Rompemos as algemas, mas nos mantiveram as correntes |
Vivemos momentos introspectivos, fenômenos dos amigos que
partem apressadamente para os outros universos, fenômenos do marketing de
desfazer protestos e incentivar o umbigo que de nada reclama – apenas quer se
dar bem e ganhar os louros de batalhas que jamais promoveram -, fenômenos das
faltas de fenômenos, fenômenos do não fenomenal, dos bondes sem maravilhas, dos
trem balas da polícia refém dos patrões das injustiças e da mídia que elege
caras de acordo com as bundas ou com o tamanho do crédito do cartão que os
donos das caras prendem em suas bundas flácidas (ou com o sobrenome distinto de
porco barão, caso a mídia seja de um Local mais interiorano) e nós, amigo
leitor, nós vivemos, ou melhor, sobrevivemos, aturando tudo isso, reagindo no
vazio, pois o sonho de um mundo melhor está num limbo, num espaço oculto por
fazendas improdutivas e edifícios luxuosos sem arte alguma, em algum canto de
nossas históricas monoculturas, cujas mentiras são a única plantação; vivemos
no nada, lutando por um tudo que nunca chega, pois tudo foi declarado morto
desde que o lucro virou palavra favorita para os donos da Copa do Mundo, para
os promotores das Grades de Educação, Saúde, Cultura e Bem-Estar - se quisessem mesmo isso tudo que propõe, evitariam favorecimentos e destacariam a todos por igual -, para os donos
do todo imundo, para os inventores da alegria consumista, para todos que
reduzem as nossas vidas ao simples viver – nascer, trabalhar, comer, às vezes
pular uma folia e, depois, morrer pra novamente nascer, trabalhar, comer, às
vezes pular uma folia e assim sucessivamente, e só nos resta viver e escrever
(mesmo que ninguém nos leia; ninguém às vezes é a melhor companhia); meu corpo
está cansado da monotonia da rotina, da brincadeira quixotesca de tentar mudar
o imutável, mas ainda existem em mim as palavras, elas persistem e, mesmo que
eu desista, elas continuam. Por isso que o Sarau Solidões Coletivas entra em
recesso e não realiza mais eventos, sinceramente desapontado com a putaria de
quem poderia fazer algo e só azara o que não é evento dele e com todo descrédito
da mídia e de muitos (mal) ditos ‘fodões’ de nossa hipócrita Valença/RJ que
cansaram esse blogueiro que vos fala, cheio de dar murro em ponta de faca. Mas,
também, por isso que o blog “Diários de Solidões Coletivas” continua cuspindo
na corja toda. Por isso, essa elegia pessimista, muito escrota para o sorriso
banal, um tributo ao Drummond mais sombrio, uma declaração: eu já desisti dessa
vida, mas as palavras em mim não desistiram – por isso, permaneço aqui: mesmo eu
descrente da resistência, meus eus líricos me escravizam e me penalizam com a
manutenção do sonho da vida melhor que não mais acredito encontrar vivo, por
isso sobrevivo, minha poesia é maior que eu e por isso me escravizo a ela, por
mais que eu negue, por mais pessimista, Dom Quixote vive e amém.
Elegia 2014
Nenhum teto de vidro resiste
a uma pedrada bem dada
em sua matéria frágil,
mas, se há grades visíveis e invisíveis
que o protegem,
talvez a pedra não alcance o alvo
e, se o teto se mexe,
talvez atiremos pedras no vazio,
mas o mais difícil é entender
é que talvez o teto de vidro reaja,
talvez o teto de vidro esteja em mim
e em você.
Já fomos cães famintos
latindo pro mundo sem saber por quê;
hoje nos fazemos homens famintos
latimos conscientes, recebemos ossos de glórias,
mas o alimento de sobras não alimenta a alma
e, mesmo que a alma não exista, ela nos pergunta
por que a ceia não é rica pra todos os discípulos,
por que os traidores continuam na mesa,
por que continuamos famintos,
por quê?
Não adianta, amigo, atirarmos granadas sozinhos
em falidas manhattans,
se outras manhattans sombrias crescem no infinito
dos umbigos de outros amigos,
nos nossos próprios umbigos,
nos umbigos de quem finge estar com você.
O amor, a honra e a arte já morreram há tempos
e nos esperam em outro universo clandestino
e, sozinhos, só nos resta contar os corpos caídos
e, mesmo resistindo, esperar a nossa vez...
Toda essa luta perdida
só vale pelo sabor do esquisito,
pelo prazer de perder e manter-se invencível,
por ver os tetos de vidro romperem-se em sonhos
e, mesmo intactos, vê-los destruídos
nos olhos de quem lê você,
nos olhos de quem também perde sem perder.
- Toda essa luta perdida, amigo,
só vale se continuarmos a escrever!
Nossa!!Estou lendo esse grande desabafo e essa elegia no momento em que também me sinto assim...tão sem esperança,mas também ainda tenho as palavras que me forçam a acreditar que ainda haverá motivos para bradar!!!!!Lindo demais Carlos!!
ResponderExcluirPor certo compartilho desse sentimento, porém, insanamente acredito no poder das palavras. Às vezes até mesmo elas destroem, mas, paradoxalmente elas insistem, persistem, re-constroem realidades...
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