Olá, caros leitores, bem vindos ao blog daqueles que guardam um sorriso solitário no canto dos lábios que versam sonhos coletivos. Bem vindos ao meu universo virtual poético, bem vindos ao mundo confuso e fictício ferido de imortal realidade. Bem vindos ao inóspito ambiente dos eus líricos em busca de identidade na multidão indiferente, bem vindos ao admirável verso novo.
Outro grande evento do qual participei em 2013 foi a I Feira
Literária de Valença (FLIVA), iniciativa cultural, inédita e revolucionária
para Valença/RJ, organizada por Leonardo Pançardes. Durante o evento, tive o
prazer de conhecer diversos grandes escritores, entre eles, o Jardim, alter ego
de Sergio Almeida, premiadíssimo artista de Niterói/RJ, autor do fodástico
livro “Crônicas do amor impossível”.
O intercâmbio cultural foi tão bom que ele passou a fazer
parte do Sarau Solidões Coletivas: Jardim participou da apresentação na FLIVA
e, alguns meses depois, no sarau que fizemos no Almoço Beneficente da
Associação Valenciana de Proteção aos Animais (AVPA).
Entre os dois eventos citados, revi o artistamigo Jardim,
durante a festividade de premiação do Concurso de Poesias da ALAP, que
aconteceu na FALARJ, na Lapa, centro do Rio de Janeiro/RJ. Eu estava lá com
meus poetalunos da Escola Municipal Alcino Francisco da Silva, pois eles
receberam diversas premiações na Categoria Juvenil (os poemas deles já foram postados
aqui no blog no fim do ano passado) e Sergio Almeida/Jardim foi lá para
comemorar mais uma vitória lírica: ganhou Medalha de Ouro na Categoria Adulto.
Ao ouvir o fodástico poema de Jardim, pedi a ele que me enviasse o texto, para
que eu o postasse nas Solidões Compartilhadas do blog.
Com vocês, amigos leitores, o poema premiado de Jardim, em
verso e vídeo!
É isso aí, amigos leitores, o Sarau Solidões Coletivas está
oficialmente de volta (e o blog também, após um período de alta autoprocrastinação
rs). Retorno às postagens com os vídeos do Sarau Solidões Coletivas Especial “Só...
em tom grunge”, em tributo à banda valenciana de rock alternativo Sotton e ao
gênio ícone do grunge Kurt Cobain, o eterno líder suicida da fodástica banda
Nirvana.
Luana Cavalera
O sarau foi realizado durante o evento “Grade Cultural”, na
Praça da Bandeira, no centro de Valença/RJ, na noite chuvosa da sexta-feira,
17/01. Tinha tudo pra dar errado: choveu muito naquela noite; as bandas, que se
apresentariam após o sarau, cancelaram seus shows; a barraca de bebidas de um
dos principais patrocinadores preferiu não abrir por causa do mau tempo e pouco
público. Mas os artistamigos do Sarau Solidões Coletivas já estavam lá
(inclusive alguns que vieram de outra cidade, como a poetamiga Raquel Leal),
todos dispostos a se apresentarem; João Júnior, um dos organizadores do Projeto
Grade Cultural, conversou com o técnico de som Rogerinho e eles toparam apoiar a
loucura lírica e não viram problemas em viabilizar a realização do sarau,
apesar de todos os pesares. Pra galera do Sarau Solidões Coletivas não existe
tempo ruim: com chuva ou noite estrelada, sempre nos apresentamos,
independentemente de mudanças climáticas (acho que nem terremoto nos abala rs),
com ou sem público (claro que, com público, é muito mais fodástico, mas já
temos experiência de fazermos saraus lotados num mês e outros desertos no mês
seguinte) e até que o público estava em quantidade satisfatória (se lembrarmos
que choveu pra caralho e que há a lenda de que grande parcela dos valencianos é
feita de açúcar, o público – mesmo pequeno – foi guerreiro!) e bastante
animado.
Wagner Monteiro
Enfim, o Sarau Solidões Coletivas Especial “Só... em tom
grunge” foi fodástico demais, como vocês podem conferir nos dois vídeos abaixo.
