Olá, caros leitores, bem vindos ao blog daqueles que guardam um sorriso solitário no canto dos lábios que versam sonhos coletivos. Bem vindos ao meu universo virtual poético, bem vindos ao mundo confuso e fictício ferido de imortal realidade. Bem vindos ao inóspito ambiente dos eus líricos em busca de identidade na multidão indiferente, bem vindos ao admirável verso novo.
Dia de estreia da teoricamente favorita Seleção Brasileira Masculina de Futebol na Copa do Mundo 2022, no Qatar, e um Brasil, ainda fragilizado pelo crescente de protestos violentos bancados e/ou estimulados por uma extrema direita ofendida com o resultado desfavorável a ela em uma eleição legítima e constantemente ultrajada por grupos radicais, amanhece nublado, com chuvas torrenciais (pelo menos, aqui, na região serrana do Estado do Rio de Janeiro).
Nesse momento, várias perguntas trazem um clima contraditório em nossa cabeça canarinha... Será que o clima reflete a atmosfera cinza do momento? Será que vestiremos a camisa amarela da Seleção, como tantos que bloqueiam estradas, ficam em frente a quartéis pedindo intervenção militar e rogando por um regime antidemocrático? Será que nossa Seleção vai fazer valer seu favoritismo, como Inglaterra, França e Espanha fizeram, ou vai ‘amarelar’ e tropeçar como Argentina e Alemanha? Vai tomar aperto, como a Bélgica, ou vai ser insossa, como Croácia e Dinamarca? E será que vamos torcer com energia para uma Seleção com tantos jogadores de patriotismo apático (as chamadas da Globo com os jogadores convocando a torcida, em sua maioria, é de uma artificialidade gritante), e/ou alienígenas aos anseios e necessidades populares e/ou apoiadores abertos do que tem sido mais retrógrado no Brasil? Será que, caso saia um gol, ficaremos tão encantados que abraçaremos outros que gritam gol-pe? Será que,, caso saia um gol, esses outros gritarão apenas gol ou acrescentarão no grito da palavra uma segunda sílaba “pe”? Vivemos um momento tão complicado que até torcer – e como torcer - pela Seleção Brasileira Masculina de Futebol virou uma decisão política. É, amigo leitor, vivemos tempos, há tempos, muito estranhos...
Toda essa complicação se refletiu em minha cabeça quando me deparei com um concurso cultural chamado Poesia Urbana, realizado pelo Centro Universitário de Brusque (Unifebe), cujo tema, neste conturbado 2022, foi Copa do Mundo. Confesso que tive certa dificuldade para encarar o tema, mas acabei, como sempre de última hora, construindo um poema para disputar um espaço no certame literário. Como vocês lerão, minha obra poética ficou em cima do muro – como esta postagem, meu filho-poema traz mais interrogações que segurança e certeza. Mas, pelo menos o poema, teve um final relativamente feliz – não ficou entre os primeiros colocados, mas foi um dos selecionados para publicação em e-book no Concurso Cultural Poesia Urbana - Edição 2022 Copa do Mundo, da Unifebe, no Brusque/SC (O link com os selecionados é: https://www.unifebe.edu.br/.../comunicado-proppex402022.pdf ). . É minha segunda classificação consecutiva para publicação em e-book neste certame cultural (ano passado, quando o tema era “Gostinho de casa”. classifiquei com o poema “Saboroso resgate” , que pode ser lido aqui no blog, no seguinte link: https://diariosdesolidao.blogspot.com/2022/07/poema-literalmente-moda-da-casa.html ).
Agora posto o poema premiado deste ano, “CarnaQatar”, para a fruição dos amigos leitores, enquanto o e-book não sai (e a Seleção não inicia sua contraditória escalada rumo ao hexacampeonato mundial).
CarnaQatar
2022, 22.ª Copa do Mundo, 22 jogadores,
bola bolada por globos oculares supersticiosos zagallares,
Hoje recordo-me das vésperas do dia 30/10/2022, o dia da eleição, quando Lula foi eleito presidente, por uma margem apertada, em uma das votações mais importantes e, ao mesmo tempo, mais acirradas da História do Brasil. Às vésperas da eleição, quando me deslocava para Valença/RJ, onde fica a seção eleitoral na qual eu voto, sentia toda a tensão entre a frente ampla a favor da democracia, liderada por Lula, e a extrema direita, representada pelo clã Bolsonaro, com toda a máquina administrativa a seu favor e a todo vapor. O clima era de guerra fria e psicológica, principalmente do lado a favor de Bolsonaro, como se seus eleitores, a maioria já com tendências violentas e antidemocráticas, aguardassem o comando para acionarem suas metafóricas bombas atômicas (se ganhassem, explodiriam os que votaram contra com atos-bombas de ordem de submissão da expressiva minoria pra forjada e fardada maioria. Se perdessem, como se viu logo após a divulgação do resultado contrário aos seus delirantes anseios, tentariam o caos, pedidos de intervenção e devastação, para que suas contades fossem impostas). Diante desse ambiente nada hospitaleiro, lembrei-me de um poema escrito há muito tempo (se não me engano, nos fins de 1997, quando havia candidatos à presidência pregando a favor da bomba atômica, chegando a construírem um eleitorado até expressivo, mais uma prova de que a violenta extrema direita sempre teve lugar cativo no coração de alguns brasileiros), mas só publicado em livro muito tempo depois em meu quinto livro “Eu & Outras Províncias – Progressos e Regressos” (2008): o poema “Promessas desfeitas V (de vida)”. Acabei declamando-o no caminho durante a longa baldeação de ônibus pra ônibus que costumo fazer para chegar a Valença/RJ (o vídeo pode ser visto nas minhas redes sociais e, agora, logo abaixo, nesta postagem). Sinceramente, queria que este poema fosse passageiro, ao invés de, após tanto tempo decorrido, ainda ser insolitamente atual.
Passados 20 dias do resultado das eleições, com um grupo expressivo, mesmo que reduzido, de defensores de ações antidemocráticas, como intervenção militar, o clima que deveria ser de pacificação, mantém uma moderada e incômoda tensão. E a vida? O tempo, o mercado e a esnobada falta de ar continuam a torná-la uma promessa não cumprida, um sonho distante. Cada vez mais vilipendiada pela insanidade, pelo alarmismo e pelo imediatismo equivocado, a vida segue morta-viva, quase sem tempo, condições e ar para respirar, ação básica para um momento de pertencimento a este mundo, de reciprocidade com o outro oposto, de fraternidade e de consequente (mesmo que efêmera, mas, ainda essa, inacessível) verdadeira paz.
