Hoje, faltando 100 minutos para mais um dos “Cem Poemetos de Solidão”,
trago um poema a quatro mãos, escrito ontem por mim e pelo Mestre dos Mestres
Gilson Gabriel.
O poema, idealizado por Gilson, é um tributo poético a Maiakovski, uma
paráfrase (escrito feito com base em outro escrito mais conhecido, prestando
homenagem, sem intenção de provocar humor – senão seria paródia) / subversão
poética do poema “Ressuscita-me”, escrita pelo mais-que-fodástico poeta russo
(o poema já ganhou também uma versão musical de Caetano Veloso).
O poema que Gilson e eu fizemos é um pedido desesperado e enérgico de
mudanças no rumo do mundo, um decreto pelo fim das margens de desigualdades sociais,
um hino ateu a favor da utopia que Deus não concebeu. Para experimentarmos sua
aceitação (seu teor enérgico – como de Maiakovski - seu tema pesado como o céu
que repousa em nossos ombros cansados, inclusive seu título polêmico – nesse
quesito, não atirem pedras em Gilson Gabriel; nesse ‘crime’ poético, sou réu
confesso, e ele, meu cúmplice mais íntimo), lançamos o poema ontem no facebook.
Recebemos boas-vindas de uns e uma salva de tiros de outros contra a falta de
misericórdia de nossas palavras (lamento muito estar de mal com a vida; juro
que reencarno na próxima viagem lírica como um amante fanático desse apocalipse
social que vivemos – ops, na verdade, acho que não... nunca vi poesia nos
comerciais da Coca-Cola e nas mensagens otimistas da facebookmania; apenas
hipocrisia).
Pela bala que matou Maiakovski, atirada pelo próprio poeta, nós
ressuscitamos os sonhos mortos e, com o otimismo mais pessimista do mundo,
reiniciamos a ressurreição do hino dos descontentes! Obrigado, Gilson Gabriel,
pela sublime oportunidade! Amém, Judas Iscariotes! Amém e avante, Maiakovskis
de outrora! Amém, tudo que o presente não tem, mas que poderia ter de melhor!
Em tempo: esse poema será declamado hoje, dia 26/04, no Luau da
Ressurreição do Sarau Solidões Coletivas, que acontecerá a partir das 20h, na
Comuna da Quinta das Bicas (no Quintalzão da Casa do Gilson Gabriel), na Rua
Edson Giesta, 50, Casa 2, perto do Mercadinho Francisquinha, no bairro Biquinha,
em Valença/RJ.
Hino de louvor a Judas Maiakovski
(Diante do trono)
Se agora sou o vômito fétido e escancarado da cidade,
Esparramado nas calçadas, imundície cordial,
Se sou o fedor que impregna o ar
Como perfume barato de puta insone,
Se sou o corpo magro e em farrapos
Que a caridade vil e enojada mantém “sobrevivo”,
Ressuscita-me!
Se sou agora o pus e a carne putrefata da nação
Que se aprisiona com qualquer gradil,
Se sou ferida aberta vislumbrada
em cada esquina,
Se sou o verme que aflora a poça d’água
boca adentro do sedento ,
Ressuscita-me!
Se agora sou a cruz encruzilhada
Nas mãos vazias do ateu sonhador,
Estilhaçada pela ausência de compreensão
Dos homens que não sonham outro caminho redentor,
Se sou a cor vermelha que desbotou na bandeira da utopia,
Atropelada pela nova mão direita
Que hoje comanda a nossa estrada,
Se sou tudo que podia ter sido e não fui,
Ressuscita-me!
Se agora sou ontem,
Se agora não é agora,
Se agora o agora não vem,
Ressuscita-me!
Mas se agora é esse nada
Que desfila na multidão mutilada,
Mas se agora é esse disparo
Que queima as faces cansadas,
Mas se agora é esse vazio
De tiros pela culatra,
Deixa-me sozinho
Com meu revólver desarmado
Ressuscita-me apenas
Se esse agora for passado!
(Gilson Gabriel e Carlos Brunno S. Barbosa)
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