Faltando 100 minutos para o próximo poemeto dos meus “Cem Poemetos de
Solidão” e às vésperas de outra sexta-feira, momento no qual os lobisomens
urbanos acordam e se alimentam da mais feroz poesia, tenho o prazer de
compartilhar minhas solidões poéticas com o fodástico escritor Rodrigo Carlos
Oliveira.
Filho de São José dos Campos/SP, Rodrigo Carlos atualmente reside em
Piquete/SP e, nessa caminhada por municípios paulistas, o artistamigo carrega na
mala e no corpo viajante a mais impressionante força lírica. Seus poemas
transformam imagens rotineiras nos mais belos escritos poéticos, cheios de
ritmo e mágico lirismo marginal.
O autor me declarou no facebook, rede social onde nos conhecemos, que jamais
completara o ensino médio. “Não terminei o segundo grau e nunca gostei da
escola.nas aulas ficava com fones de ouvidos e pé em cima da mesa. Sempre tive
uma necessidade extrema de escrever. Hoje tenho 30 anos e ainda escrevo.” Na minha
visão, sua aversão por escola se deve ao fato de ter se ocupado no doutorado do
novo olhar pras velhas coisas da vida através das músicas que ouvia e do ângulo louco que conquistava na visão de tudo quando colocava os pés em cima da mesa: sua arte
não deve nada à de escritores teoricamente mais graduados; no mundo maravilhoso
do lirismo, não se pede diploma – ou você é, ou você pode ser, ou você somente
pensa ser. Como professor, não posso negar a importância do estudo completo, mas, como poeta, sei que isso não determina qualidades poéticas. E, no universo fantástico da poesia, Rodrigo Carlos foi diplomado como professor. Seus poemas são fodásticos demais, sua escrita é uma das mais sublimes aulas líricas! “Escrever é sempre bem
solitário, mas até que existe um certo prazer na solidão...”
Encontremos o prazer da solidão escrita na leitura dos belíssimos
poemas de Rodrigo Carlos, amigos leitores!
Todos pensam que sou mais um
Mas eu sou todos
Meu mundo não gira; balança!
Sacode no peito a vida
Por todo novo amor
Por toda velha partida.
Rodrigo Carlos
LOBISOMEM URBANO
Anoitece no peito
A sorte do homem
É meia noite
Vou pra rua virar lobisomem
Goles de uísque na calçada
Gargalhadas forçadas na esquina
Chamando a atenção dos ratos, bichas e meninas
Eu me destaco como um palhaço triste desse circo
Mais duas esquina a frente
Eu viro gente
Mais um gole de vinho
Eu te ensino
O que é feio
O que é divino
Porque a noite
A rua é um livro
O bêbado no canto te ensina
As sirenes dos mortos
Marcam o ritmo
O casal que briga no bar
Matando o amor!
Matando o amor!
Vai te ensinar
Que amar
É o primeiro estágio da dor
Já é cinco da manhã
O sol boceja no horizonte sua luz
Eu levo essa fé
Que me ensina e me conduz
Estou feliz
Porque minha vida tem cor
Estou feliz
Porque volto pra casa
e respiro amor
E na janela um beija-flor!
E na janela um beija-flor!
Rodrigo Carlos
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