Hoje deixo-lhes o poema “Promessas desfeitas V (de vida)” e o seu profético vídeo, quando o declamei no meio de caminho, cheio de pedras e retinas fatigadas. Boa leitura e Arte, ainda que moralmente e imortalmente ferida, Sempre!
Em tempo: hoje,, dia 19/11, às 22:30 (horário do Panamá) / amanhã, 20/11, às 0:30 (horário de Brasília) estarei relembrando deste e de outros tantos poemas de meu quinto livro “Eu & Outras Províncias – Progressos e Regressos” (2008) em bate-papo virtual com a musa divartistativista Jammy Said da Feira Virtual do Livro do Panamá. A live poderá ser vista ao vivo ou assistida depois na página do facebook da Feira – segue o link: https://www.facebook.com/FeriaVirtualDelLibroPanama .
Promessas desfeitas V (de vida)
O que restou das promessas desfeitas?
Um pedido mudo de desculpas,
um remendo irremediável de nossa incapacidade.
Nosso amor, nosso empregado, nosso povo:
nossa dor, nosso desemprego, nossas diferenças.
Repetindo erros, tornando-os filhos de nossa nação,
namorando a omissão e o esquecimento,
conjugando verbos de traição:
eu prometo, tu prometes, ele promete,
nós esquecemos, vós nem ligais, eles que se danem!
Desde o período de isolamento social durante a pandemia de Covid-19 e depois de ter recebido as informações em um compartilhamento da antenada divartistavistamiga Ana Vaz, passei a dar atenção a um importantíssimo evento chamado Semana Fluminense do Patrimônio, a ponto de, diante de maravilhosas palestras, rodas de conversa, exibições artísticas, etc., tornar-me fã de um evento organizado para destacar nossos patrimônios materiais e imateriais, elementos presentes e primordiais em nossas vidas, sendo, infelizmente, diversas vezes, ignorado por todos nós. Acompanhando toda programação e etapas do projeto pelo site do evento, constatei que, entre as diversas atrações, os organizadores da Semana Fluminense do Patrimônio realizam, antes do evento, uma Mostra de fotografia e de poesia com temas voltados ao patrimônio, chamada “Mostra Olhares sobre o Patrimônio Fluminense”. Diante do conhecimento e análise do regulamento do evento, me vi inspirado a escrever e inscrever poemas meus para esta importante promoção cultural, além de estimular os talentosos artistalunos da Escola Municipal Alcino Francisco da Silva, dea região rural de Teresópolis/RJ, onde leciono Redação, a produzirem, com sucesso e primor, poemas voltados aos diversos temas lançados a cada Mostra. Começamos remotamente em 2020 e, agora, em 2022, chegamos à nossa terceira participação (neste ano, a já multipremiada e talentosíssima artistaluna Jamili Damião brilhou muito na Mostra deste ano, sendo confirmada sua dupla vitória - primeiríssima no Voto Popular e no Prêmio do Júri - a divulgação foi agora há pouco, hoje, às 15:25 h, no último dia da Semana Fluminense do Patrimônio atual, como, tradicionalmente, ocorre em todas edições – quem quiser assistir o que rolou nesta e nas Semanas Fluminenses do Patrimônio passadas, segue o link:http://www.patrimoniofluminense.rj.gov.br/ ).
Hoje compartilho os poemas e participações minhas e dos talentosos e premiados artistalunos da Escola Municipal Alcino Francisco da Silva, de 2020 a 2022, para que você, amigo leitor, possa curtir e cultivar um olhar lírico e apaixonado como o nosso pelo nosso rico e até então vilipendiado patrimônio fluminense. Fica também como uma oferenda lírica por todo seu apoio e torcida nesta longa e linda trajetória pedagógica-literária. Em tempo: hoje também foi lançado o e-book com os poemas e fotografias premiados desde a primeira edição da Mostra Olhares - segue o link para baixarem: http://www.patrimoniofluminense.rj.gov.br/wp-content/uploads/2019/06/livro_SFP_5_compressed-compactado.pdf
Obrigado por tudo; seja qual for a proximidade ou distância, ninguém solta a mão de ninguém; estamos juntos! Boa leitura. Educação, Patrimônio e Arte Sempre!
Momentos passageiros de amor e de esperança
Toda noite, quando me deito,
Me vêm à mente lembranças
De momentos passageiros
De amor e de esperança.
Infelizmente
Tudo mudou de repente
E tivemos que nos adaptar
A uma vida diferente.
Aproveite para criar laços
Com quem está próximo a você:
Quem sabe, um abraço
Pode surpreender?
Tenho fé que tudo vai passar.
É só uma questão de espera,
Só precisamos acreditar
Que o amor tudo supera.
Então ame seus pais,
Seus irmãos e seus avós,
Pois o mundo precisa mais
De pessoas como nós!
(Poema de Andresa Ferreira da Silva – na época, do 9.º A - , selecionado e premiado com 2.º Lugar [Voto Popular] e 2.º Lugar [Prêmio do Júri] no tema “Patrimônio afetivo: memórias de uma história vivida” [Infanto-juvenil] na Mostra Olhares da Semana Fluminense do Patrimônio 2020)
Olhando pela janela em Morro Agudo, meu cantinho de cantos e louvores teresopolitanos
Olhando pela janela,
Vejo minha vida passar...
O que será que faço dela?
Devo deixá-la fracassar?
Como o soprar do vento.
Perdemos pessoas queridas;
Fica claro o aborrecimento
Pela aniquilação das vidas.
O vírus não é brincadeira,
Ele deixa sequelas e medo...
Talvez exista alguma maneira
De mudarmos esse enredo?
Hoje peço a Deus
Que proteja as almas a clamar.
Ele acalma meu coração,
Me fazendo descansar.
(Poema de Emily Correa da Silva – na época, do 9.º A -, selecionado e premiado 1.º Lugar [Voto Popular] e Menção Honrosa [Prêmio do Júri], no tema “Recortes da paisagem” [Infanto-juvenil] na Mostra Olhares da Semana Fluminense do Patrimônio 2020)
Do alto das árvores líricas da praça Emília Jannuzzi, a maritaca assiste e canta aos homens, durante a pandemia
Eis meus vizinhos, de canto apagado,
Os tais homens, seres desemplumados
Que ciscam livres pela minha praça.
