domingo, 4 de junho de 2017

Os perigos, as fortalezas e as fragilidades da condição humana nos formidáveis contos de Mariana Sessa

Depois de demorar uma era, finalmente trago ao blog os mais que fodásticos contos da jovem e talentosa escritora Mariana Sessa, cujos enredos me fascinaram muito.
Dei aula para Mariana Sessa no ano passado, quando ela concluía o nono ano, na Escola Municipal Alcino Francisco da Silva, no interior de Teresópolis/RJ, e, mesmo que aparentemente tímida, ela sempre buscou se envolver nos projetos da escola, como nos saraus que realizamos na escola, nos quais a jovem artista cantava famosas canções gospel, em companhia de sua amiga Jaqueline (que já mostrou seu talento como poeta revelação em postagens e concursos literários, em 2016). O talento de Mariana Sessa como escritora de contos (eu sabia que ela era uma leitora voraz de livros de contos e romances e que ela já havia feito alguns poemas e cartas em parceria com Wellington e Jaqueline, mas esta foi sua primeira incursão literária solo na prosa) só me foi revelado no meio do ano letivo de 2016, quando ela tomou coragem e me mostrou suas fantásticas histórias. Seus contos me chamaram logo a atenção pela competência criativa, escrita envolvente, que deixa o leitor vidrado com cada momento da história, e a densidade dos temas (que apresentam desde a violência contra mulher, depressão, escravidão sexual (sutilmente sugerido) até tráfico de pessoas!
Para a publicação, só precisei dar uns pequenos ajustes no conto de Kate e alguns maiores acertos no conto da Lia, resolvendo algumas quase imperceptíveis pontas soltas para que parecessem mais realistas. Mas a essência genial das obras de Mariana Sessa permanece em ambos os contos, os maravilhosos contos que escreveu continuam super-fodasticamente seus; só lapidei diamantes que já brilhavam.
Leiamos com atenção os mais que fodásticos contos da jovem e promissora escritora Mariana Sessa para que nos emocionemos com suas fabulosas narrativas e reflitamos sobre os aspectos bons e ruins da condição humana. Boa leitura e Arte Sempre, amigos leitores!

Kate

            Kate tinha muitos sonhos. Era uma menina pura, ingênua, que possuía uma beleza extremamente perfeita. Seus pais, Dona Alice e seu José, tinham muito orgulho de Kate, pois sua filha era muito adorável, muito amada por todos à sua volta. Só que Kate sonhava muito alto e não via maldade em nada...
            Um dia, Kate saía da escola distraída, quando esbarrou com um menino que passava por ali. Seu nome era João e foi amor à primeira vista! Ele parou diante dela com cara de bobo, puxou conversa e ficou admirando a beleza de Kate. Desse dia em diante, eles passaram a se encontrar e começaram a namorar.
            Mas João não era o príncipe com o qual Kate sonhava: com o tempo, o rapaz passou a maltratá-la. E aquela menina amável e sonhadora virou uma menina triste, amarga e cruel. Kate, que outrora tinha um brilho no olhar, já não era mais aquela menina sonhadora. Seu namoro com o violento João a tornou uma pessoa infeliz e cheia de ódio.
            Seus pais se entristeceram com a mudança de sua filha e tomaram as devidas providências: levaram Kate a um psiquiatra. O doutor logo percebeu que Kate perdera a capacidade de sonhar e percebeu que a paciente sofria de depressão, devido à forma que João maltratava a garota.
            Porém era tarde demais: sem seus sonhos, Kate enlouquecera completamente, jamais voltou a ser a menina adorável de antes. João, apesar de não ser preso pelos maus tratos que praticara com Kate, carregou a culpa por toda vida por ter destruído a mais bela e perfeita sonhadora, por ter acabado com toda pureza de Kate.
Conto de Mariana de Souza Sessa

Lia

            Lia era uma garota estranha, saía pouco de casa, era sempre vigiada pelos tios Sr. Conde e Sra. Condessa, não ia para a escola como as outras adolescentes e tinha poucos amigos. Sua vizinha, Ana Beatriz, com a mesma idade que ela, era uma de suas poucas amigas. Isso porque Ana Beatriz era insistente, sempre que podia se aproximava de Lia, mesmo com a vigilância constante do Sr. Conde e da Sra. Condessa.
            O que mais chamava a atenção de Ana Beatriz era que Lia sempre parecia com medo, falava pouco e se negava a falar sobre sua vida ou sobre seus pais. Sempre curiosa com as atitudes estranhas da vizinha, Ana Beatriz resolveu insistir em sempre se encontrar Lia nas poucas vezes que ela saía até o quintal de sua casa e investigar melhor a vida de sua estranha amiga. Sua insistência acabou irritando Lia, que brigou com a curiosa Ana Beatriz. Diante dessa discussão, os tios de Lia, sempre próximos de Lia, se aproximaram ainda mais e pediram que Ana Beatriz parasse de se encontrar com sua sobrinha, até porque em breve Lia viajaria e, por isso, a garota não deveria criar laços de amizade com ninguém. Ana Beatriz se afastou, mas reparou que um caderno de anotações caíra do bolso do Sr. Conde. Quando os tios e Lia viraram as costas, Ana Beatriz se imaginou num filme de suspense policial, catou rapidamente do chão o caderno perdido, enfiou no bolso e levou-o apressadamente pra casa sem avisar seus estranhos vizinhos.
            Ao ler o caderno, Ana Beatriz descobriu que, na verdade, o Sr. Conde e a Sra. Condessa não eram os tios de Lia, e sim traficantes de pessoas. E mais: eles pretendiam, na semana seguinte, vendê-la para alguém no exterior, que pretendia usá-la como escrava. Ana Beatriz avisou seus pais, que logo avisaram a polícia. Os policiais chegaram, prenderam Sr. Conde e a Sra. Condessa e libertaram Lia. A garota que jamais sorria, pela primeira vez, parecia aliviada. Lia não era mais uma garota estranha. Os policiais lhe explicaram quem foi a responsável pela sua liberdade, então Lia correu e abraçou a amiga Ana Beatriz.
            - Obrigada, Ana Beatriz! Serei eternamente grata a você! Me desculpe por nunca te falar nada. É que o Sr. Conde e a Sra. Condessa sempre me vigiavam e sempre ameaçaram que algo de ruim poderia acontecer comigo ou com você caso eu lhe contasse algo. Obrigada por insistir e me salvar desses bandidos.
            Depois disso, descobriram que, na verdade, Lia era órfã e foi sequestrada de uma casa de menores carentes. Percebendo a amizade de sua filha com a garota, os pais de Ana Beatriz decidiram adotar Lia. E agora Lia e Ana Beatriz não são apenas amigas, vivem felizes como duas irmãs.
Conto de Mariana de Souza Sessa


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