Tudo continuou como um sonho no breve período eterno que
fiquei no Maranhão. A festa de lançamento da antologia “Mil Poemas para
Gonçalves Dias”, no dia 10 de agosto deste ano, data na qual o poeta faria 190
anos, em São Luís /MA,
me reservou novas emoções e surpresas. Vi pessoas de várias idades, de vários
Estados, de vários países, um mundo mestiço como Gonçalves Dias, declamando e
homenageando o poeta romântico maranhense. A “Canção do exílio” ecoava durante
a festividade, ora como samba enredo, ora declamado por todos, como uma oração
milagrosa; Gonçalves Dias devia estar sorrindo no céu dos poetas, observando
tudo aquilo.
O único acontecimento que deve ter feito o poeta fazer uma
careta, no exílio lírico-celeste em que se encontra, foi a palestra do
Professor Weberson Grizoste, do Centro de Estudo da Universidade de Coimbra,
quando este fodástico estudioso das obras gonçalvinas nos revelou que a visão
popular de eterno herói romântico, vitimizado pela impossibilidade de juntar-se
à amada, imagem dada a Gonçalves Dias não condizia completamente com os feitos
do poeta maranhense. Como todo ser humano, Gonçalves Dias teve seus momentos de
anti-herói: se sofreu com a perda de sua amada Ana Amélia, dores maiores e mais
intensas o poeta provocou em sua esposa Olímpia, conforme revelavam suas
cartas. Olímpia, mulher apaixonada com quem Gonçalves Dias casou por
conveniência, sofreu com o desprezo e a infidelidade de Gonçalves Dias. “Deveríamos
sim render homenagens e reverências a essa grande mulher chamada Olimpia.
Graças a ela, temos as obras completas de Gonçalves Dias. Está na hora de
desfazermos a injustiça histórica dada à importância de Olímpia na vida de
Gonçalves Dias.” Esse comentário de Weberson Grizoste ficou em minha mente,
como uma ordem, uma necessidade.
Fiquei imaginando Olimpia, apaixonada e
desesperada pelas longas e constantes ausências do esposo poeta... imaginei o
momento em que ela descobria que seu ausente marido morrera e que jamais
responderia suas cartas, suas súplicas, a constante ausência se tornando
permanente, irreversível.
Na viagem de São Luís para Caxias/MA, minha imaginação
sobressaltava, Olímpia gritava em minha mente e, assim, essa Olímpia imaginada,
sofrida, se tornou um novo eu lírico meu e gerou o poema que posto hoje,
escrito no ônibus onde fazíamos o percurso na direção da terra natal de
Gonçalves Dias. Inicialmente o intitulei “Olimpia”, mas, seguindo as sugestões
do poetamigo baiano e companheiro nessa viagem gonçalvina Marcelo Moreira,
mudei o nome do poema para “Oh Olimpia”. Logo que terminei o poema no ônibus,
entreguei-o para Weberson Grizoste, o pai criativo destes escritos. Tentei
cumprir o pedido que o professor fizera na noite anterior: Olímpia agora é um
poema gonçalvino nosso, dando adeus ao esquecimento e buscando beijos ausentes
na eternidade. Weberson não apenas leu o poema para si; declamou em voz alta
minha obra inédita no ônibus (o vídeo contido nesta postagem registra esse momento).
Espero que Olímpia, assim como Gonçalves Dias, esteja sorrindo lá de cima, no exílio-celeste dos poetas e das musas lembradas e
esquecidas.
Oh Olimpia
E agora teu silêncio é mais pleno...
Antes a mudez de outrora
que este sereno sem volta...
Sabia, sempre soube
que teus sabiás cantavam
por outras terras,
para outras palmeiras,
mas ainda havia penas de esperança
no ninho vazio
à espera do retorno do brilho
do teu sorriso traiçoeiro...
Antes flertar com teu desprezo
que beijar pra sempre este desespero permanente...
Conhecias o canto
de cada canto do Brasil,
mas nunca ouviste meu pedido mais sutil,
nem meu grito mais violento.
Foste maestro das almas enamoradas,
enquanto eu regia a tua ausência,
imperatriz de tua casa abandonada...
Mas antes a dor suprema que me provocavas
que este retorno interrompido,
este voltar sem chegada.
Quando morreste, amor,
levaste contigo a minha vida,
me amaldiçoaste com teu lindo fantasma.
Antes te esperava, Gonçalves Dias...
Hoje, hoje é pior que o nada!
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