Ao longe vejo o vírus que os caça:
O predador, para eles, invisível,
Entre eles, vaga letal e impassível
E, por eles, se propaga invencível.
Animal estranho esse tal homem,
Espécie ensandecida e selvagem:
Contra o vírus, alguns se protegem,
Enquanto outros o infausto propelem.
Uns corretamente tapam seus bicos,
Enquanto outros exibem cantos cínicos.
Aviso aos tolos: “Protejam seus bandos!”
Mas, do meu canto, vivem reclamando.
Têm olhos insanos, incendiários,
Queimam as matas, seus próprios erários,
Tratam-me qual carcará gavião
E, ainda assim, lhes tenho compaixão;
Faltam-lhes asas, amor, união
E sábio senso de preservação.
Brado-lhes orações contra a ruína,
Mas, surdos, seguem destrutiva sina.
Mortíferos mortais sem disciplina,
Pra arrogância deles, não há vacina.
Bando ingrato às belezas da vida,
Minha clemência não lhes é sentida,
Não lhes bastam doenças em surdina,
A humanidade se auto assassina.
Mas, como pássaro poeta e amigo,
Mesmo difamado como inimigo,
Faço arte contra a pandemia insana,
Insisto em salvar a espécie humana.
(Poema de minha autoria [ou seja, de Carlos Brunno Silva Barbosa], selecionado e premiado com 2.º lugar pelo júri técnico e 2.º lugar pelo voto popular no tema “Recortes da Paisagem”, categoria adulto na Mostra Olhares da Semana Fluminense do Patrimônio 2020)
Da janela do meu quarto no Alto de Ponte Nova
Da janela do meu quarto no Alto de Ponte Nova, vejo a vida passando.
Vai verão, inverno, outono e primavera.
Vai a vida tão singela.
Da janela do meu quarto no Alto da Ponte Nova, vejo um morro e muitas árvores.
Vejo uma paisagem que inspira, um patrimônio nacional e natural.
Vejo as nuvens no céu, indo com o vento e com tempo.
Da janela do meu quarto no Alto da Ponte Nova, eu me despeço desse poema.
Com um adeus da pequena janela, eu vejo a vida tão singela.
( Poema de Ana Carolina de Souza Torres Nunes, na época no 8.º C – atualmente no 9.º C -, selecionado e Classificado em 1.º Lugar – Prêmio do Público/Votação Popular - no Tema “A paisagem que inspira” [Infanto-juvenil] na Mostra Olhares da Semana Fluminense do Patrimônio 2021)
Da janela da minha casa, vejo o Paraíso
Da janela da minha casa
só vejo mato,
do verde reluzente ao fosco solitário.
Daqui avisto as colinas mais belas,
as aves que cantam em todo entardecer
ninguém sabe o quê.
Da janela da minha casa,
vejo um pingado de casas,
das mais caras às mais simples.
Daqui consigo ver um vizinho e um amigo,
o vizinho do potinho
e o amigo da piada.
Da janela da minha casa,
vejo crianças, aquelas que brincam até o entardecer,
sorriem pra tudo,
comem fruto do pé,
tomam banho de chuva e sempre, sempre, sempre
estão felizes,
não importa se o dia está ensolarado ou nublado.
Da janela de minha casa
de minha Paris fluminense, da Aparecida de Sapucaia,
vejo uma imagem sacra,
nuvens em forma de cruz, amém!
Daqui, e só daqui, eu vejo o paraíso.
(Poema de Maria Eduarda Rocha Passoni – na época, no 8.º C - Poema selecionado e Classificado em 1.º Lugar – Prêmio do Júri - no Tema “A paisagem que inspira” [Infanto-juvenil] na Mostra Olhares da Semana Fluminense do Patrimônio 2021)
Poesia da Janela (Encantos permanentes e provisórios de Soledade 2 em 2 estrofes)
Todo dia passava aqui
um passarinho para cantar,
enquanto agora eu só fico da janela
esperando ele passar.
Quando eu abro minha janela,
nada mudou, nada passou,
mas eu sei que, algum dia,
tudo mudará, tudo passará,
pois Deus está cuidando de tudo
e não há nada a se preocupar.
(Poema de Emelly Pimentel Charles Branco – na época, do 8.º B, atual 9.º B -, selecionado e classificado em 2.º Lugar – Prêmio do Júri - no Tema “A paisagem que inspira” [Infanto-juvenil] na Mostra Olhares da Semana Fluminense do Patrimônio 2021)
Paisagem da Janela em Água Quente
Olhando pela janela paralela,
há uma paisagem bela.
Vejo o pôr do sol
que espera de mim
um olhar sincero de agradecimento.
Sorridente, reparo cada detalhe desse quadro
e agradeço pela paisagem linda
que todos os dias posso apreciar.
(Poema de Jamili Damião de Oliveira Vaz – na época, do 8.º C, atual 9.º C -, selecionado e Classificado em 3.º Lugar – Prêmio do Júri - no Tema “A paisagem que inspira” [Infanto-juvenil] na Mostra Olhares da Semana Fluminense do Patrimônio 2021)
A paisagem da minha janela com a vista para Soledade 2
Todos os dias quando eu me levanto e abro minha janela,
eu me deparo com uma linda paisagem.
Olho para o horizonte
e vejo lindas montanhas.
Olho para o bairro que fica um pouco abaixo da minha casa
e vejo um lindo mar branco de serração,
sem contar o lindo nascer e pôr do sol...
Me inspiro cada vez mais com essa linda vista e com os cantos dos pássaros.
(Poema de Sara Flores Souza – na época, do 8.º C, atual 9.º C -, selecionado no Tema “A paisagem que inspira” [Infanto-juvenil] na Mostra Olhares da Semana Fluminense do Patrimônio 2021)
Teresópolis 130 anos
Teresópolis, cidade maravilhosa!
Na Arabotânica, a flor mais cheirosa.
Dedo de Deus, a proteção da natureza.
Tudo tem sua beleza.
No SESC, muita diversão.
Fazendo de tudo por um sorriso de cada cidadão.
E o trem da alegria então...
Todos amam a Feirinha do Alto.
Uma família feliz em um carro no asfalto.
Amo seus pontos turísticos.
Tantos lugares magníficos,
Tanto patrimônio que resiste,
Tanto encanto que persiste.
Parabéns Teresópolis!