Curiosidade: foi o primeiro sarau que realizamos sem violão
(devido à chuva, a artistamiga Karina Silva não pôde pegar seu instrumento e o
guitarrista da banda homenageada Sotton não se sensibilizou com nossos pedidos
para que tocasse “Come as you are”, enquanto declamávamos – chateado com o
cancelamento do show, possivelmente preferiu partir para casa e não estrear no
sarau) e esse fato novo gerou releituras na interpretação de alguns poemas,
acompanhados pelas bases eletrônicas trazidas pelo rappper Paulo Roberto Gonçalves
e Davi Barros, ambos integrantes do projeto Coletivassom.
Karina Silva
Valeu a força, amigos leitores e seguidores do blog e do
sarau! Arte Sempre!
Valença, anos iniciais da década de 1990. A MTV Brasil por
um breve período pegou como canal aberto, clipes e mais clipes iluminavam a
televisão desacostumada com tantos ritmos e imagens. O rock Brasil de 1980 –
que eu tanto amava – começava a se perder no mais do mesmo: após o álbum noise “Tudo
ao mesmo tempo agora”, Arnaldo Antunes saía dos Titãs deixando-a com a lacuna
da poesia neoconcreta que o ex-integrante imprimia no som da banda paulista; a
Legião Urbana tentava dar a volta por cima, descobrindo o Brasil, após a fase
extremamente melancólica do quinto álbum; o Capital Inicial fazia a rota “Kamikaze”
em busca de “Eletricidade”, mas o vocalista Dinho já indicava anseios de novos
rumos (mais tarde, ele deixaria a banda e nem o Capital nem o Dinho se
destacariam por um tempo); o Ultraje a Rigor e o Ira! tentavam manter o fôlego,
o rock gaúcho persistia, mas quase nada de novo e/ou renovador surgia com
destaque na mídia (só o manguebeat, liderado por Chico Science, com o tempo, tiraria
do ócio criativo a nossa música brasileira). E o rock internacional rastejava
entre velhos nomes, extremamente ofuscado pela axé music, o sertanejo e o
pagode, nas rádios nacionais (no caso, a Rádio Alternativa Sul FM, que
bloqueava o sinal de todas as outras FMs e censurava canções do rock 80, como “Bichinhos
Escrotos”, etc). De repente, “Smells Like Teen Spirit”, Nirvana, revolta
niilista, grunge, uau... que porra é essa? Uma nova expectativa com
pouquíssimas expectativas, a desesperança com muita energia, ironia e lirismo;
um som pra desabafar e desabar os (e com os) quadros estáticos de uma década
que perdera, no final da década anterior, um muro visível em Berlim e ganhara
outros mil muros invisíveis de desigualdade entre as pessoas do mundo. A
agitação desesperançada de Nirvana parecia um remédio para cada concreto
secreto que a nova era socava no sonho da juventude perdida ao buscar as
alturas dos sonhos nas escadas sem degraus da década de 1990 (muita liberdade e
nenhuma opinião, culto às múltiplas vontades sem nenhuma opção). E a revolta
contra esse nada implantado como se fosse tudo vinha do lirismo ácido e da voz
rouca do louco líder da banda Nirvana, Kurt Cobain. Mas Kurt nunca admirou ser
admirado, atirou versos profundos e furiosos contra o mundo, mas seu potencial
lírico e destruidor não só derrubou convenções; com a ajuda das drogas e de uma
consciência implacável de que a chama do efêmero apagava tudo aos poucos, Kurt
derrubou Kurt e seu suicídio, sua morte permaneceria viva na cabeça de todo
jovem perdido da década de 1990. Não havia mais comprimidos para os tímpanos,
não havia mais fuga pra todo vazio, Kurt Cobain estava morto e a falta de sonhos
novos novamente nos acordou. Desde então, essa insônia dos fins da década de
1990 até essas trevas coloridas das décadas seguintes, cheias de sorrisos
cretinos, preocupações histéricas, conselhos enfadonhos e filosofia barata –
ninguém mais cuspiu nas câmeras da Globo com tanta espontaneidade, ninguém mais
inventou mil infâncias falsas com o mesmo sorriso triste e entediado, ninguém
mais soube expressar a desesperança com tanto brilho louco no olhar.
