terça-feira, 30 de junho de 2015

Contos vis: O ilustríssimo caso de amnésia do Dr. Jekyll

Hoje foi mais um dia de luta contra os desgovernos do (Des)Prefeito Arlei Rosa para o Movimento de Professores Pela Educação de Teresópolis/RJ (MPET), para os demais servidores públicos e para o povo de Teresópolis, todos (agora) apoiados pelo outrora arredio Sindicato dos Servidores Público de Teresópolis (que muitas vezes foi – e nas declarações à TV ainda é - omisso na afirmação da força popular do movimento de servidores públicos que resiste e movimenta a cidade independente dele). E, depois de muitas paralisações, meias paralisações e pressão popular constante nos ‘corruptosos’ vereadores da Câmara Municipal de Teresópolis, finalmente conseguimos uma vitória mais consistente: as contas do atual desgoverno teresopolitano – já rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União – foram também reprovadas pelos vereadores presentes na Sessão de hoje e, com isso, o (Des)Prefeito Arlei Rosa ficou inelegível e pode ser afastado pelo Poder Judiciário.
Mesmo assim, como em outros momentos, mais uma vez, houve torpes manobras políticas: na tentativa de esvaziarem a Câmara, os vereadores Dr. Carlão, Habib, Luciano da Vargem Grande, Anginho e Dedê da Barra faltaram a Sessão, mais uma vez aprovando a caótica má administração de Arlei Rosa (8 pedidos de Comissão Processante contra o Prefeito – na busca de afastar o omisso gestor e investigar as irregularidades que detonam com a administração sadia da cidade – já foram rejeitados graças às manobras desses 5 vereadores e a Serginho Pimentel).
Sempre que essas coisas acontecem, sempre me vêm à cabeça diversas indagações: como um ser humano, eleito por seres humanos, pode insensibilizar-se tanto e decepcionar os anseios populares a ponto de tornar-se um politiqueiro desumano, vil e defensor de podres poderes? Como um ser desses consegue dormir, viver em paz com sua consciência, diante de tantas covardias com sua própria cidade, seu próprio abrigo? Não sei, honestamente não consigo me pôr no lugar deles sem sentir-me apodrecer por dentro, mas, graças a um convite de publicação da Revista Amnésia Teresópolis (deixo aqui o link da página para os amigos leitores curtirem e conferirem as fodásticas matérias da revista citada: https://www.facebook.com/pages/Revista-Amn%C3%A9sia/263883053674717?fref=ts) e minhas lembranças de “O médico e o monstro - Dr. Jekyll e Mr. Hide”, obra-prima de Robert Stevenson, tentei imaginar um conto-hipótese para esses seres insanamente medíocres e desprovidos de ética e humanidade, chamados de “a maioria dos políticos brasileiros”, que me provocam tanto asco. Foi assim que um dia, numa das diversas rejeições de Comissões Processantes contra o desgovernante Arlei, vendo meus companheiros fragilizados diante de tanta luta em vão e de tanto desrespeito daqueles que nós mesmos elegemos, reparando nos sorrisos sarcásticos dos vereadores Dr. Habib e Dr. Carlão, foi assim que surgiu “O ilustríssimo caso de amnésia do Dr. Jekyll".
Aviso aos amigos leitores que, como reflexo dos torpes vereadores inspiradores, o conto não é de boa ‘digestão’ para os olhos.
   