(Poema de Gabrielle Gonçalves Ribeiro –, na época, do 8.º C, atual 9.º C -, selecionado e Classificado em 2.º Lugar – Prêmio do Júri - no Tema “O patrimônio que resiste” ]Infanto-juvenil] na Mostra Olhares da Semana Fluminense do Patrimônio 2021)
No mirante da poesia, olhando a paisagem de toda manhã fria em Volta do Pião (Elegia Teresopolitana de Resistência e Fascínio para Garcia Lorca)
Frio que te quero quente...
Desde a primeira vez
que descobri a manha dolente
na visão das manhãs
de tua terra sempre presente,
desde a primeira vez
que eu te vi
deitado no invisível
do horizonte observado,
desde a primeira vez
deste novo sempre
que eu paro diante de ti,
paisagem nova
na imagem inalterável
do firmamento que deita
em meus olhos bem aventurados.
Frio que te quero quente...
É o orvalho que despeja
tempestades suaves
em minha boca seca
todas as manhãs,
é o vento diário que me beija
a face ainda cansada
pela disputa com a noite insone
em outro sonho passado
e não realizado,
é a tua boca que adoça
os meus lábios amargos
com os cantos febris
da natureza que faleceu em ti,
é a beleza de uma canção antiga
que permanece inédita
no rosto dos velhos morros
tão vivos em movimentos mortos
e brilhantes apesar da atmosfera opaca,
é essa paisagem preguiçosa
que agita de poesia os meus olhos,
é essa vista ferida
de imortalidade intacta
que te mantém vivo
em minhas fúnebres palavras.
Frio que te quero quente...
Um vento novo sacode
aquela velha árvore,
enquanto outra nuvem esconde
o sol que arde em volúpia
por trás da frígida paisagem.
É nesse universo de duelos serenos
que tua voz inaudível
acompanha o ar invisível
e me conta os segredos
dos cantos mais sublimes
compostos por violentos silêncios,
é nesse cemitério vivo
que descanso minha visão
todas as manhãs, vendo-te partir
tão pleno,
como brisa de lirismo que desliza
na superfície adormecida
de um furacão...
E meus olhos choram sorrisos
a cada despedida,
acordados pela tristeza rara
de te ver, mesmo distante,
tão belo e tão eterno
todas as manhãs.
Frio que te quero quente...
Todas as manhãs cinzas serão verdes de Garcia,
enquanto teceres em meus olhos os dias,
enquanto houver dia,
poesia,
a-
manhã!
(Poema de minha autoria [ou seja, de Carlos Brunno Silva Barbosa], selecionado e premiado com 1.º lugar pelo júri técnico no tema “A paisagem que inspira” [Adulto], na Mostra Olhares da Semana Fluminense do Patrimônio 2021)
Em harmonia
Da minha casa em Água Quente,
Eu vejo uma névoa e sua cor fria,
Vejo três montanhas escuras e distantes,
Vejo o começo e a chegada
- O começo de um dia e a chegada de uma luz
Dissipando todo o nevoeiro
Desta manhã fria de inverno.
Neste momento, o céu se divide em duas partes:
Na maior, um céu azul escuro estrelado;
Já na menor e mais distante,
Um céu alaranjado vindo das montanhas escuras,
E, quando essa separação se desfaz,
Tudo se junta criando uma sintonia.
Essa é a paisagem que vejo nesses dias;
Esse é o meu lugar, minha harmonia.
(Poema de Jamili Damião de Oliveira Vaz, do 9.º C -, selecionado e Classificado em 1.º Lugar – Prêmio de Voto Popular e do Júri - no Tema “Esse é o meu lugar” [Infanto-juvenil] na Mostra Olhares da Semana Fluminense do Patrimônio 2022)
Oração a São José das Palmeiras, Senhor da Praça arruinada
São José das Palmeiras
desta praça sem palmeiras
(desde jovem, aos meus olhos,
tais árvores eram licença poética
surrupiadas da Canção do Exílio
de Dias para o nome do nosso bairro,
para a sucessão de ausências passadas
e futuras em nossa outrora bela praça),
ah, Seu José, que carregais com carinho
o filho que não é vosso, o Filho de Deus,
e que continuais a abençoar esse lugar,
cheio de filhos não vossos, outros filhos de Deus,
como o menino que outrora brincava
no velho chafariz que vivia sem água
e que hoje não vive mais
- quebradas suas beiradas
num plano de reforma pública mal planejada,
resta apenas a torre central,
obelisco incidental do nosso nada.
Ah, São José desta praça
das palmeiras sem palmeiras,
das calçadas alquebradas
e da beleza maltratada,
rica em misérias provocadas
por governantes do aquém,
por administradores do desdém;
ah, Seu José, aquele menino morreu,
caiu como as placas do monumento
que agora desfila parado
como rei nu no meio da praça;
aquele menino, Senhor José,
apagou-se como aquele poema
outrora gravado numa pedra da praça
(quem lembra? Passaram-lhe a tinta
e mataram mais uma poesia;
hoje só mais uma lápide encardida
no patrimônio assassinado).
Ah, São José desta praça sem palmeiras,
não perdoeis os mutiladores,
pois eles sabem o que fazem e desfazem;
perdoai a lágrima ácida de raiva
que ameaça ser derramada
toda vez que nossos olhos antigos
revitalizam a antiga praça;
perdoai e transformai em riso frouxo
diante da meninada,
que, alheia a passados e mágoas,
ainda brinca na praça arruinada.
(Poema de minha autoria [ou seja, de Carlos Brunno Silva Barbosa], selecionado no tema “Vestígios de memórias” [Adulto], na Mostra Olhares da Semana Fluminense do Patrimônio 2022)
2 de novembro de 2022, Dia dos Finados, 3 dias após a divulgação do resultado da acirrada eleição presidencial de 2022. O clima, meio chuvoso e bastante melancólico, como costuma sempre ser neste dia de luto, elegia e filosófica consternação, na atualidade turbulenta, ganha múltiplos significados: por mais que tentemos dizer que a democracia vai bem, apesar de respirar por frágeis aparelhos, parece que sempre estamos de prontidão para sua extrema unção, parece que finados e democracia são atualmente palavras relacionadas. E a chuva desse dia, que relembra os mortos de nosso dia a dia e rememora a necessidade de uma passagem sustentável pelo luto até a difícil aceitação, molha levemente os ombros dos eleitores do candidato vencedor como se lavasse as escadarias sujas de uma igreja ou templo, como se banhasse com tímida esperança todo peso carregado durante muito tempo até a difícil e muito aguardada vitória, mas também encharca as capas e corpos dos eleitores do candidato perdido perdedor que bloqueiam estradas, saídas e entradas de um novo despertar – nestes eleitores, sonhadores de antigos pesadelos confundidos com utopias inexistentes, as gotas são pesadas; mesmo suaves, parecem furiosas, ameaçadoras, como ovelhas que rosnam como lobos quando acuadas, quando se sentem intransitivamente desesperadas. Neste 2 de novembro de 2022, neste Dia de Finados, há muito mais que pessoas mortas, há ainda vida em transe, há purgatório, sentimentos mal resolvidos, futuros trafegando entre céus e abismos, permanecendo neste entre, nem elevado, nem caído, apenas uma incógnita indecifrável porque as pessoas-problemas da equação não se unem para resolver a questão, como se cabo de guerra pudesse substituir as operações básicas racionais da civilidade, reflexão, autorreflexão (sim, seja de qual lado estiver, a fissura e a questão deve ser contemplada e autocontemplada por todos), adição, subtração, multiplicação, divisão, comprovação, constatação, união e entendimento.