Esta postagem de hoje é para Kurt Cobain e faz parte do
tributo que o Sarau Solidões Coletivas fará a ele e à banda grunge valenciana
Sotton, no evento “Grade Cultural”, nesta sexta-feira, dia 17 de janeiro, às
19h, na Praça da Bandeira, no centro de Valença/RJ.
Janeiro é mês de férias e também de retrospectiva do ano
anterior. Hoje lembro-me da primeira vez que ouvi o mais-que-fodástico CD
“Réquiem for the rockets”, da banda de blues rock Motocircus, de São José do
Rio Preto/SP (deixo aqui alguns links pra que também conheçam essa fodástica banda
– a página deles no facebook: https://www.facebook.com/pages/MOTOCIRCUS/280892265261552?fref=ts e no site “Toque no Brasil”: http://tnb.art.br/rede/motocircus ): já passava do
meio do mês de agosto de 2013, quando comprei essa preciosidade musical das
mãos do baixista da banda (e também fodástico cartunista e desenhista) Alex
Sander, durante a abertura da 40.ª Edição do Salão Internacional de Humor de
Piracicaba/SP – eu tinha sido classificado no concurso nacional de microcontos
da cidade e aproveitei pra conhecer o mais famoso e tradicional evento de lá;
adquiri o CD citado, algumas revistas em quadrinhos fodásticas de Alex Sander (que
me inspiraram a criar novos poemas, já publicados aqui no blog, em postagens do
ano passado) e de outros desenhistas e cartunistas e colecionei diversas
caricaturas minhas feitas por expositores do Salão e voltei para
Teresópolis/RJ, com a alma radiante e lotado de trabalho, pois precisava
compensar na escola os dias que viajei.
Consequentemente, devido a alta carga de trabalho, fiquei
com o CD da banda Motocircus por alguns dias em estado de inércia, sem ao menos
tirá-lo da mochila. Numa tarde nublada (uma das poucas tardes na qual não
trabalhei e dei folga pra mim mesmo nas correções de atividades em casa), após
uma manhã cansativa (daquelas que parecem que nada deu certo), resolvi finalmente
retirar o CD “Réquiem for the rockets” da mochila e ouvi-lo: putz! um blues
rock potente invadiu o quarto, a tarde nublada parecia aos poucos permitir a
aparição do raro sol e todas as dores de um dia ruim pareciam passar num piscar
de sons. Yeah, vontade de pular, agitar, apagar os momentos ruins e me renovar.
Ouvi o CD três vezes seguidas bem alto, para delírio ou horror (para os
admiradores de outros estilos, boa música pode ser um pesadelo rs) dos
vizinhos.
Com o tempo, além de Alex Sander, que conheci pessoalmente,
fiz amizade virtual, através do facebook, com outro fodástico músico da banda,
Kaio Páttero (voz, guitarra e violão), e lhe prometi, antes do fim de 2013, uma
resenha sobre o mais-que-fodástico CD “Réquiem for the rockets” (quem acompanha
esse blog, sabe que o que tudo que admiro e que me contagia vira conteúdo
essencial de releitura ou homenagem lírica produzida pelo
blogueiro-professor-poeta-pateta que vos escreve). Devido à intensidade de
eventos artísticos e trabalhos como professor, o texto que prometi a Kaio
Páttero ficou tocando em minha cabeça, mas só no finzinho de dezembro consegui
parar para escrevê-lo e assim cumprir minha promessa em parte, pois, depois de
muito tempo com o texto dançando em minha cabeça, a tal resenha virou um gênero
textual híbrido, misto de resenha, prosa poética, conto e crônica (quem
acompanha esse blog, também sabe que este artista louco que vos escreve,
fã-nático por Kafka, rockpoema e Dom Quixote, adora misturar gêneros textuais).
