sábado, 19 de novembro de 2022

Sobre nossos progressos e regressos: Promessas desfeitas V (de vida)



Hoje recordo-me das vésperas do dia 30/10/2022, o dia da eleição, quando Lula foi eleito presidente, por uma margem apertada, em uma das votações mais importantes e, ao mesmo tempo, mais acirradas da História do Brasil. Às vésperas da eleição, quando me deslocava para Valença/RJ, onde fica a seção eleitoral na qual eu voto, sentia toda a tensão entre a frente ampla a favor da democracia, liderada por Lula, e a extrema direita, representada pelo clã Bolsonaro, com toda a máquina administrativa a seu favor e a todo vapor. O clima era de guerra fria e psicológica, principalmente do lado a favor de Bolsonaro, como se seus eleitores, a maioria já com tendências violentas e antidemocráticas, aguardassem o comando para acionarem suas metafóricas bombas atômicas (se ganhassem, explodiriam os que votaram contra com atos-bombas de ordem de submissão da expressiva minoria pra forjada e fardada maioria. Se perdessem, como se viu logo após a divulgação do resultado contrário aos seus delirantes anseios, tentariam o caos, pedidos de intervenção e devastação, para que suas contades fossem impostas). Diante desse ambiente nada hospitaleiro, lembrei-me de um poema escrito há muito tempo (se não me engano, nos fins de 1997, quando havia candidatos à presidência pregando a favor da bomba atômica, chegando a construírem um eleitorado até expressivo, mais uma prova de que a violenta extrema direita sempre teve lugar cativo no coração de alguns brasileiros), mas só publicado em livro muito tempo depois em meu quinto livro “Eu & Outras Províncias – Progressos e Regressos” (2008): o poema “Promessas desfeitas V (de vida)”. Acabei declamando-o no caminho durante a longa baldeação de ônibus pra ônibus que costumo fazer para chegar a Valença/RJ (o vídeo pode ser visto nas minhas redes sociais e, agora, logo abaixo, nesta postagem). Sinceramente, queria que este poema fosse passageiro, ao invés de, após tanto tempo decorrido, ainda ser insolitamente atual.

Passados 20 dias do resultado das eleições, com um grupo expressivo, mesmo que reduzido, de defensores de ações antidemocráticas, como intervenção militar, o clima que deveria ser de pacificação, mantém uma moderada e incômoda tensão. E a vida? O tempo, o mercado e a esnobada falta de ar continuam a torná-la uma promessa não cumprida, um sonho distante. Cada vez mais vilipendiada pela insanidade, pelo alarmismo e pelo imediatismo equivocado, a vida segue morta-viva, quase sem tempo, condições e ar para respirar, ação básica para um momento de pertencimento a este mundo, de reciprocidade com o outro oposto, de fraternidade e de consequente (mesmo que efêmera, mas, ainda essa, inacessível) verdadeira paz.
Hoje deixo-lhes o poema “Promessas desfeitas V (de vida)” e o seu profético vídeo, quando o declamei no meio de caminho, cheio de pedras e retinas fatigadas. Boa leitura e Arte, ainda que moralmente e imortalmente ferida, Sempre!

Em tempo: hoje,, dia 19/11, às 22:30 (horário do Panamá) / amanhã, 20/11, às 0:30 (horário de Brasília) estarei relembrando deste e de outros tantos poemas de meu quinto livro “Eu & Outras Províncias – Progressos e Regressos” (2008) em bate-papo virtual com a musa divartistativista Jammy Said da Feira Virtual do Livro do Panamá. A live poderá ser vista ao vivo ou assistida depois na página do facebook da Feira – segue o link:
https://www.facebook.com/FeriaVirtualDelLibroPanama .

Promessas desfeitas V (de vida)

O que restou das promessas desfeitas?
Um pedido mudo de desculpas,
um remendo irremediável de nossa incapacidade.
Nosso amor, nosso empregado, nosso povo:
nossa dor, nosso desemprego, nossas diferenças.
Repetindo erros, tornando-os filhos de nossa nação,
namorando a omissão e o esquecimento,
conjugando verbos de traição:
eu prometo, tu prometes, ele promete,
nós esquecemos, vós nem ligais, eles que se danem!
A realidade é uma mentira que deu certo.
As promessas se desfazem e estamos inteiros
vivendo, sobrevivendo as teorias
que praticamente nos partem.

- A vida é uma crença que nós corrompemos.

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