Há anos, nós, brasileiros, estamos dando murro em ponta de faca, nos dividindo não como múltiplos seres pensantes com pontos de vistas opostos e a postos para o debate, mas feito facções fanáticas de torcidas furiosas com armas (visíveis ou ocultas) em punho, empenhadas em armar brigas (mesmo se me disseres ser da paz, sabe que alguma provocaçãozinha você não resistiu e praticou, despertando gatilhos de armas, que, às vezes, por arrogância disfarçada de altivez, você nem observou. E o outro, estouradaço, nem sabe como tudo começou. E todos juntos, sem pensar, pescados pelos ganchos do matadouro da inconsciência virulenta coletiva que vai completando mais de 9 anos de eficiente devastação programada). E todo 2 de novembro, como o de 2022, há mais de 9 anos, tenta trazer chuva ou sol para lavar ou secar o sangue que perdemos a cada novo murro na ponta da faca (mudamos a forma e a posição de socar, mas, se continuamos acertando a lâmina, vamos continuar a sangrar). Há mais de 9 anos, nós sangramos, sangramos e continuamos a sangrar, e não tem operação, curativo, remédio ou milagre que estanque uma ferida tão constantemente aberta. E não tem finado que descanse em paz se finado nunca está, se mantemos a obsessão, se não resolvemos os casos. Temos que parar de esmurrar a faca.
Sabe, eu tenho me sentido esgotado. Mesmo quando não faço nada, nada, me sinto cada vez mais esgotado. Essa sensação de lutos mal resolvidos, mal enlutados, essa percepção de constante estado de confronto, essa sensação de andar sempre numa multidão bipartida, tem sido difícil suportar o falecimento de uma antiga poesia inventada que caminhava entre nós, brasileiros, e que, agora, vive exilada em algum lugar bem distante de nosso país. Dias de finados sempre tiveram pesos sutis como lágrimas gentis, mas, de alguns anos pra cá, parecem estar com cargas extras, como se velassem um morto-vivo, uma agonia que não para nem pra se cansar de vez, nem pra definitivamente descansar. Mas, mesmo esgotado, ainda espero (e, por meus parcos líricos meios, tento provocar), ainda anseio, todo ano, rever o 2 de novembro como ele outrora foi e como deveria ser: o Dia dos finados, o Dia das Elegias mais Lindas. Mas ainda não foi em 2022, ainda não foi desta vez – como nos anos anteriores, 2 de novembro, infelizmente, foi o Dia dos finados que não finaram, dos mortos-vivos que agonizam por um mundo melhor, o dia da Agonia Temporariamente Infinita mais Esquisita. Sei que 2 de novembro de 2022 tentou, mas nós, brasileiros, precisamos colaborar, pois ainda não foi desta vez. Espero que, em 2 de novembro de 2023, essa agonia temporariamente infinita passe e que o dia volte a me inspirar e tocar como a canção “Elegia”, de New Order, ou a “Canção pra você viver mais”, de Pato Fu, e não como os 9 círculos do inferno de Dante.
Quem sabe, amanhã, nós, brasileiros, após termos estragado mais um Dia de finados, finalmente, não tomamos orgulho de toda nossa cara (porque vergonha na cara já virou face de tanto que a postamos na nossa selfie), velamos respeitosamente nossos mortos, pedimos perdão aos nossos fantasmas e voltamos a amar nossos próximos como se não houvesse amanhã?
E, para não deixar a postagem sem um poema, trago um poemeto fragmentado, “Este se”, de minha autoria, publicado em meu nono livro “O nada temperado com orégano” (2015). Esse poema deveria ter sido publicado no meu quarto livro “O último adeus (ou O primeiro pra sempre)“ (2004), tanto que aborda a temática de saudade, explorada em minha quarta obra. O poema, escrito após o falecimento de meu tio Darlei, o qual eu visitava frequentemente na UTI, juntamente com meu tio João Gomes, sempre teve um caráter meio incompleto [a incompletude vem com certeza da partida brusca de meu tio e a sensação de culpa por não tê-lo visitado mais uma vez antes de sua partida – o tio João sempre me chamava, mas no convite mais recente, estava muito cansado do trabalho e acabei deixando minha terceira visita para um depois que não haveria] e acabou ficando meio deslocado nas divisões de capítulos de meu quarto livro, culminando em sua retirada e sendo publicado muito tempo depois. Como vivemos uma Era de Se no Brasil, acho que o poema se encaixa com a crônica postada e com o nosso contexto.
Há quatro dias foi o Dia do Poeta e a postagem não vinha - trabalho na escola, trabalho na arte, fúrias e frenesis no dia a dia faltando pouco pra emblemática eleição, mil e um compromissos e desculpas pra adiar a postagem que não acontece.
Um dia antes do Dia do Poeta, recebi a primeira mensagem de Juliana me informando de uma nova edição da Roda de Leitura Além da Palavra, o tema era democracia, essa musa hoje em dia diariamente espancada; lembrei de Pedro Lage, Mestre Poeta que outrora e sempre nos guia além da palavra.
Na primeira vez que participei da roda de leitura, a convite de Cristiano Mota, Paulo ainda estava entre e em nós, depois o hiato, agora ele em nós, mas distante dos olhos comuns, assistido apenas no tempo quando pelo coração lírico (como dizia Augusto Frederico Schmidt, em “A ausente”, “Só no coração sempre ferido do poeta / É que não vão depressa os que se vão.”). Depois veio uma nova edição da roda de leitura, uma homenagem a Pedro Lage, uma elegia épica coletiva lírica cheia de vida, na qual, mesmo ternamente convidado novamente por Cristiano, naquela enlutada vez, não sei por quê não fui (sempre as pre-ocupações, as mesmas desculpas e as dores inexplicáveis na alma).