O resultado está aí embaixo, junto com alguns vídeos da
banda Motocircus, pra ler, ouvir, pular, sonhar e liricamente enlouquecer,
amigos leitores!
No tempo de um “Requiem for the rockets”
Você chegou cansada em casa,
baby, a casa está tão bagunçada quanto você. Há algo nublado demais no tempo,
talvez aquela nuvem negra no céu seja algum sonho seu que se perdeu na
juventude. Seu corpo cai preguiçosamente sobre a cama, há pouca vida em seus
movimentos. Suas mãos rastejam sobre a pilha de CDs, próximas a sua cama; você
procura algo que não encontra há tempos. Um dos CDs se destaca em sua procura,
você o retira da pilha: “Requiem for the rockets”, da banda Motocircus. Na
capa, diversas caveiras sob uma névoa de notas musicais – uma daquelas caveiras
podia ser você, baby, talvez elas também estejam fugindo da falência da vida
como você. Num esforço descomunal contra o corpo encharcado de preguiça e
rotina, você se levanta, coloca o CD no aparelho, liga o som no volume máximo
e, antes que retorne pra cama, um fodástico blues rock atira-se contra sua
inércia, baby: “Listen to the sound now baby / Scream and drive me crazy / And
stand up stand up” E você grita e você fica louca e o céu lá fora perde aquela
nuvem negra e o sol retorna com brilhos de guitarra e, a cada faixa, você voa
cada vez mais alto pelo rock’n roll, baby! Shakalaka Boom e Lord Jim abre as
portas de sua percepção, beija sua face e lhe diz: você está viva, você nunca
esteve tão viva, baby! Sua querida mãe,
outrora tão distante, seu coração exposto, as noites passadas em shows de rock,
todas as sensações que você pensava estarem esquecidas dançam do seu lado, baby,
você nasceu pra se mover, pra pular, pra viver, no ritmo do “Requiem for the
rockets”, que você agora ouve sem parar, pela continuidade da liberdade e de
algo mais que jamais se acabará. Não, baby, o sonho jamais acabou; basta
manter-se de pé e colocar o CD da banda Motorcircus pra tocar mais uma vez.
Adriano Gonçalves
e a amiga Luiziana
(foto escolhida e
gentilmente cedida
por Ana Maria Gonçalves,
mãe do artistamigo)
Hoje faz 1 ano desde que Ju e eu recebemos a notícia da
morte do artistamigo Adriano Gonçalves, músico, artesão e compositor de Nova
Iguaçu/RJ, que influenciou tantos artistas valencianos (como os músicos José
Ricardo Maia, Fael Campos, entre outros) com sua arte vibrante. Como sua
partida foi um tanto inexplicável (para a surpresa de todos os seus amigos e
familiares, ele escolheu o momento de sua morte), hoje posto a sua letra de
música “Inexplicavelmente”, já gravada em vídeo por Fael Campos & Zé
Ricardo e diversas vezes tocada por esses fodásticos músicos amigos. Também deixo a versão dub da música, postada por Charada Andrade, da banda Dezabutinados, da qual Adriano fez parte.
Fael Campos, músico e amigo
de Adriano Gonçalves
Em tempo: Em sua participação na Grade Cultural, na noite do
dia 10 de janeiro de 2014, Fael Campos promete tocar, além de canções de sua
autoria, diversas composições de Adriano Gonçalves, em tributo ao artistamigo
falecido, mas nunca esquecido.
Faço também um agradecimento especial à mãe de Adriano
Gonçalves, Ana Maria Gonçalves, que gentilmente me cedeu a foto acima, onde o
fodástico artistamigo, acompanhado da amiga Luiziana Maia, traz um daqueles
sorrisos que conquistaram vários artistamigos – que nos lembremos dele assim,
sorrindo, para a tristeza de sua ausência seja menos dolorida, apesar de
impossível de ser esquecida.
Arte Sempre, amigos leitores. Mesmo nos minutos de silêncio
e de pesar, a poesia continua nos sorrindo sempre, mesmo que não saibamos
explicar pra nós mesmos o porquê, mesmo sem sabermos o porquê...