Hoje foi mais um dia de luta contra os desgovernos
do (Des)Prefeito Arlei Rosa para o Movimento de Professores Pela Educação de
Teresópolis/RJ (MPET), para os demais servidores públicos e para o povo de
Teresópolis, todos (agora) apoiados pelo outrora arredio Sindicato dos
Servidores Público de Teresópolis (que muitas vezes foi – e nas declarações à
TV ainda é - omisso na afirmação da força popular do movimento de servidores
públicos que resiste e movimenta a cidade independente dele). E, depois de
muitas paralisações, meias paralisações e pressão popular constante nos ‘corruptosos’
vereadores da Câmara Municipal de Teresópolis, finalmente conseguimos uma
vitória mais consistente: as contas do atual desgoverno teresopolitano – já rejeitadas
pelo Tribunal de Contas da União – foram também reprovadas pelos vereadores
presentes na Sessão de hoje e, com isso, o (Des)Prefeito Arlei Rosa ficou
inelegível e pode ser afastado pelo Poder Judiciário.
Mesmo assim, como em outros momentos, mais uma vez,
houve torpes manobras políticas: na tentativa de esvaziarem a Câmara, os
vereadores Dr. Carlão, Habib, Luciano da Vargem Grande, Anginho e Dedê da Barra
faltaram a Sessão, mais uma vez aprovando a caótica má administração de Arlei
Rosa (8 pedidos de Comissão Processante contra o Prefeito – na busca de afastar
o omisso gestor e investigar as irregularidades que detonam com a administração
sadia da cidade – já foram rejeitados graças às manobras desses 5 vereadores e a Serginho
Pimentel).
Sempre que essas coisas acontecem, sempre me vêm à
cabeça diversas indagações: como um ser humano, eleito por seres humanos, pode
insensibilizar-se tanto e decepcionar os anseios populares a ponto de tornar-se
um politiqueiro desumano, vil e defensor de podres poderes? Como um ser desses
consegue dormir, viver em paz com sua consciência, diante de tantas covardias
com sua própria cidade, seu próprio abrigo? Não sei, honestamente não consigo
me pôr no lugar deles sem sentir-me apodrecer por dentro, mas, graças a um
convite de publicação da Revista Amnésia Teresópolis (deixo aqui o link da página
para os amigos leitores curtirem e conferirem as fodásticas matérias da revista
citada: https://www.facebook.com/pages/Revista-Amn%C3%A9sia/263883053674717?fref=ts)
e minhas lembranças de “O médico e o monstro - Dr. Jekyll e Mr. Hide”,
obra-prima de Robert Stevenson, tentei imaginar um conto-hipótese para esses
seres insanamente medíocres e desprovidos de ética e humanidade, chamados de “a
maioria dos políticos brasileiros”, que me provocam tanto asco. Foi assim que um
dia, numa das diversas rejeições de Comissões Processantes contra o
desgovernante Arlei, vendo meus companheiros fragilizados diante de tanta luta
em vão e de tanto desrespeito daqueles que nós mesmos elegemos, reparando nos
sorrisos sarcásticos dos vereadores Dr. Habib e Dr. Carlão, foi assim que surgiu
“O ilustríssimo caso de amnésia do Dr. Jekyll".
Aviso aos amigos leitores que, como reflexo dos torpes
vereadores inspiradores, o conto não é de boa ‘digestão’ para os olhos.
O ilustríssimo caso de amnésia do Dr. Jekyll
O velho homem entrou em sua
mansão luxuosamente decorada como um mendigo que encontra um bilhete premiado
da mega-sena. É aqui que eu moro? Desde quando? Terrível amnésia! Olhou cada
canto da mansão e em nenhum deles encontrou a resposta. O vaso grego, o tapete
persa, o sofá obscuro, todos os objetos pareciam falar uma língua que o velho
homem não sabia traduzir. Na cabeça, a memória insistia em horizontes
longínquos, uma vida mais simples e remota, lembranças mais próximas de sua
terra se conflitavam com a luxúria luxuosa de seu novo habitat. É aqui que eu
moro? Desde quando? A parede lhe sorria com tons amarelos, superficiais. A
tendência colorida de alguns objetos parecia se contrastar com seu terno cinza,
seus cabelos sem vida, sua vista embaçada, sua memória que continuava a falhar.