Em uma edição do Sarau Florescer Nit, de Niterói, em junho, no Solar do Jambeiro, convidado pela musa divartistativista Jammy Said, declamei um poema dele, “Abismo”, que me toca bastante, recitei como se me desculpasse por minhas ausências em homenagens anteriores e não me perdoo por, num golpe de vista, tropeçar e alterar um verso (mais culpas sem crimes previstos, mais agonias inexplicáveis infinitas).
Muito tempo depois, no Festival de Inverno do Sesc, outro sarau, que tomei conhecimento pela bibliotecária artistamiga Ana Cristina, em um julho festivo tristemente maravilhoso, eternizando Pedro Lage mais uma vez, com a presença ilustre do mago marginal Chacal, assisti ao recital, mas não ousei declamar; sempre ativo em tantos evento, ali passivo, mero tímido espectador não sei por quê (cansaço do corre-corre, do de-lá-pra-cá de eventos, um monte de desculpas pra tentar entender o que não se há pra entender, mais o inconsolável no ponto insistindo em me prender e me apreender).
No ínterim desses tempos passados caoticamente lembrados por mim neste momento (o passado sus-surrando com o presente, fazendo a esquizofrenia sorrir em minha narrativa), um pouco logo após a notícia da ida sem volta de Pedro Lage para o adeus sem despedidas e depois que faltei à primeira homenagem a ele, fiz uma crônica que, durante um tempo, só mostrei ao mestre artistamigo Cristiano, pensei em entregar a Juliana, a outro alguém leitor/leitora na noite do sarau do Sesc, mas não entreguei (sempre que volto naquele evento na Biblioteca do Sesc, me olho atônito: “Vai, Carlos, larga essa postura tímida inexplicável indefinida”, mas nada digo, por mais que retorne, por melhor que seja o idílio máquina do tempo inventora de novos passados, eu nada digo além de parabéns a todos os participantes e envolvidos).
Nesse meio tempo, acabei mandando a crônica para outros ilustres alguéns leitores/leitoras, para um concurso, no qual ela foi finalista (CATEGORIA CRÕNICA, MODALIDADE PÚBLICO EM GERAL, no VII CONCURSO LITERÁRIO PROMOVIDO PELA ACADEMIA LEOPOLDINENSE DE LETRAS E ARTES, em Leopoldina/MG, em setembro de 2022).
E, voltando ao tempo passado recente, no dia 19 de outubro, fui novamente convidado para um Sarau Além da Palavra, desta vez pela primeira vez por Juliana: eles retornariam em um sábado, dia 22 de outubro, simbolicamente, liricamente e realisticamente chuvoso, sim, mais um magnífico evento!... Só que, por razão de outro igualmente magnífico evento (do qual falarei em outra futura postagem com imprevista data), que eu já havia confirmado presença, não fui além, ao Além da Palavra (até tentei passar pelo evento no início, mas a chuva, somada ao meu relógio sempre voltado para os ponteiros em cismas e em cima das horas, não consegui realizar tal feito, restando-me apenas áudios-defeitos, em quixotesco desalento, implorando desculpas para Juliana e para Ana Cristina em mensagens privadas no whatsapp).
E assim, já passados o Dia do Poeta, o Sarau Além da Palavra, os dias e noites de democracia cada vez mais maltratada com a companhia de chuvas esporádicas, a postagem não vinha, por isso esse vazamento sem filtro de tempos e lembranças, numa caótica abertura para oferecer aos amigos (e)leitores a crônica citada, quase que igualmente ‘escritiliricaoticautomaticasentimentalmente’ concebida como esta introdução.
A Pedro Lage, in memoriam e ad infinitum
Em homenagem atrasada ao Dia do Poeta e a tudo que eu poderia ter publicado há muito tempo e que sempre deixo pra depois, segue a crônica “Um Paraíso especial para artistas”, de minha autoria, em homenagem especial ao Mestre Poeta Pedro Lage, que, como muitos, mas ainda poucos, nos levou, nos leva e sempre nos levará muito além das palavras.
Boa leitura e Arte Sempre!
Um Paraíso especial para artistas
Carlos Brunno Silva Barbosa
Creio, com todo meu coração, que existe um Paraíso especial para artistas. Nenhuma outra crença justificaria melhor toda devoção destes seres excepcionais que se preocupam em criar universos incríveis e, ao mesmo tempo, críveis para a humanidade. E precisamos rezar pela existência desse paraíso, precisamos manter a fé em um lugar melhor para esses seres aparentemente estranhos e extravagantes que se dedicam a nos trazer conforto (mesmo quando nos desconfortam) com outros mundos possíveis e impossíveis, tão próximos e, ao mesmo tempo, afastados, mas sempre melhores (ainda que pareçam e se façam piores) dos que nossas visões limitadas (em comparação às dos artistas) podem alcançar.
Apesar de numerosos, ainda são poucos os mortais que conseguem alcançar a imortalidade onírica, ainda que mortos. Desses numerosos poucos, estão artistas (assim mesmo, concretista abstrato, sem artigos definidores ou indefinidores, em coerência louca com a mística real indefinível e infindável do grupo citado). Acredito muito na crença advinda principalmente de religiões africanas e afro-brasileiras de que um indivíduo só morre realmente quando se é esquecido. E não podemos esquecer de artistas. Mesmo quando morrem, é necessário que façamos um altar de lembranças de suas obras pelo bem da memória humana, pelo bem de toda humanidade.
Tais crenças e reflexões me vêm em um fim de semana triste. Há pouco soube do falecimento de mais um grande poeta que eu conhecera há pouco e por tão pouco tempo. A notícia me veio atrasada por culpa unicamente minha – todos já sabiam e tentaram me informar, mas, às vezes, cometo o pecado de me dessocializar, me desligar do mundo e das notícias. E foi assim que o poeta carioca Pedro Lage, que, como Manuel Bandeira e Olegário Mariano, fixou residência em Teresópolis/RJ, morreu durante vários dias em silêncio pra mim. Houve enterro, depois saraus em homenagem a ele, in memoriam, houve muitos acontecimentos nos quais eu poderia ter comparecido, participado, mas não estive lá, contrariando as ações de minhas crenças citadas e cravando em mim mesmo o estigma do pecado do que poderia ter sido e não foi, da enchente de tudo que poderia ter feito e jamais fiz. E o tempo não volta para expiar tais pecados. E o presente não volta a quem vira passado. Pedro Lage, a pessoa, morreu e o ponto é triste e final. Mas Pedro Lage, artista, reside na imortalidade, não morre. É preciso manter como crença; é o que a culpa e eu - e todos que ousam me ler - precisamos para que a humanidade lírica e sonhada permaneça viva, invulnerável à falência total na falta de sentido da vida sentida sem sentido.
