Vivemos mais um período tenso e vergonhoso (e,
infelizmente, nada inédito) em nossa História moral e política: a tentativa de
impeachment da presidente Dilma. De um lado, a “Excelentíssima” Dilma Rousseff,
governante desgovernada (mais manobrada que manobrista), sem liderança, com
péssimas manobras políticas (ter tentado enfraquecer o PMDB há uns anos atrás
foi talvez seu crime maior, pois tal partido – mamador viciado das tetas do
poder - não perdoa tal tática; deu de presente pra ela o infame Eduardo Cunha),
no meio de crise, carregando nas costas um PT que, a cada sufoco, suja ainda
mais sua própria história e, corrompido, acaba se dando a artifícios cada vez
mais vergonhosos pra si e pra história geral da política, afim de não largar o
suculento osso do poder público maior. Do outro lado, tão sem vergonha e
vergonhoso quanto, temos uma Câmara e Senado igualmente (e, por vezes, ainda
mais) corrupta e incapaz de lidar com a crise ou de criar projetos que melhorem
nossa situação (desde que as propinas e mamatas de cargos se escassearam e/ou
foram denunciadas e/ou inviabilizadas por conta da crise, terminaram um mandato
e iniciaram outro mostrando completa ineficiência para votarem um projeto
realmente relevante, mais preocupados em serem os ratos que vão à mesa com a
saída do dono da casa do que ousarem realizar uma real faxina que propicie
melhorias para a casa). Em resumo, se o impeachment acontecer, meu senhor,
minha senhora, minha senhorita, estamos todos muito ferrados, pois nos
danaremos todos com o retorno de um PMDB, acompanhado de tantos outros partidos,
coxinhas e não coxinhas, tão sujos e patifes quanto o PT, não sejamos ingênuos.
Mas – não, não tem ‘mas’, adversativas não acontecem, nada sugere
contrariedade; só há aditivas. Ou seja, E, se o impeachment não acontecer, meu
senhor, minha senhora, minha senhorita, o velho mar de lama petista se rejuvenesce
e estamos também todos muito ferrados, pois nos danaremos todos com a
manutenção de um PT e de outros partidos, pães com mortadela e pães sem mortadela
(por favor, sem aquela de comunistas – todos os partidos brasileiros que
almejam o poder beijam os donos do dinheiro; traje social é só pra dar mais destaque
no paletó capitalista), tão sujos e patifes quanto eles num desgoverno que
sempre promete, mas que nada tem a oferecer. É esse o problema: estamos muito
ferrados independente dos rumos da política brasileira, pois todos os rumos não
são caminhos para nós e sim rotas de fuga dos poderosos que mamam ou de um lado
ou de outro (todos eles ganham de qualquer forma, uns mais que outros, enquanto
todos nós nos ferramos de qualquer forma, com um mais que com outros). Em todos
os lados, a corrupção, cujos anos em nosso país são comemorados junto com o
próprio Brasil, está entranhada, tão entranhada que nem nós mesmos escapamos
dela, somos corruptos também, assumindo lados que corroboram com nossos
egoísmos, com nossa incansável busca por aquela vantagenzinha ali e outra
mamatinha acolá – quem concorda com o impeachment já teve vantagem no poder,
quer voltar a ter e o Brasil que se foda; quem discorda do impeachment quer
manter a vantagem no poder, quer se consolidar e o Brasil que se foda. A
corrupção no Brasil está entranhada em todos, com menor ou maior proporção de
acordo com a posição socioeconômica do indivíduo e, a cada dia, nos corrompemos
mais pelo bem do nosso eu, negando tudo que aparenta um mínimo de coletivo.
Tal reflexão me fez lembrar de um artigo de opinião,
fodasticamente escrito pela hiper-talentosa escritoramiga Nathália Malheiros, de Teresópolis/RJ,
inspirada em pensamentos filosóficos de Mario Sergio Cortella. O texto foi
escrito no ano passado, pra ser mais exato em outubro, quando Nathália era uma
das geniais escritoralunas que brilhavam nas aulas de Produção Textual que eu
dava na época na Escola Municipal Alcino Francisco da Silva, quando o
impeachment já estava sendo amplamente divulgado, mas permanecia meio que adormecido,
esperando o beijo de algum Judas (Michel ou Cunha) cutucado com vara curta pra
se manifestar. Sou cético, completamente descrente com o fim da corrupção na
política com ou sem impeachment, mas, como Nathália, guardo uma esperança de solução
em nós mesmos (precisamos acreditar que algo vai mudar, pelo menos em nós
mesmos). O texto dela vale a pena ler e reler – serve para pensarmos e
repensarmos nossas posturas e atitudes antes de apontarmos a sujeira do outro
com nossos dedos igualmente (ou ainda mais) sujos.
Ordem e progresso: na bandeira, está escrito; no
Brasil, não mais – até quando?
Nathália Malheiros
Ordem e progresso: na bandeira,
está escrito; no Brasil, não mais. A corrupção no Brasil cresceu e aumenta a
cada dia, nós sabemos. Reclamamos de governantes, deputados e todos os outros
ditos representantes do povo. Mas será que não somos participantes disso? Você
pode ter certeza que sim.
Nós
queremos mudar o mundo corrupto sendo corruptos. Queremos melhorias sem
melhorar. Queremos ver o sol sem sair da sombra. Queremos, mas não fazemos.
Você e eu cometemos corrupção a todo tempo. Queremos passar a perna até em quem
é amigo! A “luta” pelo dinheiro ultrapassa os limites. “Dinheiro é tudo em um
país de crise”, não é mesmo?
Não
há honra. O que é honra? Alguém lembra? Estamos nos deixando, abandonando uns
aos outros por corrupção, por dinheiro. Até quando isso vai durar? Temos que
ser a mudança que queremos ver, temos que começar com a gente para querer mudar
alguém. Não é fácil mudar, nunca é. Mais incrível é a maneira que alguém
simples passa a ser corrupto; corrupção é sempre fácil. Não existe gratidão no
mundo, precisa de mais! Não existe respeito. Os valores de um mundo corrupto
são valores perdidos.
E
quando vamos olhar para nós mesmos e para o nosso mundo? Vamos esperar as
coisas piorarem para isso acontecer? Vamos respeitar mais, amar mais, honrar
mais, sermos mais gratos!
Vamos
colocar nossos erros à nossa frente e tentar consertá-los. Um mundo sem corrupção
será sim possível se a gente começar hoje. Julgue menos e tente mudar mais.
Mudanças acontecem quando existem pessoas que querem mudar. Se coloque no lugar
do outro, tente compreender e ajudar. Para mudar o mundo é preciso evoluir.
Comece por você a evolução. O mundo será mais quando a corrupção for menos.
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