furacões. Mas Luke Filho, mesmo sempre
frustrado, o ignora, pois sabe, que, no ano que vem, nesta mesma fatídica data,
retornará à casa paterna e repetirá o ritual, mesmo se opondo aos alertas do
coração jedi.
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