O ilustríssimo caso de amnésia do Dr. Jekyll

O velho homem entrou em sua mansão luxuosamente decorada como um mendigo que encontra um bilhete premiado da mega-sena. É aqui que eu moro? Desde quando? Terrível amnésia! Olhou cada canto da mansão e em nenhum deles encontrou a resposta. O vaso grego, o tapete persa, o sofá obscuro, todos os objetos pareciam falar uma língua que o velho homem não sabia traduzir. Na cabeça, a memória insistia em horizontes longínquos, uma vida mais simples e remota, lembranças mais próximas de sua terra se conflitavam com a luxúria luxuosa de seu novo habitat. É aqui que eu moro? Desde quando? A parede lhe sorria com tons amarelos, superficiais. A tendência colorida de alguns objetos parecia se contrastar com seu terno cinza, seus cabelos sem vida, sua vista embaçada, sua memória que continuava a falhar.
                Ouviu um som de TV vindo do quarto... Oh, não estou sozinho! Ah, alguém comigo, alguém que talvez pudesse lhe explicar... Aproximou-se em passos lentos, não se lembrava se possuía esposa, filhos, companheiros, visitantes... ou um invasor? O coração batia arrastado, como se insistisse que o velho homem sempre fora assaltado por uma terrível solidão. No quarto, deparou com uma TV gigante de não se sabe quantas polegadas. Quando comprara aquela máquina monstruosa? Desde quando curtia objetos insanamente colossais? Na cabeça, de novo, um planeta distante, um mundo sem dúvidas e sem tevês, um campo vasto, cercado por crianças, ele tão pequeno e tão bonito sorrindo para as árvores que cresciam sem nenhuma semente de solidão. Acordou do transe onírico ao deparar-se com uma estranha deitada na imensa cama do quarto, olhando hipnoticamente para a gigantesca TV ligada. Não reparava a presença do velho homem? Seria uma zumbi? Era jovem, linda, esbelta e extremamente pálida – seria um lindo cadáver que se esqueceu de morrer? No intervalo do programa ao qual assistia, ela olhou pro velho homem, estranhando a inércia dele diante dela:
- Tudo bem, querido? Aconteceu alguma coisa? Tira esse terno, toma um banho, vem se deitar comigo, vai passar um filme maravilhoso daqui a pouco no outro canal, vem ver... – ela o chamou de “querido” e é tão nova para ele. Seria sua esposa? Uma esposa com ares de filha...? Seria alguma espécie de legalizada pedofilia? O velho homem não sabia e, mesmo não sabendo, se condenava... – Ah, vai lá, tira essa roupa, toma um banho, depois tenho que te contar da TV nova que eu vi anunciar!
O velho homem fingiu obedecer aos pedidos da garota e afastou-se do quarto. Mas não foi ao banheiro, tudo aquilo parecia um pesadelo, um pesadelo rico, mas ainda pesadelo. Atormentado pela amnésia e pelo inexplicável horror a tudo aquilo, preferiu sair da mansão, tentar encontrar as respostas na rua. Foi preciso apenas atravessar um portão blindado e pisar para o lado de fora para perceber o cenário assustador do bairro onde a mansão se localizava: a estrada esburacada, as calçadas destruídas, árvores cortadas, uma praça demolida numa obra abandonada - apenas sua bela mansão resplandecia impassível naquele cenário caótico. No lado externo recentemente pichado do muro da mansão, o velho homem finalmente reconheceu seu nome no meio dos dizeres: “A sua hora vai chegar, Dr. Jekyll safado, ladrão! Enganou o povo só pra ganhar a eleição!” Relia os dizeres, quando ouviu um grito: “Ele saiu da toca, gente, vamos pegar o safado!” Viu a multidão enfurecida que vinha em sua direção e correu de volta para dentro da mansão.
O coração saltava, ouviu as múltiplas batidas vãs no portão blindado, o velho homem se sentiu perigosamente seguro e começou a se lembrar de quase tudo: a campanha gloriosa, os esquemas, a sobrevivência amaldiçoada pela ambição de ter mais do que precisava. O velho homem lembrou-se de quase tudo, mas algumas perguntas continuavam em sua cabeça falha: como pôde ser tão cretino a ponto de entregar seu mundo para tantos governantes corruptos e fantasmas? Como pôde ser tão cretino a ponto de aceitar pertencer a um grupo tão odiado e babaca? Por falta de respostas, ameaçou se atirar para fora da mansão e se entregar para a multidão enfurecida, mas o velho homem também se lembrou da sua imensa covardia.
- Querido, telefone pra você! – ouviu a jovem esposa chamá-lo e considerou hipocritamente que aquele era um sinal de que aceitar aquele confortável exílio era a melhor decisão a se tomar.
                Entrou na sala e atendeu a ligação:
                - Mr. Hide, a porção já está na sua conta. Valeu pelo voto a nosso favor.
                E novamente Dr. Jekyll lembrou-se que trocara de nome e, mais uma vez, tomou uma hipócrita conclusão: Dr. Jekyll era inocente; ele não tinha culpa pelos atos de seu alter-ego Mr. Hide. Foi ao banheiro, lavou as mãos e o rosto e repetiu para si mesmo: Este monstro no espelho não sou eu, este monstro no espelho é Mr. Hide.
Carlos Brunno Silva Barbosa


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