terça-feira, 7 de setembro de 2021

Conto de vergonha alheia solitária coletiva: Estocolmo (Ou Colmo Estamos)

Foto de manifestantes nos atos
democraticamente permitidos, 
mesmo que proclamando a
antidemocracia (alguns consideram
a foto fake, pois todos sabemos
que eles são contra o uso de máscaras
em aglomerações pandêmicas).
Faz um tempo que não venho ao blog (sim, vivemos tempos em que precisamos, o tempo todo, dar tempo para, de tempos em tempos, suportamos os eternos maus tempos diários), mas hoje, no Dia de nossa ‘Independência’, fulminado por manifestações psicopatas de cancelamento da já vilipendiada nação democrática (nem sei se ainda podemos nos considerar como civilizados ou como suspiros – daqueles agridoces bem toscos de boteco, quase totalmente ocos por dentro – de civilização) salve salve, não sei por quê (ironia detect), me inspirei e resolvi escrever um novo conto (fictício) da vergonha alheia (real e nada nobre) solitária coletiva:

Estocolmo (ou Colmo Estamos)

De tanto apanhar psicologicamente, a população escrava do Sítio Nova Decrepitolândia pegou simpatia pelas chibatadas invisíveis.
Seu senhor chicoteador de todos, o autoproclamado Dom Ito Varom, preguiçoso e abusivo, decidiu dar um Dia de Liberdade aos seus violentados:
“Hoje vocês têm independência para passearem comigo às Praias de Estocolmo e escolherem onde carregarem essas minhas trouxas farpadas e pesadas: no ombro esquerdo, no direito ou nos dois. Hoje comemoramos a liberdade, mas com responsabilidade: cada um precisa carregar meus fardos de fardas pesados, mas com direito de escolhas de onde pretendem melhor os músculos desgastar”.
Todos aplaudiram (havia um velho mandamento decrepitolandinense, das Abençoadas Escrituras da Tortura, que dizia: “Tudo posso naquele que sobre mim se impusesse”, e, por isso, toda população sabia que a formalidade era aplaudir toda vez que Dom Ito Varom terminasse de falar – por mais ininteligível que fosse, a palavra de seu senhor chicoteador é lei soberana).
E seguiram juntos com Dom Ito Varom às Praias de Estocolmo, contentes com a liberdade impossível, tão etérea que parecia fazer milagres nas costas das almas marcadas. Os fardos de fardas de seu senhor chicoteador, mesmo que podres, farpados e pesados, naquele fatidivínico dia, não fediam, não doíam, nem pesavam tanto assim...



2 comentários:

Meu filho-poema selecionado na Copa do Mundo das Contradições: CarnaQatar

Dia de estreia da teoricamente favorita Seleção Brasileira Masculina de Futebol na Copa do Mundo 2022, no Qatar, e um Brasil, ainda fragiliz...