Hoje tenho o prazer de compartilhar mais uma vez minhas solidões
poéticas com o “jovem velho rapaz”, o fodástico poetamigo Luiz Guilherme
Monteiro, um dos maiores poetas da “nova velha” geração de artistas de
Valença/RJ.
Fã de System of Down e, além de fodástico poeta, grande baixista, Luiz
Guilherme, como todo poeta de talento, é um artista de fases – lembrando um
pouco Álvaro de Campos, o heterônimo de Fernando Pessoa, na questão das
divisões de fases poéticas, o “jovem velho rapaz” valenciano iniciou sua
carreira poética com poemas furiosos, tempestuosos e extremos em sua primeira
fase; com o tempo e amadurecimento, concentrou essa fúria apaixonada numa
tempestade mais calma, com versos mais curtos e mais intimistas, cultivando uma
leve ironia ácida de estilo único (segunda fase – intermediária – da qual
publico o poema “Banhado em vinho”, de setembro do ano passado) até chegar ao
terceiro momento – menos tempestuoso, mais intimista, com um tom mais niilista,
porém sem perder a leve ironia ácida e a vibração poética da eterna
ressurreição ao voltar a escrever (a transferência da segunda para a terceira
fase foi gradativa e custou um tempo de purgatório ao artistamigo – ou seja, de
ócio criativo, sem escrever. Deste nova safra poética, trago “Fênix no poleiro”).
Para conhecerem melhor os poemas de Luiz Guilherme Monteiro, indico aqui o link
do blog do “velho jovem rapaz”: http://madrugadapoetica.blogspot.com.br/)
Deixemos os versos banhados em vinho, ressurgidos como “fênix no
poleiro”, cada vez mais maduros, consistentes e provocativos (outra
característica intensa em todas as fases da poética do “jovem velho rapaz” Luiz
Guilherme Monteiro) se derramarem na taça de nossos olhos, às vezes sensíveis,
quase enlouquecidos com nosso dia a dia, amigos leitores!
Banhado em Vinho
Eis o jovem rapaz
Que em sua cama rola pra conseguir dormir
Incerteza ou aflição?
Não se decidiu ainda
Talvez ele só tenha medo
Medo de dormir e sonhar
Medo de dormir
E não acordar mais
Eis o jovem rapaz
Fingindo que está tudo bem
Fingindo pra si mesmo
Mesmo sem saber mentir
E quando tira os pés do chão
Deixa apenas as lágrimas caírem
No chão em que teme cair
Por temer não desejar levantar
Eis o jovem rapaz
Com cabeça de ancião
Que alimenta os pombos na praça
Enquanto se esquece do que não se importa
Eis então o velho rapaz
Que mesmo com toda a carapaça que criou
Só queria tira-la às vezes
Para dormir tranqüilo
Mas a carapaça foi a única saída
Saída de emergência
Não pra sobreviver
Mas pra querer sobreviver ao menos
Então jovem rapaz ou não
Essa noite lhe amaldiçoa
Pois não será de descanso
Será apenas oportunidade de ver as lágrimas caírem
Já disseram que encher um copo de água com açúcar resolveria
Mas ele não vai enchê-lo d'água
Enganem a si mesmos vocês
Porque eu beberei do vinho
Não mais farei uso da carapaça
Menos ainda do pseudônimo
Já que sou apenas eu
O velho rapaz
Luiz Guilherme Monteiro
Fênix no poleiro
O horizonte não me comove mais
Não sei o que aconteceu
Não sei se é falta de paz
Ou se algo em mim morreu
Não é que eu não mais saiba
Eu só não sinto
Nem mesmo que fosse raiva
Ou vontade de um destilado tinto
Quem sou
Não mais sei
Nem pra onde vou
Mas sei por onde passei
Não escrevo mais por lamentação
Ou revolta que maior seja
Não escrevo pois meu coração
Foi parar numa bela bandeja
Ou talvez só tenha endurecido
Talvez tenha me tornado rabugento
Mas e se nada tivesse acontecido
Será que ainda haveria esse lamento?
Não sei se aceito ou abstenho
Atualmente não vejo diferença
De qualquer forma me contenho
Para cada dor uma sentença
E eu que queria me fazer de poucas palavras
Mesmo falhando fiz bons camaradas
Que me acompanham nessa tal jornada
Mesmo que não dê em nada
Talvez tenha enlouquecido
Mas espero que não
Com certeza não enfraquecido
Doutra forma não passaria do portão
Mas sem eufemismos agora
Senti muita falta de escrever
Minha chamada veia poética acorda
Porque poeta eu voltei a ser
Não sei se foi a necessidade
Que em meu peito arde
Ou ardeu
Como algo em mim que a algum tempo morreu
Mas receio ter renascido
Como fênix ou não
Ou talvez só andei adormecido
Talvez só sentisse falta do meu coração
Luiz Guilherme Monteiro
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