Graças a um grande artista amigo meu, o Cristiano Motta, conheci Pedro Lage em uma roda de leitura com o sugestivo nome “Além da palavra”. Foi na última edição deste evento na qual Pedro Lage ainda estava vivo que o conheci. Foi a primeira vez e também a última. O verso “A primeira vez é sempre a última chance” da letra de música “Teatro dos vampiros”, de Legião Urbana, composta por Renato Russo, me vem à mente agora, mais uma vez em mais uma vez em que alguém perde a vez, tão próximo e tão distante de mim. E lágrimas correm com a mesma infinidade de culpa e (in)consequente vergonha por demorar a me fazer saber e de lembrança de quantas inúmeras vezes esse verso premonitório de canção me avisou e se repetiu como um refrão em minha mente mais uma vez.
A roda de leitura “Além da palavra” era um projeto admirável e com objetivo evidente: os participantes traziam de volta não à vida, mas à eternidade diversos artistas das palavras; cada integrante da roda de leitura reservava um loteamento maravilhoso no devido espaço etéreo do sempre outros artistas ou a si mesmos ou ambos os casos. Fiquei encantado: as crenças nas quais eu acreditava estavam sendo postas em prática e o número de devotos crescia exponencialmente diante de mim. E vi, naquele dia, Pedro Lage crescer, gigante, ascender, enquanto declamava poemas seus e de outros outras outres poetas. Pedro Lage, nos poucos momentos em que estive com ele, me fez rever a eternidade, ainda mais bela e eterna do que antes a vira ou sonhara vê-la; o Paraíso especial para artistas nunca esteve tão elevado e tão próximo. E Pedro Lage, assim como voava enquanto declamava, voou além da palavra e da vida terrena, e, ao mesmo tempo, se mantém elevado e próximo nas palavras publicadas, lembrada, na devida residência no Paraíso especial para artistas, cujas casas de eternidade ele incansavelmente tanto ajudou a construir.
E é preciso crer na imortalidade de artista, é preciso jamais deixá-los no limbo do esquecer, é preciso solidificar a eternidade, e, por isso, eu leio, declamo, escrevo, continuo a escre(crer)ver. Sinto muito, Pedro Lage, por ter ameaçado esquecer as infindáveis lições de fé que, em tão breve e, ao mesmo tempo, infinitos momentos, você me passou em vida terrena e que, agora, me passa de sua eterna (e terna) imortal residência no Paraíso especial para artistas. Mantenho a fé e, apesar de ausente na sua ausência imediata, resgato a crença das possibilidades impossíveis de eternizar você.
Por Pedro Lage e por tantos artistas inúmeros poucos, o Paraíso especial para artistas existe, a imortalidade para artistas existe. E preciso manter essa fé, é preciso ler, divulgar, declamar, escrever, continuar a crer.
In memoriam e ad infinitum.
No vídeo abaixo, declamo atabalhoadamente o poema "Abismo", de Pedro Lage:
Depois de tanto tempo longe do blog, retorno com uma carta poética de minha autoria, finalista e premiada recentemente (no dia 06 de setembro) com o 2.º Lugar na Categoria Carta na Modalidade Professor no VII Concurso Literário promovido pela Academia Leopoldinense de Letras e Artes (ALLA).
O tema era pandemia e, sinceramente, além de exausto profissionalmente falando, eu já tinha escrito tantos poemas, crônicas e microcontos sobre o tema que pensava ter esgotado minha criatividade e inspiração para escrever algo mais variado sobre o assunto. Mas eis que, para inscrever os escritores-alunos dos sextos da Escola Municipal Alcino Francisco da Silva, para quem dei aula por uma semana, pois a professora deles, Flávia Araújo, havia contraído a Covid-19 e ficou temporariamente afastada (mesmo assim, em tempo recorde e urgente, combinamos on-line que eu faria uma oficina de produção textual com as turmas, seguindo o tema do concurso, cujo regulamento eu consultara anteriormente), resolvi trabalhar o gênero textual carta e estimular os alunos a escreverem sobre o tema. Inspiradíssimos, eles conseguiram emocionar este professor-redator-poeta-pateta-leitor-assíduo (para minha total surpresa, mesmo com toda experiência em corrigir redações, cheguei a chorar copiosamente com a carta de Ana Lara, do 6.º A – não à toa a carta dela conquistou o 1.ª Lugar na Modalidade Ensino Fundamental II; foi e continua marcante demais em minhas leituras prediletas). Diante de tais cartas profundamente cativantes, meu eu escritor ficou de sobreaviso e inspirado. Mesmo assim, até o momento de inscrever as cartas dos escritores-alunos que se destacaram, mesmo a inspiração gritando e um texto ainda inelegível gritando dentro de mim, a carta que minha mente e meu coração se propunham a escrever não vinha. Ao mesmo tempo (talvez por artimanhas do meu eu escritor, talvez por tanta coisa que a gente deixa sem dizer e que fica represada na gente), vinha-me à memória, episódios do período da pandemia e do ensino remoto; naquele período, o super-professor-poetatletamigo-premiado-e-muito-mais-poeta-que-eu Genaldo Lial havia perdido entes muito próximos e queridos, e, na época, à distância, o máximo que consegui fazer foi enviar a ele áudios longos e atrapalhados de pesar com frases confusas de tristeza e espanto diante das terríveis perdas dele. Naquele momento, eu, lutador experiente com a arte escrita e insistente domador das palavras, apanhei feio em minha tentativa de expressar minha consternação com as perdas de Genaldo super-professor-poetatletamigo-premiado-e-muito-mais-poeta-que-eu. E aquilo nunca saiu de minha mente, nem de meu coração; aquilo tudo que podia ter sido e não foi de Antônio Nobre e de Manuel Bandeira ecoando na minha cabeça e no meu peito até agulhar a alma.
