segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Ainda sobre ontem: Guerra nas Estrelas - A ameaça fantasma paterna


Ainda sobre ontem, dia dos pais. A data me remete às sábias palavras da escritoramiga valenciana Nanny Oliveira:
“Agosto é o mês daqueles caras que fizeram, mas não que criaram seus filhos, procurarem alguma foto pra postar no dia dos pais. Eu aconselho a você parabenizar todos eles assim ó:
E o amor, a presença, estão em dia?!”
(Nanny Oliveira)


Inspirado nisso, trago hoje meu conto inédito, inspirado na famosa data do segundo domingo de agosto, um conto de Dia dos Pais, entre Luke Filho e Anakin ‘Darth Vader’ Pai.
Espero que curtam esse episódio carlosbrunniano de Guerra nas Estrelas. Boa leitura e Arte Sempre!





Guerra nas Estrelas – A ameaça fantasma paterna
(Carlos Brunno Silva Barbosa)

Luke Filho bate na porta da casa paterna com uma firmeza inusitada. Apesar de todo ensaio e treinamento jedi que praticara para dar ao ato tal solidez, não imaginava ter tamanha firmeza... É dia dos pais e Luke Filho sente o desconforto constante que esta data lhe traz. Enquanto bate na porta, o coração jedi lhe alerta: “Perigo, perigo! Isso não vai dar certo de novo, não vai dar certo de novo!...” Mesmo assim, Luke Filho insiste – todo ano, reserva essa data ao sacrifício de se aproximar da criatura estranha que declarara ser seu pai.
            Anakin Pai atende a porta – tem olhos de real ressaca, tão diferentes dos oblíquos olhares das Capitus Machadianas que Luke Filho admira nas leituras cotidianas. A ressaca de papai é algo adoentado, misto de crise moral e existencial. “Perigo, perigo!”, o coração jedi grita. Mas, em silêncio, Luke Filho força um sorriso e deseja que este saia o menos amarelo possível. “Perigo, perigo!”, o coração jedi em histeria. Mas Luke Filho apenas sorri e diz a Anakin Pai um “Feliz Dia dos Pais!”, sem hesitar, bem firme, como treinara durante a longa viagem para este hostil planeta.
            Anakin Pai repete o ritual anual, demonstra satisfação com a chegada do filho pródigo, abraça-o com entusiasmo e comenta sobre planos imediatos e futuros que jamais concretiza ou concretizará. Combina com Luke Filho para que ambos saiam em direção à Galaxiária de Barra A-Li, pois juntos pegarão uma espaçonave para a Estrela Shagri-Lá, onde almoçarão com Princesa Léo, irmã-o de Luke e segundo filho de Anakin.
Antes de saírem, Anakin Pai conversa às ocultas com a irmã Madrinha Estelar, que ainda antes abraçara o afilhado Luke Filho e comentara com este os últimos acessos embriagados de fúria sith do nebuloso consanguíneo, atualmente brigado com os demais parentes da casa. Luke Filho observa à distância a tentativa de reunião sigilosa de Anakin Pai com Madrinha Estelar, mas nada escapa aos olhos jedi: seu pai, em eterna crise financeira, pegava mais um empréstimo fraterno que jamais iria pagar. “É pra eu poder curtir meus filhotes, irmã Estelar, você sabe...”, Anakin Pai sussurra para a consanguínea benevolente e protetora, que não percebe a farsa fantasma no tom suspirado do nebuloso consanguíneo. Luke Filho, de ouvidos apurados jedis, finge que não, mas ouve tudo e sente desconfortantes premonições. “Não vai dar certo, nunca dá certo!”, o coração jedi em colapso. Mas Luke Filho apenas acompanha a farsa de Anakin Pai e, após o comando paterno, segue com ele em direção da Galaxiária.
Cenário II da farsa: Galaxiária de Barra A-Li. Anakin Pai alega dores misteriosas e pede para parar no Bar do Bulba para relaxar e conversarem enquanto a espaçonave das 12:30 não chega. Retira do bolso puído da velha calça o dinheiro amassado, outrora sem vinco ou marcas quando Madrinha Estelar emprestara, e pede uma dose de Cerveja Letal Extra Sith, apesar de antes ter alegado a Luke Filho que pediria um H2O terráqueo. Anakin Pai percebe um certo desconforto no filho, mas a energia nebulosa no pai é mais forte que a censura velada do filho. “Não liga de eu estar bebendo só umazinha cervejinha letal, né?”, sorri nebulosamente, como cobra amiga que disfarça a periculosidade de seus venenos. “Perigo, perigo!”, novamente o coração jedi em histeria. Mas Luke Filho apenas ensaia um sorriso torto e responde um inócuo “Não” que nem ele mesmo acredita que sairia tão falsamente indiferente. É o dia dele, de Anakin Pai, e Luke Filho quer explodir, mas, por enquanto, pelo bem da paz nas estrelas, só implode.
Anakin Pai, após o primeiro copo de Cerveja Letal Extra Sith, dispara: “Sabe, filho, tô sentindo umas dorezinhas aqui, acho que não estou disposto a viajar.” Primeira desculpa – então o plano era só mesmo dar ‘um perdido’ na Madrinha Estelar, como as primeiras premonições jedis de Luke Filho desconfiavam. “Perigo, PERIGO!”, o coração jedi surta. Mas Luke Filho implode e só diz um “Ok” que soa mais irônico, desesperançado e desconfiado do que ele ensaiara fazer. Segundos de pesado silêncio, o bafo de Cerveja Letal Extra Sith incomoda o nariz jedi de Luke Filho, logo que o pai dispara o segundo e fatal tiro: “E o namorado de seu irmão deve estar lá...” “PERIGO, PERIGO!...” Além de dar ‘um perdido’ na Madrinha Estelar, agora Anakin Pai tenta se justificar com manobras homofóbicas do tradicional Império, atacando o seu segundo filho e irmã-o de Luke, Princesa Léo. É demais para qualquer zen budismo jedi! Luke Filho tenta conter a explosão, mas sua cara jedi não disfarça a expressão de fúria. O bafo letal extra sith de Anakin Pai dá a última estocada: “Você também fica zangadinho à toa...” “PERIGO, PERIG...” Luke Filho soca levemente o balcão, queria retirar o Sabre de Luz da Verdade e picotar o já despedaçado pai. A criatura a sua frente é tudo que ele não queria ser e tem o mesmo sangue que corre nas veias dele. Os olhos de Luke proferem Guerra, mas ele apenas se levanta e diz que prefere sair do bar e entrar mais cedo na espaçonave para a Estrela de Shangri-Lá. Luke Filho parte sem olhar pra trás.
“Não ia dar certo, você sabia que não ia dar certo”, o coração jedi dispara arritmado, mas controlado, como escombro sobrevivente de ataques de múltiplos furacões. Mas Luke Filho, mesmo sempre frustrado, o ignora, pois sabe, que, no ano que vem, nesta mesma fatídica data, retornará à casa paterna e repetirá o ritual, mesmo se opondo aos alertas do coração jedi.



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