Ouviu
um som de TV vindo do quarto... Oh, não estou sozinho! Ah, alguém comigo,
alguém que talvez pudesse lhe explicar... Aproximou-se em passos lentos, não se
lembrava se possuía esposa, filhos, companheiros, visitantes... ou um invasor?
O coração batia arrastado, como se insistisse que o velho homem sempre fora
assaltado por uma terrível solidão. No quarto, deparou com uma TV gigante de
não se sabe quantas polegadas. Quando comprara aquela máquina monstruosa? Desde
quando curtia objetos insanamente colossais? Na cabeça, de novo, um planeta
distante, um mundo sem dúvidas e sem tevês, um campo vasto, cercado por crianças,
ele tão pequeno e tão bonito sorrindo para as árvores que cresciam sem nenhuma
semente de solidão. Acordou do transe onírico ao deparar-se com uma estranha
deitada na imensa cama do quarto, olhando hipnoticamente para a gigantesca TV
ligada. Não reparava a presença do velho homem? Seria uma zumbi? Era jovem, linda,
esbelta e extremamente pálida – seria um lindo cadáver que se esqueceu de
morrer? No intervalo do programa ao qual assistia, ela olhou pro velho homem,
estranhando a inércia dele diante dela:
- Tudo bem, querido? Aconteceu
alguma coisa? Tira esse terno, toma um banho, vem se deitar comigo, vai passar
um filme maravilhoso daqui a pouco no outro canal, vem ver... – ela o chamou de
“querido” e é tão nova para ele. Seria sua esposa? Uma esposa com ares de
filha...? Seria alguma espécie de legalizada pedofilia? O velho homem não sabia
e, mesmo não sabendo, se condenava... – Ah, vai lá, tira essa roupa, toma um
banho, depois tenho que te contar da TV nova que eu vi anunciar!
O velho homem fingiu obedecer
aos pedidos da garota e afastou-se do quarto. Mas não foi ao banheiro, tudo
aquilo parecia um pesadelo, um pesadelo rico, mas ainda pesadelo. Atormentado
pela amnésia e pelo inexplicável horror a tudo aquilo, preferiu sair da mansão,
tentar encontrar as respostas na rua. Foi preciso apenas atravessar um portão
blindado e pisar para o lado de fora para perceber o cenário assustador do
bairro onde a mansão se localizava: a estrada esburacada, as calçadas
destruídas, árvores cortadas, uma praça demolida numa obra abandonada - apenas
sua bela mansão resplandecia impassível naquele cenário caótico. No lado
externo recentemente pichado do muro da mansão, o velho homem finalmente
reconheceu seu nome no meio dos dizeres: “A sua hora vai chegar, Dr. Jekyll
safado, ladrão! Enganou o povo só pra ganhar a eleição!” Relia os dizeres,
quando ouviu um grito: “Ele saiu da toca, gente, vamos pegar o safado!” Viu a
multidão enfurecida que vinha em sua direção e correu de volta para dentro da
mansão.
O coração saltava, ouviu as
múltiplas batidas vãs no portão blindado, o velho homem se sentiu perigosamente
seguro e começou a se lembrar de quase tudo: a campanha gloriosa, os esquemas,
a sobrevivência amaldiçoada pela ambição de ter mais do que precisava. O velho
homem lembrou-se de quase tudo, mas algumas perguntas continuavam em sua cabeça
falha: como pôde ser tão cretino a ponto de entregar seu mundo para tantos
governantes corruptos e fantasmas? Como pôde ser tão cretino a ponto de aceitar
pertencer a um grupo tão odiado e babaca? Por falta de respostas, ameaçou se
atirar para fora da mansão e se entregar para a multidão enfurecida, mas o
velho homem também se lembrou da sua imensa covardia.
- Querido, telefone pra você! –
ouviu a jovem esposa chamá-lo e considerou hipocritamente que aquele era um
sinal de que aceitar aquele confortável exílio era a melhor decisão a se tomar.
Entrou
na sala e atendeu a ligação:
-
Mr. Hide, a porção já está na sua conta. Valeu pelo voto a nosso favor.
E
novamente Dr. Jekyll lembrou-se que trocara de nome e, mais uma vez, tomou uma
hipócrita conclusão: Dr. Jekyll era inocente; ele não tinha culpa pelos atos de
seu alter-ego Mr. Hide. Foi ao banheiro, lavou as mãos e o rosto e repetiu para
si mesmo: Este monstro no espelho não sou eu, este monstro no espelho é Mr.
Hide.
Carlos Brunno Silva Barbosa