Em cima da hora (sim, sou mestre em buscar vencer um leão por dia, deixando tudo pra em cima da hora), após inscrever todos os escritores-alunos que me propus a inscrever, todas as cartas deles e a lembrança das perdas e do episódio tragicamente atrapalhado de comunicação com o Genaldo vazaram numa escrita quase automática; as frases vieram transbordantes e, muito em cima da hora, quase sem revisão, enviei a carta abaixo postada.
É um registro sobre a pandemia, sobre os nossos tempos, sobre as nossas perdas, sobre ser professor nesse caos todo, sobre o que não se diz, mas precisa ser urgentemente dito, ainda que tardio.
É melancolicamente bom estar de volta com vocês, amigos leitores. Boa leitura e Arte Sempre!
Carta para meu amigo, professor e poeta, como e muito mais que eu
Carlos Brunno Silva Barbosa
Em algum lugar entre o que eu não disse e o que está tarde, mas precisa ser dito, 30 de junho de 2022
Querido amigo, professor e poeta, como e muito mais que eu,
Sabemos o quanto essa pandemia de Covid-19 atingiu nossa rotina...
Lembra a loucura e tensão que foi para podermos cumprir a contento as aulas remotas, sem termos tido, nem nós, nem a equipe diretiva, nem nossos alunos termos, ao menos, tempo, material, oportunidades e formações para nos prepararmos? Foi uma maratona terrível, mas nos viramos, fizemos o possível e o quase impossível, com as parcas ferramentas que tínhamos. Não foi satisfatório; hoje, com o retorno das aulas presenciais, percebemos melhor o quanto o período foi destrutivo para as sementes de educação que, incansavelmente, plantamos. A verdade é dura, mas inegável: foi uma vitória vã, válida apenas para comemorarmos nosso cada vez mais elástico jogo de cintura e nossa resiliência – palavra que você tanto adora e adota de forma sublime em todos os segmentos de sua vida. Mas a gente se recupera, sempre se recupera, e chegamos a recuperar até os que parecem irrecuperáveis – já é um lema que, apesar de insano, o colocamos como objetivo racional; meu amigo, você e eu, nós, professores, precisamos ser estudados ou definitivamente instalados em um manicômio chamado Sublime Esperança. É uma verdade dura, e, por tornarmos possível a impossível missão de irrigar nosso atual estado de marasmo educacional, com tensa leveza e quixotesco espírito guerreiro, merecemos ver a mesma realidade brutal com olhos de poeta. E tenho um orgulho e um prazer masoquista imensos de fazer isso ao seu lado, meu amigo, professor e poeta, sendo você, nesta linha, sendo muito mais poeta que eu, muito mais poeta que qualquer poeta que conheci ou li, muito mais poeta que qualquer um de nós, com o acréscimo de humildade legítima que só grandes artistas como você são capazes de apresentar.
Ontem eu estava relendo alguns poemas que você me mostrou após o retorno para as aulas presenciais. Os seus versos, sempre maravilhosos e com ritmos magníficos, não me eram novidade; como sempre, amei todos eles. Mas o que mais me marcou desta vez foram os títulos “O retorno”, “O retorno II”... Desde o retorno ao frágil novo – esquizofrênico - normal, diante de uma pandemia voraz que finge(m) que passa, mas não passa, poucos, como você, amigo, professor e poeta, mantêm rigorosamente todas as medidas preventivas – o uso de máscara, a aplicação constante de álcool gel nas mãos, a insistência no distanciamento, etc. -, enquanto a maioria, inclusive eu em vários momentos, tentam abraçar, com a tradicional ignorância, a ilusão de um abrandamento inexistente do poder de contaminação dessa terrível doença pós-moderna chamada Covid-19, que, vestida de musa da negação, segue a fazer impunemente novas e velhas vítimas. E, apesar da parvonice geral, altamente infecciosa nesses tempos, chegando a, muitas vezes, ser até mais contagiosa que a própria doença pandêmica, você, como poucos, permanece são. E ainda consegue retornar com poesia! Isso é o mais admirável quando releio seus poemas mais recentes. Confesso que qualquer lirismo, do mais nobre ao mais reles, me abandonara há um tempo (ou fui eu que a abandonei em perpétua quarentena e inanição, não sei bem quem abandonou quem). Mas, em você, a poesia pode até ter se silenciado por um tempo, mas nunca o abandonara. E constatar isso, em e graças a você, sempre me faz ter coceiras de inspiração em minha poética semicadavérica. É muito bom ler e reler você nesses tempos sombrios de trevas coloridas, meu amigo, professor e poeta.
A pandemia de Covid-19 nos feriu demais, amigo, professor e poeta, mas, não sei se por ser mais guerreiro e resiliente que eu, o terrível mal foi muito mais cruel e feroz com você: perdera muitos parentes, nesse período insalubre, por causa dessa doença assassina. Lembro-me de que, dada a distância e as normas de isolamento social, só pude lhe gaguejar pêsames vãos e sem rumo em áudios tremulantes para o privado de seu whatsapp. Sentindo-o de luto, logo você, tão saudável e cheio de vida, eu queria tanto abraçar a sua dor, tão forte até que fosse capaz de sufocá-la, retirá-la completamente de você, que não sabia nem como expressar essa sensação, nenhuma palavra de vida era capaz de confortar tamanho sofrimento. E você, bailarino hábil, dançou soberbamente com e sobre a dor. E, hoje, sorri, cheio de vida, ainda que os lábios às vezes murchem, mesmo com os ombros pesados, guerreiro pacífico resiliente, você caminha levemente, mesmo sobrecarregado pelo luto e pelo tempo e entre passantes insensíveis às milhares de perdas, insensíveis à falta de condições de vida, insensíveis a si mesmos. Mesmo perdido, nunca se perdeu, amigo, professor e poeta, e, assim, me ensinou, que, mesmo que dolorido, o coração jamais deve ficar insensível ao que foi perdido, mas também jamais perder-se do caminho da vida que nos restou. E é muito bom caminhar com você por essa difícil estrada, meu amigo, professor e poeta.
E é isso, e isso ainda é muito pouco para o tanto que o admiro, amigo, professor e poeta. E, mesmo sendo pouco, ainda cometi o delito de não ter conseguido expressá-lo em palavras até o momento em sua presença. Por tudo que eu poderia ter falado e não lhe falei, pelo tanto que o amo, admiro e lhe quero bem, por isso e por mais tanta coisa a ser dita e a se fazer, eis essa carta – que ela alcance os seus olhos, sua alma e coração, com infinita gratidão de ter você sempre ao meu lado, mesmo quando estamos distanciados, meu amigo, professor, poeta, meu irmão.