Um dos filmes que mais mexeu comigo e do qual jamais me esquecerei é o mais-que-fodástico-e-tenso-pra-raio “Dançando no escuro”, do polêmico
diretor Lars Von Trier (por sinal, foi o primeiro filme dele ao qual eu assisti
– depois disso, sinto sempre um aperto no coração, um certo incômodo extasiado
de lirismo inexplicável e um certo medo, quase pânico, da sociedade da qual
fazemos parte, quando me preparo para assistir a outro filme dele).
Assisti ao filme pela primeira vez, acompanhado do
artistamigo Max Vitor Sarzedas, numa sessão especial realizada no SESC e
organizada pela fodástica psicanalista Eveline Mello S. Miranda. A história da
operária imigrante com problemas de visão (interpretada pela cantora Bjork),
tentando a vida nos Estados Unidos da América, transformando todos os ruídos
opressivos das máquinas e da vida em música, sua luta e sofrimento pelo
dinheiro para a operação do filho (para que ele não fique cego como ela, pois a
doença é hereditária), sua resistência (inicialmente) pacífica e lírica à crueldade
da sociedade que a cerca, todos esses elementos foram me causando encantamento
(e, mesmo que apenas levemente, me fizeram até lembrar levemente de meus tempos
de operário em fábrica de papel, quando me apelidaram de peão letrado, porque
eu escrevia poemas, fazia faculdade e trabalhava arduamente – apesar de algumas
trapalhadas como Chaplin em “Tempos Modernos” rs). Porém, a hora final do filme
é um soco na cara: a crueldade da sociedade mata todo lirismo e sonhos da
personagem. Resultado: depois da identificação e torcida pela personagem, nos
resta a sensação de desconsolo, derrota coletiva, o pior de todos os sufocos
toma nosso corpo e toma-nos pra sempre como um vírus indetectável. Parabéns,
Lars Von Trier, detonou todas as minhas ilusões de um mundo melhor em duas
horas e pouca de filme, meu mal estar agora é eterno e, por mais sadomasoquista
que soe, mesmo esse tormento e desconforto são de uma beleza dura e
indecifrável. Aprendi a detestar ainda mais os Estados Unidos da América com os
filmes dessa fase de Lars Von Trier – the american dream is over pra sempre.
Em tributo a este fodástico filme, vai meu poema de hoje,
meio tradicional, meio moderno, e bastante sufocado!
Dançando (e chorando) no escuro
Não pensei que as trevas fossem tão úmidas...
Revejo a moça na estrada deserta
Dançando sozinha, de alma liberta,
Com passos leves sobre as terras ríspidas.
Ela traz nos olhos a noite incerta,
Mas seu sorriso sustenta a luz lânguida
De uma perspectiva estranha, translúcida,
Qual vento que ampara a porta entreaberta.
E quanto mais o tempo lhe atropela,
E quanto mais a vista se esfacela,
Mais sons no escuro seus pés encontram.
E quanto menos o tempo lhe cede,
E quanto menos a vida concede,
Mais choro se meus olhos a encontram...
Anotada a sugestão de filme!
ResponderExcluirBelo poema, Brunno!
Passa lá!