Como eu já dissera na postagem anterior, no último período
de folga, retornei a São Luís-MA para participar do"IV ENCONTRO NACIONAL
DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO BRASIL", em São Luís/MA/Brasil, de 19 a
21 de julho, e curti muito essa jornada lírica ludovicense. Durante o evento, além
ter tido o privilégio de declamar vários poemas meus, entre eles, como já
informara na postagem anterior, tive a
sublime emoção de ver ao vivo e em múltiplas cores o lançamento da I Coletânea
Poética da Sociedade de Cultura Latina
do Brasil: Construindo Pontes”, em comemoração aos 30 anos de fundação dessa
importante instituição multicultural.
A minha participação nessa coletânea é
muito importante para minha bibliografia, pois, apesar da liberdade de temas,
foquei nos meus 3 poemas inseridos na obra minha visão lírica de latinidade
(mais próxima da ‘américa latinidade’) e seus elos históricos e suas pontes às
vezes firmes, às vezes frágeis.
E, como o número de exemplares da coletânea são limitados,
impedindo-me de doar, emprestar para cada leitor, trago hoje ao blog estes 3
poemas (2 inéditos – “Lá Tino” e “A cidade latina dos náufragos” e 1 já publicado anteriormente no blog – San Vicente
dos Convalescentes”).
Espero que tenham uma boa leitura. Abração (estou de volta!)
e Arte Sempre!
Lá
Levaram meu ouro,
minhas jazidas de sonhos e mataram parte de minha rebeldia.
Ainda assim,
carrego comigo toda riqueza perdida nos olhos sem brilho cheios de fantasias.
Trago em meus
sorrisos mais naturais todas as inconfidências tolhidas e dores incidentais.
Imagino sempre
vinganças vãs e nunca cumpridas contra meus exploradores ancestrais.
Navego
em calmarias revoltosas em busca eterna da metrópole a retratação.
O passado é um
legado de sangue, dor e ingloriosa conquista que nunca deixo pra trás.
Tino
Latino é um ser
assassino em potencial incapaz de assassinar qualquer forma de vida.
Ainda que a fúria
incontida incendeie os olhos e a rotina, infinita é apenas a fumaça dos dias.
Tenho a faca da
revolução nas mãos, mas apenas acaricio suas lâminas com amor e hesitação.
Impossível negar
o clamor guerrilheiro, mas a guerrilha aberta só se manifesta
Nas trincheiras
internas, nos confins do coração descompassado pelos fracassos diários.
O inglorioso
legado de ser nativo explorado implode meu corpo que desfila
Sem brilho e
pacífico no meio da violenta multidão.
A
cidade latina dos náufragos
Ainda
ontem mataram mais uma pomba da paz
Que
passeava inocentemente pelas estradas da vida
Cantando
músicas de conciliação
Para
a população faminta e oprimida
De
nossa cidade latina, ainda gripada com o vírus da farda
Trajada
e disseminada por golpistas ancestrais.
Hoje
os culpados são pegos aclamados por seus discursos de preconceito
Nas
vias públicas e redes sociais virtuais.
Hoje
os culpados são pegos, mas quem vive preso é o bom senso,
Encarcerado
nas celas do retrocesso de uma nova e poderosa Alcatraz.
Ainda
ontem espancaram mais um defensor dos humanos direitos
Que
pensava inocentemente que haveria respeito
À
vida de todo ser vivo que caminha pela cidade latina em busca de paz.
Enquanto
o mundo se mata pela estável economia,
Aqui
explodem granadas sobre os defensores do direito à vida pacífica;
A
discussão estúpida mais popular é se devemos ou não nos matar.
Hoje
a febre é verde e amarela e mata-nos um pouco a cada dia;
A
doença se alastra por ruas e avenidas.
A
falta de razão e de cortesia é agraciada
Pela
nação violenta e enlouquecida.
Ainda
ontem chorei de saudades pelos tempos cerebrais
Que
os anos e a internet não trazem mais.
Hoje
a vida acuada me visita,
Aflita
com as novas notícias falsas e as vozes assassinas,
Com
medo que novamente nos arrombem as portas
E
marchem contra sua existência divina.
Declamo-lhe
então essa vã poesia
E,
mesmo refém do mesmo receio que a exila,
Abro
a porta de casa pra vida.
A
morte, popularizada, compartilhada e querida,
Ronda
armada a vila e ameaça minha acolhida.
-
Nesse continente insensato de nossa sociedade latina,
A
vida e eu agora somos uma náufraga ilha...
San Vicente dos
Convalescentes
Era
um imenso coração sangrando
Que
avistei em teus olhos castanhos
Indispostos
pra vida ou pra morte
Com
uma dor de nada que tudo invade.
Era
o monstro e a verdade
Um
horror de sina sem sorte
Eu
vi nossa doce ilusão mancando
Depois
do tiro e do golpe.
A
América latina, com consciência,
É
outra vez um gigante que adormeceu
Nas
camas sitiadas de San Vicente,
Governada
pelos demônios e suas cruzes.
Nas
praças plácidas de San Vicente,
As
velhas estátuas armadas de sobrenomes
Assistem
a seus novos varões clamando
Por
mais rancor entre os ricos e os pobres.
Os
livros de História eles já rasgaram
E
o que era sonho vivo desfaleceu.
Enquanto
tu suspiravas
Por
uma estrada nova pra San Vicente,
Os
porcos cercavam tua avenida,
Mantendo
a América convalescente.
Agora
vejo velhos barões gritando
Por
um novo circo cada vez mais torpe.