Ontem, no último capítulo da nem tão popular novela “Amor à
Vida”, de Walcyr Carrasco, um tabu foi quebrado na Rede Globo: após o beijo
lésbico numa novela do SBT, finalmente a Globo pôs no ar um beijo gay entre o ex-vilão
da novela, Félix, interpretado por Mateus Solano, e o popular personagem Niko,
interpretado por Thiago Fragoso. Ah, mas
como são os tempos modernos das trevas coloridas! Esse acontecimento do último episódio
da novela, cuja audiência foi bastante irregular, gerou defensores histéricos e inquisidores
escandalizados... e olha que foi só um beijo leve, um ‘semi-selinho’, e olha
que estamos nos anos 2014, e olha que todo mundo diz não ter preconceito e
ficou boquiaberto com esse final natural quando se trata de uma relação homo-afetiva
que há séculos tanto aflige os heterossexuais convictos, como se o amor dos
outros, dos considerados diferentes, devesse ser monitorado por eles; e olha
que você deve estar lendo isso e pensando: que blogueiro viadão. Ah, como somos
modernos, cabeças abertas, né, amigos leitores!
Este blog nunca foi muito dado (olha só que palavra gay
kkkk) a assuntos de novela (o que não quer dizer que eu também não me inspire
nelas; se faz parte do cotidiano, mesmo vindo de veículos de massa, faz parte
da minha poesia – “sou a soma de tudo que vejo e minha casa é um espelho”, como
diria a canção “Meu reino”, da banda de rock brasileira Biquíni Cavadão), mas o
beijo gay ganhou tanta repercussão e tanta crítica deformada (e, muitas vezes,
mal informada) que resolvi fazer mais um poema gay (e só posso rir ironicamente
para aqueles que ainda pensam que beijo gay deve ser dado por ator gay e que
poema gay deve ser escrito apenas por escritor gay – “o artista é um fingidor”, parafraseando Fernando Pessoa, e quem não
entende isso deve ter tentado apedrejar Mateus Solano quando este jogou um bebê
no lixo por causa de seu personagem). O poema é metrificado, possui versos
decassílabos, intencionalmente tradicional, pra quebrar de vez essa porra de
tabu que parece um chato em pênis e vaginas de heterossexuais chatos e, por
mais que se declarem puros, não passam de um bando de gente suja de preconceito
até na alma (rezo para que Deus perdoe os pecados de vocês, hipócritas do
inferno!). Sou grosseiro com os equilibristas dos comentários homofóbicos, mas
tentei ser doce no poema (resumindo, pedra pra quem atira pedra e carinho pra
quem distribui carinho).
Arte sempre e sempre sem homofobia, amigos leitores!
Canção para Niko
Que tal quebrarmos um tabu, querido?
Deixemos os preconceitos de lado,
A câmera bem próxima dos lábios,
Vamos sair juntos de trás do armário,
Então me beije na boca, baby,
Após um abraço aflito e apertado,
Antes gays felizes que seres frustrados,
Que tal desafiarmos o bolor
Contido nos velhos cantos escuros
Das quatro paredes da nossa casa?
Eu já fui o vilão dessa novela,
Já me redimi dos crimes mais vis,
Mas jamais teria final feliz
Se não tocasse ao menos de leve
Teus lábios ardentes de querubim;
Agora sim eu queimo meus pecados
Nas asas redentoras de teu beijo:
És anjo salvador, sonhado
amor,
Contra os pesadelos do velho mundo
Que suja de trevas o que é puro.
Mesmo se falássemos a língua
Da boa conduta e do facebook,
Se não nos revelássemos num beijo,
Todo nosso amor de que valeria?
Deixa que eles gritem lá fora, Niko,
Pois só quero teu silêncio mais lindo...
Fantástico poema...aplausos!!
ResponderExcluir...E tem gente que se esconde atrás do argumento de que "temos que proteger as nossas crianças desse tipo de coisa"...Proteger de um mundo que é diverso e onde cada um deveria ser dono de suas vontades? Melhor explicar para as crianças que o mundo só é interessante por causa da diversidade...
ResponderExcluirVamos pedir piedade,senhor piedade...pra essa gente careta e covarde!!!!!!viva ao amor!!!!
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